O dólar fechou com alta de 0,69%, a R$ 5,540, nesta quinta-feira (10), maior valor em um mês, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma sobretaxa de 50% ao Brasil, na véspera. Apesar da alta, a divisa dos EUA encerrou longe da cotação máxima do dia, às 9h18, quando avançou 2,16%, a R$ 5,621. No ano, porém, a moeda norte-americana acumula uma queda de 10,34%.

Já a Bolsa encerrou com uma desvalorização de 0,53%, 136.743 pontos, distante da mínima do dia, quando caiu 1,07%, a 136.014 pontos. Entre os piores desempenhos, estavam as ações da Embraer, que chegaram a recuar mais de 8%, enquanto a Vale teve desempenho robusto, atuando como contrapeso positivo.

O anúncio do líder republicano veio após o fechamento do mercado à vista na quarta-feira (9), repercutindo no mercado futuro: o contrato futuro de dólar com vencimento em agosto subiu 2,30%, a R$ 5,611 na venda. Na máxima após o anúncio de Trump, a alta foi de 2,9%.

No fechamento do mercado à vista, o dólar encerrou com alta de 1,05%, a R$ 5,502, com os investidores já se antecipando aos anúncios de tarifas de importação.

As ações brasileiras listadas no exterior acompanharam a desvalorização. O índice iShares MSCI Brazil, composto por ações de grandes empresas brasileiras de diversos setores, como o financeiro, de energia e de mineração, caía 1,9%.

O republicano já emitiu cartas com avisos de aumentos de sobretaxas para 21 países. A sobretaxa de 50% anunciada para o Brasil é a maior de todas e será separada das tarifas setoriais, com implementação prevista para 1º de agosto. Demais anúncios são esperados para esta semana.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China, e as tarifas representam um grande aumento em relação aos 10% que haviam sido anunciados em abril.

Antes de anunciar a nova alíquota, Trump disse a repórteres em um evento com líderes da África Ocidental na Casa Branca que "o Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós, nada bom".
O republicano indicou que as tarifas podem ser revistas se o Brasil "abrir seus mercados e eliminar barreiras comerciais".

Mas se concretizada, a sobretaxa pode encarecer produtos variados para consumidores e empresas americanas, como petróleo, ferro, café, carnes e suco de laranja, alguns dos itens brasileiros mais exportados para os Estados Unidos.

"Na prática, o maior custo dessa nova rodada de tarifas está menos no potencial impacto direto sobre os fluxos de comércio e mais na piora do ambiente econômico, na deterioração da relação de parceria histórica entre os dois países e na incerteza gerada", disseram analistas do BTG Pactual em relatório.

Na avaliação de Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, deixar de vender para o mercado americano, o maior do mundo, é ruim para a economia brasileira e os efeitos seriam imediatos. "A expectativa é que a gente exporte menos. Consequentemente, o nosso PIB [Produto Interno Bruto] pode ser menor", disse. "Outra grande preocupação é em relação ao dólar, que vai sim subir. Isso pode ser traduzido em mais inflação, sem dúvidas. Juros futuros sobem também."

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a medida de Trump e disse que o Brasil responderá por meio da lei de reciprocidade, que autoriza o governo a adotar medidas de retaliação de forma provisória durante o processo.

Trump disse que, se o Brasil decidir aumentar suas tarifas, a porcentagem da retaliação será adicionada aos 50% já impostos pelos EUA.

Diante da notícia, os investidores vendiam a divisa brasileira de forma acentuada, demonstrando receios de uma escalada de um conflito tarifário entre os países.

"O fato de a Casa Branca direcionar uma tarifa para o Brasil dessa magnitude aumenta os riscos dos investimentos no país, pois não se sabe se essas tarifas poderão ser ainda mais elevadas. Trata-se de um cenário de maior imprevisibilidade, que afasta investidores dos ativos brasileiros e exerce uma pressão imediata, prejudicando seu desempenho", afirmou Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sugeriu nesta quinta que a medida de Trump é um "golpe contra o Brasil", fruto de conspiração gestada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. "A família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil", disse durante entrevista organizada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

"Um brasileiro que presidiu o país está conspirando contra os interesses nacionais em proveito próprio, isso é uma coisa inaceitável. Setores econômicos hoje estão de cabelo em pé, buscando o apoio do governo para buscar uma solução para um problema criado por uma família."

Haddad disse que os argumentos usados por Trump não têm aderência à realidade, já que além de comprar mais do que vender para os EUA, o Brasil cobra dos norte-americanos uma alíquota de importação efetiva baixa, de 2,7% em média.

O ministro afirmou que buscará um caminho para superar o problema e ressaltou que a diplomacia brasileira está à disposição dos EUA desde sempre para encontrar uma solução.

Nos mercados globais, o foco também girou em torno da política comercial dos EUA, mas o sentimento era mais otimista, uma vez que, para além do Brasil, Trump tem direcionado as cartas tarifárias para parceiros menores.

Notícias de avanço nas negociações tarifárias com parceiros importantes também fomentavam expectativas de que uma guerra comercial total possa ser evitada antes de 1º de agosto, quando Trump prometeu implementar suas tarifas abrangentes anunciadas em 2 de abril.

Ao fim do pregão, o indicador de volatilidade de Wall Street VIX, o "índice do medo", registrava uma queda de 0,94%, a 15,79, o que indica um mercado mais calmo e estável. Da mesma forma indicava o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta com outras seis divisas, subindo 0,06%, 97,62.

As ações da China e de Hong Kong, bem como as ações europeias fecharam em alta nesta quinta. O principal índice acionário da Europa, por exemplo, o STOXX 600, encerrou com alta de 0,55%, a 553,00, atingindo seu maior valor desde 11 de junho. As ações de Wall Street também subiram nesta quinta, com os índices S&P 500 e Nasdaq registrando recordes de fechamento.

Na frente de dados, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve alta de 0,24% em junho, depois de subir 0,26% em maio, mostraram os resultados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com isso, a taxa acumulada em 12 meses passou a subir 5,35%, de 5,32% em maio, permanecendo acima da meta contínua, de 3% medida pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, em todos os meses de 2025.

No cenário interno, a preocupação ainda recai sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), cujo aumento foi derrubado pelo Congresso e virou pauta do STF (Supremo Tribunal Federal). "O retorno dessa pauta está na mira do investidor estrangeiro e local justamente por envolver o ajuste das contas públicas", diz Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

A inflação e seu impacto nos juros é outro tema de atenção. Nesta quarta, em audiência no Senado, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, argumentou que a inflação do país não é pontual, com 72,5% dos itens que compõem o IPCA permanecendo acima da meta, o que é considerado bastante disseminado.

O presidente do BC ressaltou que a economia vem crescendo de maneira robusta, mesmo retirando da conta o agronegócio, que deve apresentar neste ano mais uma safra recorde.

Na apresentação, Galípolo ainda afirmou que dados de inflação corroboram a ideia de que a taxa básica de juros não estava em patamar suficientemente contracionista ao longo de 2024 para se alcançar a meta, o que demandou novas altas de juros.

O ciclo de alta da Selic foi retomado pelo BC em setembro do ano passado, levando a taxa de 10,50% para 15%, maior nível em duas décadas.

As projeções mais recentes do mercado apontam para uma inflação de 5,18% este ano e de 4,50% em 2026, segundo o relatório Focus do BC.

O presidente do BC ainda afirmou que o aumento da taxa Selic elevou o carry do real -rentabilidade de investidor estrangeiro por carregar a moeda-, ressaltando que a moeda brasileira valorizou mais do que seus pares em 2025. Os juros altos, porém, prejudicam a renda variável.