O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, afirmou que a indústria mineira, especialmente o setor siderúrgico, sofrerá um impacto severo com a tarifa de 50% anunciada por Donald Trump às exportações brasileiras. Em coletiva à imprensa na tarde desta quinta-feira (10/7), Roscoe afirmou que não vê razão econômica na barreira comercial adicional imposta pela Casa Branca ao Brasil e reforçou o pedido para que o Palácio do Planalto não aplique uma taxa de reciprocidade às exportações dos Estados Unidos.
O posicionamento do setor em Minas segue o que foi dito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com Flávio Roscoe, o setor siderúrgico é o mais afetado, em função de oferta de aço no mercado maior que a demanda. Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço e ferro ao mercado norte-americano, representando 14,9% do total das importações de Washington.
“É muito difícil que o setor siderúrgico realoque o fluxo para outros mercados. Nós temos uma geografia que favorece essa relação bilateral de comércio para o Brasil. Realocar isso para a Àsia, por exemplo, é um pouco mais complexo justamente por essa distância e porque nos produtos industrializados a Ásia não é compradora, é na verdade nosso principal concorrente”, disse. “A siderurgia vai perder mercado e ter aumento de custos”, cravou Roscoe.
À imprensa, ele afirmou que, sem razões econômicas, a reação de Trump ao Brasil foi motivada pelo posicionamento do Brasil na cúpula dos Brics - grupo que reúne também, dentre outros países, a Rússia, China e Índia. Na declaração final, o grupo defendeu a busca pela promoção de um “sistema tributário internacional justo, mais inclusivo, estável e eficiente”. Também há discussões para criação de uma moeda global como alternativa ao dólar.
“As brigas, e boa parte dos embates internacionais, se dão através de disputas comerciais. O mundo está em um momento mais aflorado, em que houve um embate entre duas potências (EUA e China), que estão se chocando”, frisou Roscoe, ao sugerir que o Brasil tenha um caminho de neutralidade nas disputas comerciais entre Pequim e Washington.
“É um processo de transformação geopolítica em que nós tínhamos uma única potência hegemônica mundial, que eram os Estados Unidos, e agora temos a ascendência da China nesse cenário. Isso vai gerar conflitos e, por isso, a minha leitura de que o posicionamento ideal do Brasil seria de neutralidade. Para o comércio e para a população, eu entendo que esse é o melhor posicionamento do governo", completou.
Risco inflacionário
Para o presidente da Fiemg, caso o governo brasileiro decida por uma ação de reciprocidade, a economia do país tende a ser ainda mais impactada. “Nossa maior preocupação nesse momento é justamente uma retaliação do Brasil. Seria outro golpe na indústria brasileira, porque as indústrias são complementares. Quando retaliar, os custos das empresas brasileiras vão subir”, ponderou Roscoe.
Ele considerou um risco de inflação acentuada no Brasil com uma tarifa para equiparar à política de Trump. "Uma reciprocidade por parte do Brasil com certeza traria um impacto inflacionários, já que as importações americanas são relevantes para vários segmentos brasileiros que teriam seus custos aumentados internamente", comentou.
Por outro lado, mantido o cenário sem retaliações brasileiras, o presidente da Fiemg considerou que a taxa de 50% imposta por Trump pode gerar em uma queda de preços no Brasil. "Talvez até gere um impacto deflacionário, porque alguns produtos serão ofertados no nosso próprio mercado", finalizou.