“Redescoberta” há cerca de 10 anos, quando passou a ser ocupada de forma mais ostensiva por bares e restaurantes, a rua Sapucaí, no bairro Floresta, tem dado um novo passo para se firmar como um dos principais pontos turísticos de BH. A reforma, que vai transformar a rua em um espaço unicamente de lazer, sem circulação de veículos, com balanços e área gramada, tem sido vista pelos empresários como importante para valorizar o local. No entanto, como não poderia deixar de ser, a circulação de pessoas diminuiu e, entre buracos e tapumes, os comerciantes têm adotado estratégias para reduzir danos ou, em alguns casos, até mesmo expandir os negócios.
É o caso do empresário Alfredo Lanna, proprietário do Botequim Sapucaí, localizado no primeiro quarteirão, entre a avenida Assis Chateaubriand e a rua Tabaiares. Ele viu o movimento cair cerca de 80% com o início das obras, no dia 3 de junho, e decidiu fechar temporariamente o espaço. Para continuar faturando, inaugurou o Tabaiares, bar que leva o mesmo nome da rua em que está instalado - perpendicular à Sapucaí.
“Planejamos esse movimento desde que a reforma foi anunciada. A ideia é voltar com o Botequim Sapucaí assim que as obras forem concluídas no quarteirão. Mas, não vamos fechar a outra casa. O Tabaiares vai servir mais como empório e, talvez, abrigar uma galeria de arte. O novo empreendimento veio para somar na estratégia de expansão”, explica.
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, a finalização das obras no primeiro quarteirão está prevista para outubro. As obras no segundo quarteirão (entre rua Tabaiares e rua Tapuias) e no terceiro quarteirão (entre Tapuias e Francisco Sales) já foram iniciadas e a previsão de conclusão total é para o primeiro semestre de 2025. A reforma é orçada em R$ 4,65 milhões.
Alfredo também é proprietário da pizzaria Panorama, no primeiro quarteirão, mas afirma que o espaço não precisou ser fechado. Por estar localizado no andar de cima do edifício, acabou escapando do “poeirão” e seguiu suas operações normalmente. A novidade é que a pizzaria passará por uma expansão e, em breve, ocupará também o espaço onde funcionava a Salumeria Central - fechado em agosto. Na porta ao lado, o empresário também vai inaugurar, ainda em setembro, uma gelateria italiana batizada de Zeferino.
“Investimos cerca de R$ 1 milhão ao todo nesse processo de reforma e expansão. Estamos bastante animados. A rua Sapucaí tem um potencial turístico enorme e enxergo que esse transtorno, que é calculado, valerá a pena. Meu único receio no início era de que as obras pudessem atrasar, ampliando os danos. Mas, os prazos têm sido cumpridos e o diálogo com a prefeitura tem sido efetivo”, garante.
Quem também espera ansioso pela conclusão da primeira etapa das obras é Adair Egídio, proprietário do Mi Corazón - instalado no primeiro quarteirão da Sapucaí há sete anos. Por causa dos transtornos, ele conta que decidiu fechar as portas durante boa parte da semana e funcionar somente aos sábados, registrando um faturamento 60% menor em comparação aos sábados antes da reforma.
“Apesar disso, sou um cara otimista e acredito que as obras vão trazer benefícios. Um dos principais, na minha visão, é o fato de que não haverá mais trânsito de automóveis. Isso aumenta a segurança e diminui o perigo para os visitantes. O grande charme da rua é aproveitar a vista da mureta e os carros atrapalham um pouco isso”, diz.
“Longe” das obras, perto dos prejuízos
Não são apenas os empresários dos quarteirões em obras que estão sofrendo com baixo movimento e prejuízos. Sócia do Laicos, bar que fica próximo à avenida do Contorno, a empresária Gizelle Pires afirma que precisou reduzir custos e diminuir funcionários desde que a reforma começou - mesmo que as obras não estejam ocorrendo especificamente no quarteirão onde o bar está localizado.
“Sofremos uma redução de 36% no faturamento no primeiro mês das obras. Muita gente nem sabe que estamos abertos, as pessoas pensam que todos os bares fecharam com a reforma, o que não é verdade. Estamos fazendo ações com influenciadores e eventos fechados para tentar atrair mais público. Porém, acho que só voltaremos ao normal depois que tudo estiver concluído”, aponta.
Ela também afirma que as pessoas têm ficado com mais medo de passar pela rua e acabar sendo assaltadas. “O movimento reduzido e a instalação dos tapumes favoreceram a criminalidade. Já pedimos reforço policial para as autoridades competentes, mas até agora não fomos atendidos. A integridade física é uma grande prioridade, até mais do que a questão financeira”, garante.
Em nota, a PBH afirma que “durante as obras, a equipe em campo também mantém o diálogo com os comerciantes” e que “a Guarda Municipal trabalha de maneira integrada com as demais forças de segurança, como a Polícia Militar e a Polícia Civil, contribuindo para a proteção da população e a manutenção da ordem pública”.
Reflexos no entorno
Com as obras na rua Sapucaí, poderia-se esperar que os bares do entorno seriam beneficiados ao absorver essa demanda de clientes carentes por um “rolê” no Centro. Pelo menos era essa a expectativa, frustrada, do empresário André Oliveira, sócio do Baixaria e do Bololô - ambos no Edifício Central, próximo à Praça da Estação.
“Toda a nossa estratégia foi pensada para aproveitar essa circulação da Sapucaí. Escolhemos um bar voltado para a rua, com uma iluminação chamativa. Mas, as obras acabaram prejudicando”, aponta.
André também afirma que as obras na Praça da Estação pioram ainda mais o cenário, uma vez que as pessoas evitam circular na região em busca de lazer. “As obras nas praças impediram ainda a realização do Carnaval, da Virada Cultural e do Arraial de Belô - eventos que também trariam muito público para o local e que poderiam movimentar os bares do entorno”, aponta.
De acordo com a PBH, foram investidos R$ 8,1 milhões na reforma da Praça da Estação e a obra teve início na 2ª quinzena de outubro de 2023. A previsão de término é para o 2º semestre de 2024.