Apesar dos bons indicadores econômicos no Brasil, como a baixa taxa de desemprego e a redução na inflação, as vendas de Natal não tiveram o desempenho esperado pelos lojistas de Belo Horizonte. De acordo com sondagem realizada pelo Sindilojas/BH (sindicato patronal dos comerciários da capital mineira), as vendas relativas ao feriado tiveram uma queda real de 7,96%, em relação ao faturado no ano passado.
Entre os empresários ouvidos, quase 67% disseram que tiveram queda no desempenho em relação ao Natal anterior. Já 25% relataram aumento nas vendas e mais de 8% disseram ter tido uma estabilidade no volume de vendas.
Por meio de nota, o Sindilojas/BH aponta como maior possível vilão para isso o crescente interesse dos brasileiros por apostas e cassinos online - além de outros elementos econômicos, como os juros altos e o endividamento das famílias.
“Estimativas indicam que o volume movimentado pelo setor em 2025 varia entre R$ 270 bilhões e R$ 320 bilhões, montante comparável ao faturamento de todo o setor de alimentação fora do lar no Brasil, que emprega milhões de trabalhadores. Pesquisas apontam que a expansão das apostas tem provocado realocação do orçamento familiar, com redução de gastos em itens essenciais e discricionários, como vestuário, alimentação, serviços e lazer, segmentos fundamentais para a dinâmica do comércio varejista”, afirma a entidade por meio de loja. Por isso, a entidade defende a realização de revisões regulatórias, legais e tributárias em relação às apostas online.
Confira a nota do Sindilojas/BH na íntegra:
“O Sindilojas/BH avalia que os dados consolidados de 2025 confirmam um desempenho real negativo do varejo e do consumo, apesar de indicadores macroeconômicos que, à primeira vista, poderiam sugerir um cenário mais favorável. A maior parte dos segmentos do comércio representados pela entidade registrou crescimento inferior à inflação, caracterizando perda real de faturamento. Destaca-se que o sindicato não representa os setores de supermercados e farmácias, que tiveram desempenho positivo no período.
Exceções pontuais entre os segmentos acompanhados foram observadas em áreas como saúde, beleza, bem-estar e, principalmente, no e-commerce, que ampliou de forma significativa sua participação nas vendas totais do varejo. Nem mesmo os períodos tradicionalmente mais fortes, como Black Friday e Natal, foram capazes de reverter o fraco desempenho observado ao longo do ano. Indicadores de tráfego e volume de vendas mostram que o consumo permaneceu contido, refletindo um ambiente de elevada cautela por parte das famílias.
O Sindilojas/BH destaca o paradoxo econômico, vivido pelo País: ao mesmo tempo em que há melhora nos indicadores de emprego e crescimento da massa salarial real, o consumo e o varejo seguem apresentando resultados insatisfatórios. Fatores como juros elevados, crédito restrito, endividamento das famílias, inadimplência e inflação persistente, especialmente nos alimentos, continuam pressionando o orçamento do consumidor.
Em consonância com os resultados da sondagem realizada pelo Sindilojas/BH, a entidade utilizou como referência analítica dados e reflexões apresentados no artigo de Marcos Gouvêa de Souza, que contribuem para a compreensão das causas estruturais que ajudam a explicar o fraco desempenho do varejo, mesmo em um contexto de indicadores macroeconômicos aparentemente favoráveis.
Além desses fatores tradicionais, o sindicato chama atenção para um elemento estrutural emergente: a expansão acelerada do mercado de apostas online (bet’s). Estimativas indicam que o volume movimentado pelo setor em 2025 varia entre R$ 270 bilhões e R$ 320 bilhões, montante comparável ao faturamento de todo o setor de alimentação fora do lar no Brasil, que emprega milhões de trabalhadores.
Pesquisas apontam que a expansão das apostas tem provocado realocação do orçamento familiar, com redução de gastos em itens essenciais e discricionários, como vestuário, alimentação, serviços e lazer, segmentos fundamentais para a dinâmica do comércio varejista. O Sindilojas/BH ressalta, ainda, a assimetria tributária e regulatória do setor de apostas, cuja tributação permanece inferior à de outros segmentos econômicos, mesmo após a recente decisão de elevação gradual das alíquotas.
Soma-se a isso o crescente poder de influência econômica e política do setor. Diante desse cenário, o Sindilojas/BH considera urgente a abertura de um debate amplo e responsável sobre os impactos das apostas online na economia real, no consumo das famílias e na sustentabilidade do comércio varejista e dos serviços pessoais.
A entidade reforça a necessidade de revisões regulatórias, legais e tributárias, bem como de políticas públicas que fortaleçam o comércio, preservem a renda das famílias e promovam um ambiente econômico mais equilibrado, capaz de estimular o consumo produtivo, a geração de empregos e o desenvolvimento sustentável”.