O setor produtivo está preocupado com a possível "guerra comercial" entre Estados Unidos e Brasil. Tanto o tarifaço de Trump quando uma possível resposta do governo brasileiro preocupam entidades que representam a indústria, o comércio e a agricultura. A estimativa da XP Investimentos é que, até dezembro, o impacto sobre o PIB seja da ordem de 0,3 ponto percentual, reduzindo as expectativas de crescimento da economia dos então 2,5% para 2,2%. Para 2026, o efeito esperado é de 0,5 ponto, levando as projeções da corretora de alta de 1,7% para 1,2%. O banco Goldman Sachs, em relatório publicado após o anúncio de Trump, também prevê impacto negativo entre 0,3 e 0,4 ponto percentual no PIB brasileiro. 

Dependendo da reação brasileira, o impacto pode ser maior, tanto no PIB quanto na inflação. A Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) recebeu com "grande preocupação" o anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre uma tarifa de 50% a partir de 1º de agosto em todas as exportações brasileiras enviadas para seu país, além das outras taxas já existentes. "A medida, classificada como um 'tarifaço', afeta diretamente a indústria nacional e mina a confiança nas relações comerciais entre os dois países", disse o presidente da ACMinas, Cledorvino Belini.

"A decisão unilateral dos Estados Unidos impõe barreiras injustificadas a produtos brasileiros, prejudicando setores estratégicos da nossa economia, em especial a indústria de base. Trata-se de um movimento que enfraquece o espírito de cooperação internacional e afeta empregos, investimentos e a competitividade de nossas exportações”, completou.

Segundo a entidade, o Brasil é parceiro histórico dos EUA no comércio internacional e sempre pautou sua atuação por uma diplomacia econômica aberta, baseada no diálogo e no equilíbrio entre as nações. "Impor tarifas sem negociação prévia quebra esse entendimento e causa instabilidade nos fluxos comerciais. A ACMinas reitera a importância de uma resposta firme, porém diplomática, por parte do governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, visando a reversão da medida e a preservação dos interesses da indústria nacional", completou.

A entidade também destaca que esse episódio reforça a necessidade de diversificação dos mercados de exportação e o fortalecimento da diplomacia comercial brasileira, como forma de reduzir vulnerabilidades externas e proteger o setor produtivo nacional.

Belini disse que uma resposta do Brasil deve ser bem pensada. "Cabe ao Brasil negociar. E não colocar tarifas sobre os produtos norte-americanos, porque isso iria aumentar a nossa inflação e não ia resolver nada do problema americano. Então, sou contra nós retaliarmos as tarifas aqui no Brasil", completa.

Já a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) preferiu manifestar-se por meio de nota. A entidade manifesta profunda preocupação com o recente aumento das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. "A Fiemg reforça a importância do diálogo e da cooperação entre os países, especialmente em um momento em que se exige serenidade e responsabilidade nas relações comerciais internacionais. Os Estados Unidos são um parceiro estratégico para o Brasil, em especial para a indústria manufatureira nacional. No caso de Minas Gerais, trata-se do principal parceiro da indústria de transformação do Estado", informou.

Diante desse cenário, a Fiemg "entende que eventuais medidas de retaliação devem ser avaliadas com cautela, uma vez que podem trazer prejuízos significativos à sociedade brasileira e ao setor produtivo como um todo. Este é o momento de reavaliar posicionamentos, reconsiderar decisões e buscar soluções por meio do diálogo com esse parceiro estratégico".

O Sistema Faemg Senar também manifestou preocupação. "O aumento das tarifas (prometido por Trump) afeta diretamente o setor produtivo, especialmente as exportações do agronegócio brasileiro, com destaque para carnes, produtos florestais, café, suco de laranja, açúcar e etanol, que são os principais itens da pauta exportadora do Brasil para os EUA. Além disso, tende a encarecer insumos importados e comprometer o desempenho das cadeias produtivas, prejudicando produtores e consumidores. O Sistema Faemg Senar defende a diplomacia como instrumento de resposta a esse cenário. Reforça a importância do foco na retomada do diálogo e na preservação do ambiente de cooperação entre os dois países", informou a entidade, em nota.