Mais de 350 novos negócios por dia. Esse é o número de empresas que abriram as portas em Minas Gerais nos três primeiros meses deste ano. No total, são 32.041 empreendimentos dando seus primeiros passos e fomentando a economia do estado. O número é 36,67% maior que o observado no mesmo período de 2024, quando foram registradas 23.444 empresas. Os dados são da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG).

De acordo com Franz Petrucelli, contador e professor de administração do Centro Universitário Newton Paiva, alguns motivos contribuem para que o estado fomente a criação de novos negócios. “Minas Gerais tem estrutura e logística favoráveis, com transporte, comunicação e facilidade de escoar produtos para outros locais. A localização também facilita a contratação de mão de obra, o que ajuda a crescer a economia”, analisa. 

Na linha de frente do crescimento está o setor de serviços, que registrou 23.884 novas empresas entre janeiro e março. Enquanto isso, o comércio ganhou 6.714 negócios e o setor industrial contou com 1.443 empreendimentos estreantes. Quem ajudou a “engrossar o caldo” do setor de serviços foram as sócias Jhanik Nunes e Heidy Barcelos. Após anos de carteira assinada, elas decidiram empreender e abriram a Triplus Consultoria, focada em treinamento de lideranças e aperfeiçoamento da experiência do cliente. 

“Gostamos de trabalhar com pessoas, mas a postura das empresas em que trabalhávamos não nos agradava. Não foi uma transição fácil, levamos alguns meses até nos prepararmos financeiramente. Também tivemos consultoria com o Sebrae para aprender a mirar no nicho certo e sobre precificação. Cobrar por serviço é desafiador, pois temos que levar em conta o tempo gasto e o conhecimento envolvido”, explica Jhanik.

As sócias Jhanik Nunes e Heidy Barcelos trocaram o emprego de carteira assinada pelo empreendedorismo na área de consultoria. Foto: João Godinho / O Tempo

Nos primeiros meses de atuação, elas contam que já atenderam cerca de 15 clientes, que desembolsam em média R$ 3 mil por um treinamento de algumas horas ou R$ 5 mil por mês para contratar encontros semanais. “Esse segundo tipo de serviço, aliás, é o que mais nos interessa ter e é nosso foco de captação. Clientes fixos nos permitem ter um acompanhamento dos resultados e uma previsão de faturamento mensal”, aponta Heidy.

Já a empresária Luana Gardênia Santos decidiu abrir seu segundo negócio no início deste ano. Ela, que já é dona de um escritório de contabilidade, aproveitou a expertise com assuntos burocráticos e lançou uma nova empresa, a R77 Gestão de Condomínios, voltada para administração de prédios. Segundo ela, apesar de esse mercado parecer saturado, ainda há espaço para que ela ofereça seus serviços. 

“Fizemos algumas pesquisas e notamos uma queixa comum entre os condomínios. Muitos síndicos conseguem cuidar da parte operacional, efetuando pagamento de contas, mas não cuidam das obrigações fiscais do prédio, o que pode acarretar multas. Vi que eu poderia, junto com uma sócia, oferecer algo completo para me destacar no mercado”, garante. 

Por ainda estar no início da empreitada, ela conta que ainda está na fase de prospecção da clientela e que, além do objetivo de fechar contratos, a dupla de sócias também planeja expandir o negócio. “Tenho quatro funcionários no escritório de contabilidade e, futuramente, também quero ter uma equipe na nova empresa”, diz. 

Nova chance com tempero latino 

Depois de empreender e falhar algumas vezes no comércio, segundo setor que mais gerou novas empresas em Minas no primeiro trimestre, o empreendedor Armando Cantillo resolveu voltar às raízes e tentar de novo. Filho de uma brasileira com um colombiano, ele morou parte da sua vida na Venezuela e escolheu o país para ser o tema de seu novo empreendimento, recém aberto na Savassi. 

“Meu negócio, por si só, já se destaca na cidade. Conheço um ou outro restaurante venezuelano em BH e acredito que esse ineditismo é um grande diferencial. Mas, também fiz pesquisas de mercado e rodei restaurantes para estudar sobre apresentação dos pratos, atendimento, cardápio. Me preparei para abrir o novo negócio e, inclusive, quero abrir uma segunda unidade até o fim do ano”, relata. 

Armando Cantillo afirma que se preparou mais para voltar a empreender com gastronomia. Foto: Rodney Costa/O Tempo

Apesar dos planos de expansão, e de ter pegado alguns empréstimos para financiar a nova empreitada, ele garante que se sente seguro e preparado para não cometer os mesmos erros do passado. “Já quis crescer muito rápido, não sabendo administrar muitas casas e funcionários, e também esbarrei na falta de educação financeira. Hoje, vou com mais calma e tenho sócios focados nessa parte mais burocrática”, garante. 

Fechamento também foi alto

Apesar do aumento no número de empresas que abriram as portas no primeiro trimestre, também cresceu o número de negócios que encerraram suas atividades. Segundo o mesmo levantamento, 25.012 empresas fecharam entre janeiro e março, um aumento de 61,01% em relação ao mesmo período de 2024 - quando foram registrados 15.534 encerramentos. 

Franz Petrucelli, contador e professor de administração do Centro Universitário Newton Paiva, aponta que alguns erros são comuns entre os empreendedores e podem, em casos mais extremos, ser um motivo para o fechamento de uma empresa. “Muitos não contratam um serviço de contabilidade, o que acaba acarretando impostos não pagos. Além disso, seria possível fazer um planejamento tributário e economizar no pagamento de taxas”, diz. 

Ele também aponta que, ainda hoje, muitos empreendedores ainda insistem em não separar as contas pessoais das finanças da empresa - o que dificulta na hora de constatar a saúde financeira do negócio e se planejar para meses de menor faturamento. “Muitas vezes, a ideia do negócio é boa e as vendas vão bem, mas o empresário não consegue prosperar por falta de educação financeira”, alerta.  

Ranking de municípios com maior abertura de empresas no primeiro trimestre de 2025*

  • Belo Horizonte - 8.631 
  • Uberlândia - 1.778
  • Contagem - 1.042 
  • Juiz de Fora - 881 
  • Montes Claros - 736 
  • Betim - 640 
  • Uberaba - 588 
  • Divinópolis - 473 
  • Governador Valadares - 390 
  • Ipatinga - 387 

*Fonte: Jucemg e Sede-MG