O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse neste sábado (26) que as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil podem fazer a economia do estado retrair em até 2,7%.
"O efeito pode ser muito severo. Isso [o tarifaço] pode trazer um efeito que pode variar de 0,3% a 2,7% do PIB, de 44 mil a 120 mil empregos a menos, de uma perda de massa salarial de R$ 3 bilhões a R$ 7 bilhões por ano", disse.
Durante o painel "O Brasil que se Constrói nos Estados", no evento Expert XP 2025, Tarcísio também afirmou ao lado dos governadores Ratinho Junior (PSD), do Paraná, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, que prepara medidas para mitigar o impacto das sobretaxas, que devem entrar em vigor na sexta-feira (1º) caso o governo brasileiro não chegue a um acordo com Washington.
Entre as medidas, Tarcísio citou a medida anunciada pelo estado nesta semana de uma linha de crédito subsidiado de R$ 200 milhões para as empresas afetadas pelas tarifas.
Anunciada na quarta-feira (23), a linha Giro Exportador prevê taxas de juros a partir de 0,27% ao mês + IPCA, prazo de até cinco anos para pagamento e carência de até 12 meses. O limite de financiamento será de até R$ 20 milhões por cliente, de acordo com o governo.
"O que me preocupa é uma empresa global como a Caterpillar, que exporta muito para os EUA, poder desligar a chave aqui e ligar em outro lugar para fazer essa exportação, me preocupa a Embraer, que manda aviões executivos e comerciais, e a indústria da laranja", disse Tarcísio no evento.
Outra medida, ainda não anunciada oficialmente, mas citada pelo governador na terça (22) e neste sábado, é a liberação de créditos de ICMS a setores exportadores.
"Estamos buscando parlamentares e contrapartes americanos e empresas americanas, gente do governo americano que possa se sensibilizar para o tamanho do problema. Estamos fazendo isso de forma profissional, silenciosa, para ver se conseguimos atenuar esses efeitos", disse.
Tarcísio afirmou, em crítica indireta ao governo Lula (PT), que hoje vivemos em um momento no qual se quer tirar proveito político de tudo e que "nunca vamos fortalecer o assalariado prejudicando o empregador".
"Quando a gente fala em soberania, a pior agressão à soberania é a divisão interna. A divisão interna é o que enfraquece o país. Então, se a gente não botar a bola no chão, não agir como adulto e não resolver o problema, quem vai perder é o Brasil", disse.
Ratinho Junior e Ronaldo Caiado, que também participaram do painel e assim como Tarcísio despontam como possíveis candidatos às eleições de 2026, também criticaram o presidente.
"Nós vimos todo mundo levar a taxa para 15%, e o Brasil, fica a cada hora com uma frasezinha de efeito. 'É o imperador do mundo'. Vocês veem que não tem nada de responsabilidade, ele está fazendo isso num acirramento ideológico", disse Caiado após citar efeitos do tarifaço sobre a indústria de carnes e açúcar.
Já Ratinho Junior defendeu que o governo federal pare de discutir a desdolarização do comércio mundial.
"O Trump não pegou o Brasil para discutir esse assunto por causa de Bolsonaro. O Bolsonaro não é mais importante que a relação entre Brasil e Estados Unidos. Claro que pode ter até um afeto ali entre os dois, mas a discussão de desdolarizar o comércio, que nem a China, nem a Rússia, nem a Índia tocaram no assunto. Aí foi um brasileiro querer falar de desdolarização do comércio. Quer dizer, uma falta de inteligência", afirmou.
O governador do Paraná se referiu à agenda de incentivo ao uso de modelos de pagamento alternativos ao dólar por países do Brics. Ainda no ano passado, Trump exigiu que os países do Brics se comprometessem a não criar uma nova moeda ou apoiar outra divisa que substitua o dólar, sob pena de sofrerem tarifas de 100%.
A ideia de moeda alternativa tem apoio da Rússia e da ex-presidente Dilma Rousseff, que é a atual presidente do banco do bloco, o NDB. Mas, como a Folha mostrou, há setores no governo brasileiro que se opõem a essa agenda, além de outros países do Brics, como a Índia e os Emirados Árabes Unidos.
Na carta que anunciou as tarifas em 9 de julho, Trump disse que vai aplicá-las, em parte, devido "a caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um integrante do governo dos Estados Unidos afirmou à Folha que a Casa Branca avalia não ter percebido envolvimento relevante ou recebido ofertas significativas por parte do Brasil na negociação em torno das tarifas de 50% anunciadas sobre produtos importados do país.
A percepção é formada a uma semana do prazo programado para as sobretaxas entrarem em vigor, em 1º de agosto. O governo dos EUA prepara um decreto para instituir a medida.