Mulheres 60+ são o alvo de um projeto que tem transformado vidas por meio do bordado em Belo Horizonte. Trata-se do projeto Educação Financeira e Empreendedorismo Feminino na Terceira Idade, uma iniciativa do Instituto Defesa Coletiva (IDC). Ao todo, 261 mulheres já foram impactadas com a iniciativa, que é realizada principalmente nos Centro de Referência de Assistência Social (Cras) das regiões Morro das Pedras, União, Petrópolis/Independência, Zilah Spósito, Vila Apolônia e Vila Marçola.

O destaque do projeto em 2024, além de aulas de educação financeira, foi o bordado, que pode ser uma forma de renda e também um passatempo para quem participa. Durante o projeto, as participantes foram apresentadas ao Método DB (desenho e bordado), criado pela artista plástica e atriz Juçara Costa. A ideia é que o bordado vá além do trabalho manual e seja um processo meditativo. E um dos princípios é: ponto feito não pode ser desfeito, o que traz autenticidade para o trabalho.

Sandra Maria dos Santos, 75 anos, artesã e participante do projeto por meio do Cras Zilah Spósito, já tinha o bordado como trabalho, mas expandiu o olhar com o projeto. "Desde pequena eu trabalho com linha e retalho, para mim foi uma coisa nova, porque eu trabalhava naquele sistema metódico, padrão. E aqui você pega materiais diversos e vai criando. Você voa, você desliza. Achei maravilhoso! Você usa o coração", diz. "Era tão agradável, eu nunca vi um Cras tão presente, porque motivou até homens a fazer", comenta.

Já Nedir Neri de Santana, 69, do Cras Morro das Pedras, nunca havia tido contato com o bordado antes do projeto. Ela revela que passou por um período de depressão, e o projeto trouxe um novo ânimo para tocar a vida. "Deu para aprender muita coisa, eu gostei muito e estou querendo saber se vai ter mais. Eu passei por um período de depressão, por conta de algumas perdas que tive. E, quando comecei o curso, me aliviou muito, me senti mais leve", revela.

De acordo com Marilea Alves de Castro, da equipe Método DB da Juçara Costa, ver a empolgação das participantes é gratificante. "É surpreendente, a gente nunca imaginou que a arte despertasse tanto amor e tanta cumplicidade. Para elas, você vê que foi um momento de desenvolvimento da autoestima, coragem e vontade", diz.

"A cada dia a gente tem um aumento da pessoa idosa. Em 2050, os idosos serão a maior parte da população. É importante educar essas pessoas a viver com sustentabilidade, e o projeto é justamente para isso", destaca a presidente do Comitê Técnico do IDC, Lillian Salgado. "Ele trabalha com a criatividade das mulheres. A gente traz a arte, o bordado livre, justamente para elas terem esse desafio de recomeçar", diz. "Empreender não é só abrir um CNPJ, é criar a própria história. Nunca é tarde para começar e recomeçar", reforça.

O projeto tem apoio do Fundo Municipal dos Idosos, por meio do Conselho Municipal do Idoso e da Prefeitura de Belo Horizonte. O objetivo, segundo o IDC, é capacitar mulheres idosas, oferecer ferramentas e conhecimentos necessários para que elas possam empreender e administrar o dinheiro de forma independente, garantindo segurança financeira na terceira idade. 

Evento

Os resultados da primeira fase do projeto foram divulgados nesta terça-feira (15 de março), em um evento no Teatro Feluma, no centro, que contou com a exposição das peças criadas pelas participantes no ano passado. Entre as atividades programadas para o dia, elas puderam assistir a uma peça de teatro encenada pela própria Juçara Costa, criadora do método DB. A peça, que tem 19 anos e já passou por 4 versões, conta a história de Júlia, uma mulher que mudou de vida após conhecer o bordado. "Ela é a protagonista dos desenhos bordados. É uma personagem que as mulheres do Cras se identificaram ao longo do ano", resume Juçara.