Previsto para entrar em vigor na próxima sexta-feira (1º/8), o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem gerado impactos diversos na economia brasileira. As indefinições sobre a manutenção da taxa e as incertezas que rondam as negociações entre os governos brasileiro e norte-americano são responsáveis pelas recentes altas no dólar, dizem especialistas. 

Na última sexta-feira (25/7), a cotação da moeda subiu 0,76% e encerrou o dia em R$ 5,5619. Com o anúncio do acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia no domingo (27/7), a moeda voltou a registrar alta nesta segunda-feira (28/7), atingindo R$ 5,5805, avanço de 0,33%. Parceiros comerciais dos Estados Unidos, incluindo o Brasil, se empenham para concluir acordos antes desta sexta-feira (1º/8), data-limite estabelecida por Donald Trump para a aplicação de novas tarifas. 

“Acho que o dólar pode chegar até a R$ 5,80 muito mais por causa da incerteza do que pelo tarifaço em si. Não há indicativo de que o tarifaço não será mantido, o governo brasileiro não está tendo êxito em negociar, então a subida do dólar está mais ligada a essa incerteza do que de fato pelo que vai acontecer”, sublinha o especialista em comércio exterior, Jackson Campos. 

Ele explica que a variação do dólar está ligada à oferta e à demanda pela moeda. Quando as exportações diminuem, entram menos dólares no país, o que reduz a oferta e, consequentemente, provoca uma alta no câmbio. Com as sucessivas altas do dólar, tudo aquilo que é importado, de matéria-prima a maquinários, fica mais caro para o consumidor. 

“Tudo que a gente consome acaba ficando mais caro. O pão, por exemplo, fica mais caro porque a gente importa ferro e ácido fólico, que são adicionados à farinha e vêm da Índia e da China. O valor de produtos de consumo básico acabam subindo, além, é claro, do petróleo e do gás, que também são importados”, pondera Jackson Campos. 

Aumento é tendência

Segundo o economista do Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead), Paulo Casaca, a dificuldade de abrir negociações com o governo norte-americano e as incertezas que ainda envolvem a aplicação ou não da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros devem fazer com que o dólar continue subindo ao longo dos próximos dias, “mas é difícil fazer uma projeção mais exata do dólar”. 

“O mercado vai precificando esse movimento, desvalorizando o real, mas isso também tem um limite. Não acredito em desvalorização abrupta do real, não veremos um câmbio desvalorizado fortemente como se tivesse acontecido algo inesperado”, argumenta Casaca. 

Segundo o economista, uma vez que o anúncio do tarifaço já foi realizado, a dúvida agora gira em torno da manutenção da taxa de 50% em relação aos produtos brasileiros. “Isso a gente não consegue saber, sobretudo por se tratar de um governo extremamente imprevisível. Pode ser um blefe, o Trump tem interesses econômicos no Brasil”, avalia Paulo Casaca.

Os consecutivos aumentos do dólar, entretanto, não trazem impactos instantâneos ao consumidor brasileiro a curto prazo, de acordo com o economista do Ipead: “Esse valor é transferido para o preço final dos produtos a médio, longo prazo. Precisamos de uma desvalorização consistente ao longo de muitas semanas para isso acontecer. Demora um certo tempo".

Impactos na vida do brasileiro

O estrategista financeiro Silvio Azevedo também analisa os impactos para a economia brasileira caso o tarifaço dos Estados Unidos seja mantido. Ele diz que a incerteza sobre a manutenção da taxação em 50% e o clima de instabilidade política entre Brasil e Estados Unidos contribuem para a alta do dólar, gerando desvalorização do real, inflação e o aumento do preço dos produtos no mercado interno. 

Azevedo ressalta que o tarifaço pode aprofundar desigualdades regionais, prejudicar comunidades rurais e afetar a qualidade de vida do brasileiro. “A forte desvalorização do real frente ao dólar elevará rapidamente os preços de alimentos, combustíveis e eletrônicos, reduzindo significativamente o poder de compra das famílias. Empresas ligadas à exportação, especialmente nos setores de café, sucos e carnes, enfrentarão sérias dificuldades, levando ao risco de desemprego para milhares de trabalhadores, principalmente em regiões mais dependentes do comércio com os EUA”, afirma o estrategista financeiro.