Nesta sexta-feira (18/7), completa-se um mês do anúncio oficial em que o Brasil se declarou livre da gripe aviária, depois de passar 28 dias sem novos registros em granjas comerciais. Mesmo após esse tempo, dez países ainda mantêm a suspensão de compra de frango brasileiro. Em maio, quando um caso de gripe foi confirmado em estabelecimento comercial em Montenegro (RS), diversos países suspenderam a compra de aves do Brasil, e havia a expectativa de que, com a sobra de produção, o produto ficasse mais barato no mercado interno. Porém, isso ainda não foi percebido pelo consumidor.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, o frango inteiro teve uma pequena queda de -0,47%, enquanto o frango em pedaços registrou alta de 0,34%. Ou seja, alterações que pouco impactaram o bolso do consumidor. De acordo com o economista Ricardo Hammoud, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o brasileiro deve demorar a sentir uma queda no preço da ave, porque, entre outros motivos, a demanda interna está alta. “No atacado, os preços já caíram um pouco, porém essa queda não foi repassada ainda para o consumidor final. Talvez caia um pouco, mas menos ainda do que está caindo no atacado”, diz.
“Provavelmente será uma queda temporária, porque, assim que as exportações se normalizarem, os preços voltarão aos patamares iniciais”, pondera. “Os países que estão suspendendo a compra de carne de frango do país provavelmente, com a normalização, voltarão a comprar, porque o Brasil é o maior exportador de frango do mundo. O mundo não pode ficar sem as exportações do Brasil, caso contrário, o preço do mercado internacional vai subir bastante”, afirma.
Segundo dados de 2024, apurados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil vendeu 5,2 milhões de toneladas de frango, em diferentes formatos, para 151 países, o que gerou receitas de US$ 9,9 bilhões. Atualmente, de acordo com o governo, Albânia, Canadá, Chile, China, Macedônia do Norte, Malásia, Paquistão, Peru, Timor-Leste e União Europeia ainda estão com as importações de frango do Brasil suspensas. Vale destacar que China e União Europeia estão entre os maiores importadores.
A economista Aleksandra Sliwowska Bartsch Cabrita, professora da Uninter, lembra que o preço do frango é impactado por uma combinação de fatores, e não só por um evento isolado, como a queda nas exportações. Entre eles estão o custo de produção, a demanda aquecida - tanto interna quanto externa - e a valorização do dólar.
“Além disso, condições climáticas adversas em algumas regiões afetaram a produção de grãos, que são essenciais para a alimentação das aves, elevando ainda mais os custos”, diz Aleksandra. “Quando a gente pensa em aumentos de milho e de soja, esses são os principais componentes da ração animal e acabam impactando diretamente no custo da produção de frangos”, completa.
Além disso, o preço do dólar também é um fator que pode influenciar. “A valorização da moeda americana encarece as exportações, mas também pode aumentar o custo de alguns dos insumos importados, impactando os custos de produção”, conclui.