O dólar fechou em alta de 0,69% nesta quarta-feira (25), cotado a R$ 5,557, com investidores acompanhando notícias sobre o conflito entre Israel e Irã e repercutindo a realização de dois leilões simultâneos pelo BC (Banco Central) durante a manhã.
Na cena doméstica, o foco esteve na votação do projeto que derruba o novo decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) publicado pelo Executivo no início do mês.
Já a Bolsa fechou em forte queda de 0,98%, a 135.807 pontos, segundo dados preliminares.
O BC realizou dois leilões pela manhã, entre 9h30 e 9h35 - um de venda à vista de dólares e outro de swap cambial reverso. Os leilões são intervenções no câmbio. Na prática, eles servem para aumentar a quantidade de dólares disponíveis para os investidores, seguindo a lei da oferta e demanda. Ou seja, quanto mais moeda puder ser comprada, menor vai ser a cotação dela.
No leilão à vista, o BC disse que aceitou oito propostas no valor total de US$ 1 bilhão, com um diferencial de corte de -0,0003. Neste tipo de operação, dólares das reservas internacionais do país são vendidos para o mercado, mas o BC não os compra de volta.
Já na operação de swap cambial reverso, a autarquia aceitou duas propostas para o total de 20.000 contratos, equivalente a US$ 1 bilhão, com vencimento em 1º de agosto de 2025. A data de início do contrato será 26 de junho. O termo "swap", em português, significa troca. Nessa modalidade de leilão, o BC "troca" a cotação por outro valor numa data futura.
O swap funciona como uma espécie de proteção do valor da moeda para o comprador em casos de muita volatilidade, já que a cotação fica travada em determinado preço. Em troca, ele paga juros ao BC, definidos conforme a variação da Selic nesse prazo previamente acordado.
Na prática, o BC atuou nas duas pontas, com valores equivalentes tanto na venda no mercado à vista quanto na compra no mercado futuro.
A autarquia não esclareceu os motivos por trás das duas operações. Mas profissionais do mercado avaliam que a instituição mira no cupom cambial -a diferença entre a taxa de juros em reais e a taxa em dólares, muito usada para precificar operações de proteção no mercado de câmbio.
"Essa medida não terá impacto direto na taxa de câmbio, pois não afeta a exposição cambial do mercado, devido ao swap reverso. Por outro lado, afetará o cupom cambial, reduzindo-o. Indiretamente, essa operação tende a dar suporte ao real", diz André Valério, economista sênior do Inter.
"Outro efeito indireto dessa operação será a redução da dívida bruta, uma vez que com a venda de dólares ocorre uma redução no volume das operações compromissadas do BC."
Apesar dos leilões, o dólar subiu, seguindo o movimento no exterior. A moeda avançou frente a pares fortes, como o euro e o iene, e pares emergentes, como o rand sul-africano e o peso colombiano.
O foco do mercado global seguiu voltado ao conflito entre Israel e Irã, em cessar-fogo até o momento. Os dois países sinalizaram que a guerra aérea terminou, pelo menos por enquanto.
As negociações da véspera foram marcadas por um forte apetite por risco na esteira da redução das tensões. Nesta sessão, alguns investidores aproveitaram dos preços e da relativa estabilidade no noticiário para se reposicionar, fazendo com que o dólar recuperasse algumas perdas.
"Como de costume, o exterior pautou o fluxo, dólar com fortalecimento generalizado. Quando temos um movimento de alta ou baixa, algum tipo de realização é sempre esperado", afirma Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. "Mercado também segue monitorando a 'estabilidade' desse cessar-fogo."
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o cessar-fogo na segunda-feira. A trégua começou a valer na madrugada de terça, mas sofreu abalos quando israelenses e iranianos relataram ataques.
A fragilidade do acordo era previsível e o destino do cessar-fogo é incerto. Será necessário esperar para ver se uma desaceleração das tensões está próxima ou se haverá a volta das hostilidades.
Além do panorama do Oriente Médio, as atenções dos investidores se voltaram para comentários do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, em depoimento ao Congresso pelo segundo dia consecutivo.
Powell repetiu que o banco central não tem pressa para cortar a taxa de juros por enquanto, à medida que avalia o efeito das tarifas de Trump sobre a inflação. Ele também disse que é muito cedo para saber os efeitos que a escalada do conflito no Oriente Médio poderá ter sobre a economia dos Estados Unidos.
"Eu não gostaria de especular", disse Powell. "Como todos os outros, é claro que estamos observando a situação".
O mercado também retomou a cautela com o cenário fiscal brasileiro, de olho no desenrolar do impasse sobre o decreto do governo que elevou as alíquotas do IOF para uma série de operações.
O projeto de decreto legislativo que busca derrubar a medida do governo estará na pauta desta quarta-feira na Câmara dos Deputados, disse o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Nas redes sociais, também nesta quarta, a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) afirmou que o decreto do IOF traz ajustes "necessários" para a execução do Orçamento de acordo com o arcabouço fiscal e disse que o governo ajustou pontos da medida em diálogo com o Congresso.
"A derrubada dessa medida exigiria novos bloqueios e contingenciamentos no Orçamento, prejudicando programas sociais e investimentos importantes para o país, afetando inclusive a execução das emendas parlamentares. É hora de pensar primeiro no país, que precisa continuar crescendo e buscando justiça social e tributária", escreveu Gleisi.