Preocupações geopolíticas,  aumentos de custos e esgotamento de recursos e reservas são os três tópicos de mais risco à mineração no Brasil em 2025. O panorama foi traçado em estudo global produzido pela Ernst & Young (EY), que identificou não só os pontos de atenção, mas as oportunidades para o setor, responsável por um faturamento de R$ 270,8 bilhões em 2024. 

No estudo, outros temas elencados foram meio ambiente, mudanças climáticas, capital, licença para operar, digital, força de trabalho e novos projetos. Afonso Sartorio, líder de Energia e Recursos Naturais da EY, afirmou que muitos dos temas que estão citados  no estudo também aparecem no ranking global.

“O que mostra um alinhamento com as outras grandes nações relevantes para a mineração. Já em comparação ao estudo do ano passado, a grande novidade foi o aparecimento do esgotamento de recursos entre os principais temas, o que pode ser uma oportunidade principalmente para alavancar projetos de mapeamento geológico no Brasil, por exemplo”, salientou.

Sobre a questão geopolítica, Sartorio afirmou que a implementação de tarifas de importação, como vem sendo discutido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem gerar efeitos distintos ao setor. “Essas sanções e conflitos podem levar a uma reconfiguração das cadeias de suprimento globais de minerais, criando oportunidades para países como o Brasil aumentarem sua participação no mercado internacional”, frisou. 

O especialista destacou ser crucial que as empresas que atuam no Brasil façam investimentos na captação de recursos e aprovação de projetos para manter e ampliar capacidade produtiva. “Bem como em inteligência de gestão comercial para avaliar riscos e oportunidades que esta reconfiguração e volatilidade trazem”, completou. 

Sartorio afirmou que alguns países como Estados Unidos, Austrália, Canadá, Arábia Saudita e outros territórios que integram a União Europeia, há estratégias para minerais críticos focadas na segurança de suprimento e no aproveitamento de recursos minerais para geração de desenvolvimento sócio-econômico.

No Brasil, um suposto tarifaço de Trump sobre a mineração brasileiro deverá ter baixo impacto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Em coletiva à imprensa em fevereiro, a entidade afirmou que 80% das exportações do setor são voltadas à Ásia, sendo que quase 70% dos minerais desembarcam na China. 

“A postura protecionista dos governos e blocos internacionais pode ter impactos duais no setor de mineração brasileiro. Por um lado, pode abrir oportunidades para o Brasil suprir novos mercados aproveitando a reconfiguração de cadeias. Por outro lado, medidas protecionistas podem limitar o acesso do Brasil ao mercado norte-americano, por exemplo, exigindo que o país diversifique seus parceiros comerciais e invista em competitividade”, ponderou o líder de Energia e Recursos Naturais da EY. 

Projetos 

Até 2028, a mineração deverá investir mais de US$ 64 bilhões no Brasil, conforme o Ibram, em projetos para extração de minerais. De acordo com o estudo, o aumento da pressão inflacionária e cambial, tendo em vista a valorização de 27% do dólar em 2024, já faz com que algumas empresas busquem iniciativas para aumentar a produtividade. 

“A cada tonelada de minério retirada da terra, a próxima tonelada extraída será mais cara, mais funda e com a necessidade de mais processamento”, conta o executivo. Além disso, conforme o estudo, as operações atuais enfrentam redução dos teores de minério dentro das minas que são ativas, o que consequentemente aumenta o custo.

Para mitigar os impactos do acesso limitado à capital, o setor vem passando por uma transformação nos modelos de negócios e diversificação dos investimentos.  “O mercado está se adaptando para atender às novas demandas. Dentre os principais movimentos está a compra de ativos em operação para tentar minimizar os custos sem perder produtividade e qualidade na entrega”, afirmou Sartorio.

Transição energética 

Para a EY, uma demanda crescente no mercado será por minerais da transição energética. Neste sentido, para a exploração, os mais demandados devem ser o lítio, grafite, níquel, terras raras e nióbio. Na avaliação de Sartorio, o crescimento do interesse se dá pelo esforço dos países e das empresas para descarbonização e desenvolvimento social para as comunidades. 

“Hoje, os projetos têm que ter menos emissões, contemplar diversos requerimentos de segurança, incluir uma negociação com as comunidades para entender as contrapartidas para os territórios e desenvolvimento socioeconômico local, dentre outros. Isso é ótimo para a evolução do setor, mas é importante pontuar que, consequentemente, também acaba fazendo com que os projetos levem mais tempo e/ou tenham custos operacionais maiores”, ponderou. 

Outra pauta de atenção, mas capaz de gerar oportunidades, é a transparência no que se refere às questões ambientais. A EY citou que já existem, no Brasil, movimentos de empresas do setor buscando formas mais efetivas para aproveitar os resíduos e rejeitos, usar menos água nos processos minerários, menores emissões, uso de combustíveis mais limpos.

“Todo esse movimento gera um ciclo de inovação importante, mas ao mesmo tempo, leva as empresas a buscarem outras formas de receita e de estratégias de negócios como citados acima, uma vez que esses investimentos pressionam as margens de lucro”, pontuou Afonso.

Sartorio reforçou que o Brasil é um importante produtor de commodities como ferro, metais básicos (cobre, zinco, níquel) e metais preciosos como o ouro. “E também possui um papel importante em minerais críticos, que são importantes para uma nova economia, mais limpa e sustentável”, disse ele, ao citar que este cenário torna o Brasil um mercado estratégico dentro da geopolítica do setor.