O dólar abriu em forte alta nesta quinta-feira (10), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% ao Brasil, nesta quarta-feira (9). Às 9h08, a moeda norte-americana subia 2,07%, cotada a R$ 5,6174.

O anúncio do líder republicano veio após o fechamento do mercado à vista, repercutindo no mercado futuro: o contrato futuro de dólar com vencimento em agosto subiu 2,30%, a R$ 5,6115 na venda. Na máxima após o anúncio de Trump, a alta foi de 2,9%. Já o Ibovespa futuro para agosto caiu 2,44%, aos 137.800 pontos.
As ações brasileiras listadas no exterior acompanharam a desvalorização. O índice iShares MSCI Brazil caía 1,9%.

Antes, às 17h, no fechamento do mercado à vista, o dólar fechou em alta de 1,05%, a R$ 5,5023, com os investidores atentos aos anúncios de tarifas de importação. Este é o maior valor da divisa americana sobre o real desde 25 de junho.

O republicano já emitiu cartas com avisos de aumentos de sobretaxas para 21 países. A taxa de 50% anunciada para o Brasil é a maior de todas. Demais anúncios são esperados para esta semana. "O Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós, nada bom", disse Trump a repórteres em um evento com líderes da África Ocidental na Casa Branca, antes de anunciar a nova alíquota.

Após a fala do republicano, a alta da meda dos EUA se acentuou, bem como a queda da Bolsa. Ao fim do pregão, o Ibovespa recuava 1,30%, a 137.481 pontos. Já o volume de negociação do pregão foi reduzido devido a feriado em São Paulo. "O aumento das tensões comerciais volta aos holofotes e contribui para um movimento de aversão ao risco dos ativos locais, agravada pelo desempenho negativo do Ibovespa e reforçando o movimento defensivo do mercado cambial", diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

Nos EUA, o viés na quarta-feira foi oposto. O S&P 500 subiu 0,61% e o Dow Jones, 0,49%. O Nasdaq teve alta de 0,94%.
Os agentes do mercado avaliam que a abordagem dos EUA, apesar de agressiva e errática, não vai gerar uma guerra comercial total.

Os investidores também repercutem a divulgação da ata da última reunião do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA), que optou por manter os juros entre 4,25% e 4,5%, medida que irritou o presidente norte-americano.

Trump voltou a pedir a redução da taxa americana em pelo menos 3 pontos percentuais, a fim de ajudar a diminuir o custo da dívida do país. A nova ameaça de Trump de cobrar mais tarifas de importação de países que compõem os Brics também está no radar do mercado.

"A qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas dos Brics, será cobrada uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política", ameaçou Trump, em sua plataforma Truth Social. No domingo (6), em uma declaração conjunta na abertura da cúpula do Brics no Rio de Janeiro, o grupo alertou que o "aumento indiscriminado de tarifas" ameaça o comércio global.
Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco foi ampliado recentemente para 11 países e representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto).

No cenário interno, a preocupação recai sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), cujo aumento foi derrubado pelo Congresso e virou pauta do STF (Supremo Tribunal Federal).
"O retorno dessa pauta está na mira do investidor estrangeiro e local justamente por envolver o ajuste das contas públicas", diz Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

A inflação e seu impacto nos juros é outro tema de atenção. Nesta quarta, em audiência no Senado, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, argumentou que a inflação do país não é pontual, com 72,5% dos itens que compõem o IPCA permanecendo acima da meta, o que é considerado bastante disseminado.

O presidente do BC ressaltou que a economia vem crescendo de maneira robusta, mesmo retirando da conta o agronegócio, que deve apresentar neste ano mais uma safra recorde. Na apresentação, Galípolo ainda afirmou que dados de inflação corroboram a ideia de que a taxa básica de juros não estava em patamar suficientemente contracionista ao longo de 2024 para se alcançar a meta, o que demandou novas altas de juros.

O ciclo de alta da Selic foi retomado pelo BC em setembro do ano passado, levando a taxa de 10,50% a 15%, maior nível em duas décadas. As projeções mais recentes do mercado apontam para uma inflação de 5,18% este ano e de 4,50% em 2026, segundo o relatório Focus do BC.

O presidente do BC ainda afirmou que o aumento da taxa Selic elevou o carry do real -rentabilidade de investidor estrangeiro por carregar a moeda-, ressaltando que a moeda brasileira valorizou mais do que seus pares em 2025. Os juros altos, porém, prejudicam a renda variável.