Peça importante do “jogo econômico”, o combustível é um dos itens que causam um efeito dominó quando passam por alta nos preços. Seu aumento impacta diretamente no valor final de outros produtos e serviços, como o transporte escolar, setor que está em alerta diante do diesel mais caro desde o último sábado (1º/2). O combustível ficou mais caro por causa do aumento da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), aprovado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), e acumulou um segundo aumento da Petrobrás. 

O aumento do combustível coincide com a semana de volta às aulas em Belo Horizonte e, de acordo com Carlos Eduardo Campos, presidente do Sindicato dos Transportadores de Escolares da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Sintesc), a alta no preço impacta diretamente o setor - uma vez que o preço do combustível representa cerca de 30% dos custos para esses profissionais. Na capital mineira, de acordo com dados da PBH, existem atualmente 1.599 permissões e autorizações ativas cadastradas para o serviço.

“Além da questão de repassar o aumento para os clientes, o que nem sempre é possível fazer de maneira integral, também temos a questão do custo de vida. O preço dos alimentos e de outros itens sobem, fazendo com que muitas pessoas optem por colocar os filhos no transporte público, principalmente quando são mais velhos e independentes. Há um risco de perdemos clientes nesse movimento”, analisa. 

Conforme a decisão do Confaz em outubro do ano passado, a alíquota de ICMS sobre a gasolina passou de R$ 1,37 para cerca de R$ 1,47 por litro - um salto de 7,14%. Já para diesel e biodiesel, o tributo subiu de R$ 1,06 para R$ 1,12 por litro - um crescimento de 5,31%. Com o anúncio da Petrobras , o diesel ainda sobe mais R$ 0,22 por litro. No entanto, um levantamento do site de pesquisa Mercado Mineiro, divulgado nessa segunda-feira (20/01), revelou que há postos que subiram em até R$ 0,50 o litro do diesel.

No ramo há quase duas décadas, a motorista Alexsandra Marques Silva lamenta que, neste ano, já havia feito um “pequeno reajuste” no preço das mensalidades antes de saber do aumento no preço do diesel. Com a impossibilidade de repassar o custo para os clientes atuais, ela afirma que terá que cobrar um pouco mais caro dos contratantes que chegarem a partir de agora. “A estimativa é que meu gasto semanal com combustível salte de R$ 670 para R$ 780”, calcula. 

Para ela, o aumento no preço dos combustíveis é um desafio a mais no setor, que já precisa lidar com os custos de peças, manutenção e impostos. “Para arcar com os gastos e ter lucro, minha mensalidade precisaria ser de R$ 500. Mas, tenho uma clientela que tem filhos em escola pública e consegue pagar no máximo entre R$ 250 e R$ 280. O jeito é economizar em outras coisas. Eu mesma faço o embarque e desembarque dos alunos e dispensei a profissional que fazia isso”, relata. 

Ainda no assunto do transporte público, o presidente do Sintesc também critica o subsídio oferecido pela PBH ao setor, argumentando que isso dificulta a concorrência justa. Segundo ele, os profissionais do transporte escolar também deveriam ter direito ao benefício para ganharem “um respiro” em meio a tantos custos. “É desleal. O transporte público não precisa repassar todos os custos, pois tem um subsídio cobrindo parte dos gastos. Já o nosso setor não pode contar com isso”, afirma Campos. 

A PBH informa que destinou quase R$ 705 milhões para o pagamento do subsídio às empresas de ônibus da capital no Orçamento de 2025. A administração municipal aponta ainda que, até o momento, não há previsão de subsídio para o transporte escolar. 

O presidente do Sintesc aponta que o momento é de bom senso e jogo de cintura com os pais. “Os profissionais precisam negociar caso a caso. Há clientes que nem vão sentir o impacto caso a parcela do transporte aumente. Enquanto isso, aqueles com menor poder aquisitivo vão precisar que o aumento não seja repassado totalmente ou condições melhores de pagamento. As duas partes são interessadas, o segredo é conversar.”

Alternativas para poupar

Enquanto os profissionais se queixam dos altos custos, e de não poderem cobrar o “preço justo” pelos seus serviços, os clientes sentem no bolso o peso de colocar o transporte no orçamento familiar junto com as outras despesas escolares - como mensalidade, material didático e lanches. Mãe de um menino de 11 anos, a jornalista Viviane França conta que paga R$ 230 por mês com transporte apenas para o retorno dele para a casa. A estratégia é utilizada por ela e pelo pai da criança para enxugar os gastos - já que eles ficam responsáveis por levar o menino à escola.

“Fizemos isso para não ter que pagar tão caro na mensalidade da van. Nos últimos quatro anos houve reajuste do preço, independentemente se os combustíveis aumentaram ou não. Neste ano, o preço do transporte escolar aumentou antes mesmo do anúncio sobre a gasolina e o diesel. Como já estamos pagando mais caro, acredito que a empresa (de transporte escolar) não fará um novo reajuste neste momento”, diz. 

Moradora do bairro Padre Eustáquio, ela afirma que não deixa o menino ir a pé para o Colégio Marista por uma questão de segurança. “Mesmo ficando a menos de 1 km da minha casa, fico com medo de acontecer algo. Carro por aplicativo também não é viável, fica mais caro e seria um transtorno uma criança ficar procurando o veículo na saída, quando há concentração de pessoas. O transporte escolar ainda é a melhor opção.”