A entrada de aço importado no Brasil afeta mais os negócios da Gerdau, uma das gigantes do setor siderúrgico nacional, do que o tarifaço de Donald Trump. A presença de produtos siderúrgicos chines no país "de forma não isonômica e predatória", nas palavras do CEO da empresa, Gustavo Werneck, forçará cortes de investimentos e demissões. Só neste ano, foram 1.500 desligamentos, quase todos focados em unidades produtivas da Gerdau nas cidades paulistas de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes.

"Não tem sentido continuar investindo no Brasil, porque o governo não faz proteção ideal do mercado", informou o executivo nesta sexta-feira (1/8). A Gerdau tem em curso neste ano aportes de R$ 6 bilhões, sendo dois terços do montante no Brasil e o restante nos Estados Unidos. Esses investimentos serão mantidos, principalmente em projetos de mineração, com grande escala em Minas Gerais.

"Investimentos nos próximos anos serão reavaliados. Já é uma decisão da empresa. Mantê-los vai depender muito das condições de mercado e da atuação do governo brasileiro em impedir competição desleal com importados. Sempre entrou aço importado no Brasil, mas queremos competir de forma justa e isonômica. O governo colocou alguns mecanismos para proteger o mercado interno, mas não foram eficientes", lamenta.

Segundo ele, a empresa investe cerca de R$ 6 bilhões por ano em manutenção e competitividade, e esse valor será revisto. "Nos Estados Unidos, investimentos serão mantidos, pois lá tem ambiente para os negócios", completou.

Historicamente, importados abocanhavam menos de 11% do mercado brasileiro, mas atualmente, nas contas da Gerdau, já são 30%, praticamente da China. "O governo deixa aço chinês entrar aqui com práticas comerciais que outros países condenam. É difícil se manter competitivo no Brasil", frisa Werneck. O executivo ficou frustrado com a última reunião do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior, do governo brasileiro, ocorrida no dia 24 de julho, quando foram avaliados temas envolvendo alterações tarifárias e medidas de defesa comercial. Na ocasião, as tarifas de importação de produtos chines, já investigados por práticas de concorrência desleal (praticam preços menores para exportar), não foram aumentadas, como pleiteava o setor siderúrgico nacional.

Sobre o tarifaço de Trump, a Gerdau acabou ficando isenta. Além disso, possui unidade produtiva nos Estados Unidos para atender aquele mercado. Possíveis impactos seriam indiretos, como avalia o vice-presidente executivo de finanças e CFO da empresa, Rafael Japur. Cerca de 40% do aço vendido pela empresa do Brasil é para o mercado da construção civil, que está demandante, segundo Japur. Os demais setores atendidos, sobretudo automotiva de automação e máquinas e equipamentos, foram afetados pelo tarifaço.

"É cedo precisar impacto, mas é difícil imaginar que não terá. Dificuldade dos clientes é dificuldade para nós também, já que pode afetar a demanda deles por aço", completa.

Resultados

A Gerdau teve lucro líquido de R$ 864 milhões no segundo trimestre de 2025, um crescimento de 14% na comparação com o trimestre anterior, mas uma queda de 8,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o balanço divulgado pelos executivos da empresa nesta sexta-feira (1/8). A receita líquida da empresa teve alta de 5,5% na base anual, para R$ 17,5 bilhões.