O cantor Freddie Mercury performa em cima de uma pedra e um casal desce uma rua de areia em cima de bicicletas coloridas. As miniaturas fofinhas, colocadas com cuidado em um cenário repleto de plantas naturais e cercadas por um vidro, ajudam a dar movimento e encantar os clientes de um mercado que ainda está ganhando espaço em Belo Horizonte. Práticos de cuidar, por não demandarem tanta manutenção, os terrários têm conquistado os apaixonados por plantas e são vendidos em versões que podem chegar a R$ 1.000 na capital mineira.
Na loja Jardim na Palma da Mão, no Mercado Novo, os sócios Pollyanna Alcântara e Ramon Henrique faturam cerca de R$ 6 mil por mês só com a venda dos terrários - sem contar com as outras plantas. De acordo com a dupla, a correria do dia a dia faz com que as pessoas se atraiam por produtos que não exigem grandes cuidados ou habilidades.
“Há terrários que são regados a cada quatro meses. Quanto mais vedados, menos o cliente precisa se preocupar em molhar. Essa surpresa, inclusive, também ajuda a atrair a clientela. Muita gente nem imagina que é possível criar um ecossistema inteiro dentro de um recipiente de vidro. Por serem menores, eles também não ocupam muito espaço e se encaixam muito bem na decoração de apartamentos”, aponta Pollyanna.
A possibilidade de criar uma infinidade de cenários dentro da redoma de vidro é outro ponto forte de negócio. Segundo os empresários, a loja tem um ateliê anexo onde os clientes podem escolher os materiais e tipos de plantas que vão compor os terrários, podendo levar um produto personalizado para casa.
“As pessoas também têm a opção de personalizar as miniaturas com base em fotos de família ou animais para criar peças ainda mais afetivas. São muitas as possibilidades. Em breve, também queremos lançar os terrários com musgo preservado, que não requerem luminosidade e rega como os tradicionais”, revela Ramon.
A faixa de preços flexível também permite que clientes com diferentes condições financeiras possam aderir ao hobby. As peças menores, como os imãs de geladeira, custam em média R$ 30. Já os terrários maiores e mais elaborados podem chegar a R$ 680 na loja. Além do tamanho, o tipo de planta e a qualidade do vidro utilizado influenciam na precificação.
“Uma das vantagens de empreender nessa área é que não vendemos apenas para o cliente final. Muitas empresas também compram para dar de lembrancinha para os funcionários. Recentemente, um casal de noivos também fez algo curioso: substituiu a entrega de bem-casados por mini terrários. É um mercado bastante versátil”, avalia a dupla.
Inovação e peças de luxo
Saindo do Mercado Novo, a tendência dos terrários também chegou aos espaços de luxo da capital mineira. No DiamondMall, shopping na região Centro-Sul de BH, que abriga lojas como Chanel e Dolce&Gabbana, os sócios Gustavo Tauil e Lincoln Galvão elevaram o produto a outro patamar. Donos da Kokedama BH, a dupla vende esculturas de madeiras com plantas vivas e um abajur terrário que pode chegar a R$ 869 cada.
“Gostamos de ir além e sempre fazer algo diferente, seja trazendo flores que não são encontradas em floriculturas comuns ou inventando conceitos diferentes - como é o caso do abajur. Nossas peças têm um preço mais elevado, pois é algo com muita qualidade e que geralmente não se vê por aí”, explica Gustavo.
A kokedama, que dá nome ao espaço, também ganhou a sua “versão em terrário” por lá. A dupla, que largou a carteira assinada durante a pandemia para investir na venda desse tipo de planta, conta que hoje vende de 10 a 15 terrários por semana - incluindo clientes em São Paulo e Rio de Janeiro. “É importante inovar para manter o interesse da clientela em alta”, diz Lincoln.
De “assassina” de plantas à mentora
Em outros casos, até mesmo a falta de habilidade pode motivar a criação de um negócio nesta área. Administradora de formação, a empreendedora Vivien Vasconcelos trabalhou por anos com comércio exterior até decidir fazer um curso sobre como cuidar de suculentas. A intenção inicial era apenas “parar de matar as plantas” que ela comprava, mas o hobby acabou motivando uma transição de carreira e a criação da marca Viverde Arranjos.
“Hoje, vivo inteiramente por conta desse trabalho. Comecei com arranjos de orquídeas e suculentas, mas acabei me apaixonando pelos terrários, que são meu foco atual. Eles permitem criar paisagens e ecossistemas inteiros dentro de um vidro. Dependendo do tamanho e da qualidade do vidro, uma peça pode chegar a R$ 1.000”, diz.
Nas redes sociais, ela também compartilha o processo de criação das peças. Confira:
Uma publicação compartilhada por Vivien Vasconcellos | Terrários BH (@viverdearranjos)
Vivien conta que fatura em média R$ 3 mil por mês somando as vendas pelas redes sociais e na Feira de Arte e Artesanato da Silva Lobo, no Nova Granada, onde expõe aos sábados. No entanto, o faturamento pode chegar a R$ 12 mil em algumas épocas comemorativas, como o Dia das Mães.
Para diversificar a renda, ela também lançou recentemente um curso online para ensinar como fazer os terrários. O pacote com cerca de 6 horas de aula custa aproximadamente R$ 597. “Além das técnicas, que vão do básico ao avançado, também falo sobre precificação, embalagens e entrega segura do produto. O formato digital permite que eu acesse clientes do Brasil inteiro, o que é uma vantagem na hora de comercializar as aulas”, garante.
Segunda fonte de renda e times do coração
Já a professora do ensino fundamental e estudante de paisagismo Mel Circe Rodrigues estava atrás de uma atividade artesanal que a tirasse da rotina cansativa das aulas durante uma parte do dia. Após conhecer o universo dos terrários, e investir mais de R$ 3 mil em cursos e materiais, ela transformou a criação das peças em uma segunda fonte de renda e tem faturado cerca de R$ 500 nos meses de maior movimento.
“Ainda estou me aprofundando na técnica e aprendendo a trabalhar com as redes sociais para divulgar os produtos, é algo que ainda tenho dificuldade. Como não pretendo abrir loja física, também quero investir na participação em feiras quando terminar meu curso de paisagismo”, relata a proprietária da marca Pequeno Talismã.
Como diferencial do seu negócio, a empreendedora investe principalmente na venda das biojoias (R$ 30), nos quais os mini terrários fazem as vezes de pingentes, e dos terrários com as cores do Cruzeiro e Atlético ($ 18), para conquistar os apaixonados pelos times. “São peças menores, com valor acessível e com propostas que geralmente não se vê muito no mercado”, aponta.