Qualidade do ar insalubre, umidade relativa do ar menor do que a do deserto do Saara e uma das piores qualidades do ar do mundo. Estes são alguns dos termos que pipocaram na imprensa nas últimas semanas para descrever o calor combinado a tempo seco de Belo Horizonte. Para aliviar a sensação, a demanda por ar-condicionados, umidificadores e ventiladores disparou e, em alguns casos, desafia os estoques.
Na rede de drogarias Araujo, a procura por umidificadores aumentou 75% de maio a agosto deste ano em comparação ao mesmo período de 2023. Com estoques reduzidos, a empresa diz estar em busca de novas marcas para garantir o abastecimento.
Nas lojas Americanas, que têm cerca de 1.600 lojas espalhadas pelo Brasil, a venda de ventiladores cresceu 51% ao longo de agosto em relação ao mesmo mês do ano anterior. “Especificamente em Belo Horizonte, a Americanas da rua São Paulo registrou um crescimento de mais de cinco vezes na venda de ventiladores, considerando o mesmo período”, detalha a empresa.
O cenário é parecido na Shopee. As pesquisas por umidificador aumentaram 80% e, por ventilador, dobraram — números acima do restante do país, segundo a plataforma. Ainda maior foi a busca por ar-condicionados, que cresceu quatro vezes.
A corrida pelos aparelhos pode aliviar a baixa umidade e o calor. Mas, sem cuidados, levar a prejuízos ao bolso e a saúde. Confira abaixo algumas dicas para utilizá-los com consciência.
Como utilizar o ar-condicionado sem prejudicar a conta de luz
A conta de luz entrou na bandeira vermelha em setembro, portanto o consumidor pode esperar um boleto mais alto neste mês. Na hora de comprar o aparelho, selos de eficiência energética, como o do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel). ajudam a identificar os modelos que economizam mais. A etiqueta do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que vai de F (menos eficiente) a A (mais), também é um guia.
Os aparelhos com tecnologia recente de inversão (esfria e esquenta) consomem até 70% menos eletricidade do que os mais antigos. Outro fator a se considerar é a potência do aparelho, que deve ser adequada à área, ao desenho do cômodo, à exposição à luminosidade e ao número de pessoas e de aparelhos eletrônicos.
Para um quarto pequeno, de 9 m², por exemplo, um aparelho de 7.000 a 7.500 BTUs (unidade térmica de referência nos aparelhos) basta, segundo norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
A Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) recomenda usar como base a medida de 600 BTUs por metro quadrado. Quando o ambiente tem mais de duas pessoas, devem ser somados 600 BTUs para cada pessoa adicional. Se o ambiente tem exposição ao sol, mais 800. Após a conta, o consumidor deve escolher o aparelho de potência imediatamente superior, de acordo com o diretor da associação, Toríbio Rolon.
Os moradores podem, ainda, instalar cortinas grossas para evitar a exposição direta à luz solar ou desligar aparelhos não utilizados, o que diminui a exigência de consumo do ar-condicionado. Vale também o cuidado com a saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica manter a temperatura entre 22 ºC e 25 ºC, como referência de conforto térmico para o maior número de pessoas.
O jeito correto de utilizar o umidificador
A pneumologista e coordenadora do Ambulatório de Asma da Santa Casa BH Michelle Andreata explica que um dos principais pontos de atenção no uso do umidificador é quanto ao tempo que o aparelho fica ligado. Isso porque o excesso de umidade pode comprometer o ambiente e propiciar o surgimento de fungos e bactérias.
“Existem vários tipos de umidificador no mercado. Em alguns, a pessoa consegue colocar o tempo que deseja. Se o dispositivo ficar acionado por até duas horas, não haverá problemas. Agora se o aparelho ficar ativo continuamente, isso pode ser prejudicial principalmente por causa do depósito líquido, que acaba acumulando fungos. Por isso, é importante fazer ciclos para não sobrecarregar a umidificação do ar,” destaca a médica.
Outra questão apontada pela especialista é com relação a higiene do dispositivo. Os filtros precisam ser trocados, e a durabilidade deles deve ser conferida de acordo com a especificação do fabricante. “Também é muito importante lembrar de limpar os aparelhos por dentro. É que a água que se coloca neles, que normalmente é da torneira, não tem filtragem muito adequada, pode propiciar o crescimento de bactérias e fungos e deixar as pessoas doentes”.
A médica ainda acrescenta que a distância mínima recomendada para se colocar o umidificador é de 1 m de distância. “As pessoas não podem ficar próximas à vaporização da água. Aquele negócio de deixar o umidificador na beira da cama e dormir com ele ligado é totalmente contraindicado. Vale lembrar que o spray nasal, o que tem soro fisiológico em sua fórmula, também é indicado para a umidificação das vias aéreas”, finaliza.
(Com Nubya Oliveira e Folhapress)