Não se fala em outra coisa quando o assunto é doce: morango do amor. A releitura da clássica da maçã do amor, tradicional em festas juninas, virou uma febre generalizada após a receita viralizar nas redes sociais e tem multiplicado a procura pela fruta em hortifrutis de Belo Horizonte e região metropolitana.

A busca pelo produto é tão intensa que comerciantes já trabalham com estoques próximos do fim em alguns estabelecimentos. Nivaldo Santos é proprietário da rede HortiPlus, com três lojas na região da Pampulha e uma em Contagem. O morango vendido nas unidades vem da produção própria, em Diamantina, onde ele tem 250 mil pés da fruta plantados. Nos últimos dias, Santos contabiliza uma alta exponencial nas vendas. 

“É uma procura fora do normal. Para você ter uma dimensão, eu vendia em média 200 caixas de morangos por dia. Agora estamos vendendo 1.000 caixas”, conta. Com a alta procura, a rede passou a oferecer o morango em embalagens diferentes: uma bandeja grande com frutos maiores e outras menores seguindo o padrão habitual. “E tudo que a gente traz está vendendo”, assegura Nivaldo. 

Rede trabalha com embalagens em tamanhos distintos - Foto: Fred Magno / O TEMPO

Para conseguir suprir a demanda dos clientes, Nivaldo Santos cita que precisou aplicar defensivos nas plantações para acelerar a maturação dos morangos e conseguir fazer a colheita na segunda-feira. “O que tenho de estoque, que veio de Diamantina, vai embora hoje. Com certeza vai faltar porque o que tenho não atende a minha demanda”, diz ele.

Com a explosão de vendas, o preço subiu entre 20% e 30%. “Tivemos que ter esse aumento, infelizmente, para atender essa demanda. É uma febre recente, coisa de uns 10 dias para cá. Ninguém esperava esse movimento todo, até porque para produzir também tem um ciclo e época certas”, acrescenta Nivaldo que projeta um aumento na produção nas próximas semanas 

Pólo mineiro de morangos

Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), o Estado tem uma área plantada de morangos de 3,6 mil hectares e uma produção anual de 184,9 mil toneladas da fruta. "O cultivo é realizado, em sua maioria, por agricultores familiares, somando cerca de 11 mil pequenos produtores no estado. Os municípios que mais se destacam na produção são Espírito Santo do Dourado, Bom Repouso, Senador Amaral, Pouso Alegre e Estiva, todos no Sul de Minas", informa.

Em Barbacena, no Campo das Vertentes, também há um pólo morangueiro. Por lá, produtores e comerciantes têm tido dificuldade para suprir a demanda. Diovane Paulo, da Morangos Bico Doce, produz a fruta com o pai, Divino Paulo, e com a esposa, Iara Luiza. A plantação da família tem 4 mil mudas de morango e Diovane ressalta que o doce viral tem gerado uma procura direto aos produtores da cidade, já que nos mercados a fruta está em falta. 

“Estamos tendo muitos pedidos na internet, as pessoas já estão deixando caixas encomendadas”, destaca. Diovane vende as bandejas duas vezes por semana nas ruas da cidade. “Eu já chego com 20, 30 caixas já encomendadas”, conta ele, que vende de 70 a 80 caixas da fruta encomendadas - com 900 morangos cada. 

Anteriormente, ele vendia este volume até 19h. O estoque agora é comercializado até às 14h. “Eu tento não mudar o preço, porque se eu subir demais o meu preço, o cliente reclama. Mas tenho tentado reajustar, porque se não o produto acaba rápido e vendo a um preço baixo”, cita. “Meu pai produz há mais de 40 anos, eu estou com ele há oito anos. E está muito semelhante à demanda do Natal. Mas demanda como essa, nesta época do ano, eu nunca tinha visto”, garante. 

Confeiteiras lucram com a febre do morango do amor

Em meio à febre do morango do amor, confeiteiras têm vivido dias de trabalho intenso e pouco descanso para dar conta do volume de pedidos. Letícia Duque, de Contagem, diz que tem feito, por dia, de 200 a 250 morangos do amor.

“A minha rotina tem sido uma loucura, né? Visto que eu tenho uma criança de dois anos e meio em casa, fica mais corrido para dar conta de entregar mais quantidades, assim como os meus clientes pedem. Se eu tivesse dando conta de produzir a quantidade que eles pedem, eu acredito que eu estaria fazendo aí uns 500 a 1000 morangos por dia”, contabiliza ela, ainda assustada com o volume de pedidos. 

Confeiteira Letícia Duque celebra os ganhos com o doce, mas relata a jornada intensa de trabalho - Foto: Fred Magno/ O TEMPO

Para não correr o risco de ficar sem o morango, Letícia tem trabalhado com quatro fornecedores diferentes. “O volume de pedidos, eu posso te dizer, que está além de Páscoa e de Natal. Eu produzi em dois dias muito além do que eu produziria em duas Páscoas. É uma coisa que eu nunca vi igual na história. Uma loucura, nada fez tanto sucesso, nem o pistache que veio assim também em uma onda, com todo mundo querendo comer tudo com pistache”, ilustra. 

Letícia celebra a febre, que tem impulsionado o faturamento da empresa, a Duque Confeitaria. “Eu posso te falar que eu faturei em dois dias, o que eu não faturei na Páscoa deste ano, principalmente devido ao aumento do chocolate, né? Então assim, foi uma salvação. Nós confeiteiros estamos assim, assustados, mas assustados de uma forma boa, sabe? Encantados com isso, fico muito feliz e espero que dure muito tempo ainda”, comemora. 

A confeitaria brinca ainda que o doce deveria se chamar morango da esperança, devido ao alto volume de vendas. “A gente conseguiu pôr em dia a nossa vida financeira, conseguiu fazer um caixa. É uma coisa surreal”, finaliza.