Com a autorização para captar R$ 12 bilhões com cinco bancos, os Correios agora se preparam para colocar em prática o plano de reestruturação financeira. Serão aplicados R$ 10 bilhões ainda em 2025 e o restante já em janeiro de 2026. Os detalhes do plano foram divulgados pelo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (29/12), em Brasília (DF).

O empréstimo de R$ 12 bilhões para os Correios foi viabilizado em uma operação com cinco bancos e a garantia da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), vinculado ao Ministério da Fazenda. O Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Bradesco entraram com R$ 3 bilhões cada, enquanto os bancos Santander e Itaú participaram com R$ 1,5 bilhão cada. A estatal terá 15 anos para o pagamento do empréstimo, que será realizado em prestações mensais após três anos de carência.

A empresa acredita que a implementação do plano de reestruturação fará a captação de crédito no mercado evoluir para os R$ 20 bilhões inicialmente pretendidos no futuro. Além do empréstimo, os Correios vão implementar uma redução de despesas que alcançará R$ 4,2 bilhões ao ano, devido, entre outras medidas, a redução de 18% do quadro de funcionários e o redesenho da malha logística - o que inclui o fechamento de 20% das agências.

O executivo afirmou que o empréstimo permitirá à empresa recuperar a adimplência dos contratos com fornecedores, dos benefícios dos empregados e com o Fisco, além de recuperar a qualidade da operação e reconquistar a confiança do mercado. A empresa contratou uma consultoria externa para avaliar a reestruturação e não descarta um rearranjo societário, ainda que descarte uma privatização, mas está aberta para oportunidades em economia mista.

Apesar do vultoso empréstimo, Rondon afirmou que o plano de reestruturação foi concebido para uma necessidade de captação de R$ 20 bilhões, crédito que os Correios tentaram captar inicialmente em duas rodadas de negociações com bancos, mas não conseguiram devido ao custo elevado. Ele não descartou a utilização de recursos públicos do Tesouro no futuro.

“Permanece a necessidade de R$ 8 bilhões. O que o contrato traz é que a gente vai fazer o cumprimento, e aí o contrato de garantia que acaba envolvendo o Tesouro e a PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional), que vai ser feito o apoio à companhia dentro da necessidade de captação dela. Essa necessidade vai ser vista ao longo do ano de 2026 para ver se a melhor opção é aporte ou outra operação de crédito, como é que a gente faz a composição, não está definido ainda”, explicou.

Fases do plano têm demissões, revisão de benefícios, vendas de imóveis e fechamento de unidades

O plano dos Correios começa a ser implementado em três fases com início em janeiro do próximo ano. A primeira fase do plano de reestruturação dos Correios é a recuperação do caixa, prevista para durar três meses.

Depois, será uma fase de reorganização e modernização, mas ainda sem uma mudança estrutural do modelo de negócios, com promessa de impacto relevante já em 2027. Por fim, a terceira fase é a preparação da companhia em um novo modelo de negócios para sustentabilidade no médio e longo prazo.

Entre as medidas, estão projetadas a demissão de 10 mil empregados por meio do Programa de Demissão Voluntária (PDV) em 2026 e outros 5 mil em 2027; a revisão do plano de saúde e de previdência dos funcionários; e a revisão de cargos de média e alta remuneração. A economia anual com somente essas medidas é estimada em R$ 2,1 bilhões a partir de 2027.

O presidente dos Correios afirmou ainda que a estatal tem acelerado as parcerias com o setor privado, sendo 11 ao todo, para que a empresa consiga implementar as parcerias mais relevantes já no próximo ano e impactar o caixa positivamente em R$ 1,7 bilhão em 2027.

Além disso, os Correios pretendem levantar R$ 1,5 bilhão em 2026 com a venda de imóveis e R$ 2,1 bilhões por ano ao redesenhar sua malha logística, com o fechamento de mil unidades consideradas deficitárias ou que fazem uma “sombra” no atendimento de outras unidades. Atualmente, a empresa tem cerca de cinco mil agências.

Participação de mercado despencou e prejuízo pode chegar a R$ 23 bi em 2026

O presidente dos Correios detalhou que 90% das despesas da estatal são fixas, o que gera uma rigidez para a empresa fazer uma correção de rota a depender das dinâmicas do mercado. Somente a despesa com pessoal representa 62% das despesas totais dos Correios. Se considerar os precatórios trabalhistas, o percentual sobe para cerca de 72%.

Ele apontou que a empresa tem uma defasagem tecnológica, com investimentos historicamente abaixo do necessário para se manter atualizada. Os aportes ao longo do tempo foram focados basicamente na reposição de veículos ou maquinário que precisa ser reposto devido a vida útil dos equipamentos.

“Isso tudo gera uma perda de competitividade dentro do setor de encomendas, que é hoje o setor mais relevante do ponto de vista de geração de receita. O market share (participação de mercado) da gente caiu de 51% para 22% desde 2019, então foi um período muito curto de tempo”, disse Rondon.

O presidente dos Correios explicou o efeito em cadeia da crise financeira da empresa. Com uma insuficiência de caixa, a estatal não consegue honrar os compromissos, o que faz a operação perder qualidade e, consequentemente, perder clientes. A perda da clientela retroalimenta a insuficiência de caixa dos Correios.

“O que a gente projeta num cenário de estresse é que se nenhuma correção for feita para quebrar esse ciclo aqui, o resultado negativo fica potencializado, podendo chegar a R$ 23 bilhões em 2026. Por isso a correção de rota precisa ser feita de forma rápida”, declarou.