Enquanto os serviços de TV por assinatura perdem espaço nos lares brasileiros, os serviços pagos de streaming seguem em crescimento. Em 2024, 32,7 milhões de domicílios passaram a contar com pelo menos uma plataforma de streaming, o que representa um aumento de 1,5 milhão em relação a 2023. O percentual de domicílios com televisão que contratam esse tipo de serviço cresceu de 42,1% para 43,4%, segundo dados do Módulo de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) da PNAD Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (24/7).
Streaming é a tecnologia que permite transmitir e acessar conteúdos em tempo real, sem a necessidade de download, por meio da internet. Entre as plataformas mais populares estão Netflix, Globoplay, YouTube, Amazon Prime Video, Disney+, HBO Max, Spotify, Apple Music, Deezer e Tidal.
Apesar da popularização desse formato, 91,8% dos domicílios com acesso ao streaming ainda mantêm o consumo de conteúdo televisivo: 86,9% por sinal aberto e 39,7% por TV por assinatura. Ainda assim, o número de domicílios exclusivamente conectados ao streaming segue em alta: 8,2% dos que utilizam esse tipo de serviço não têm acesso à TV aberta nem por assinatura. Esse grupo mais que dobrou desde 2022, quando representava 4,7%, o que equivale a 1,2 milhão de lares.
Para o economista Paulo Casaca, do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), o aumento no número de lares com acesso a plataformas digitais é um indicativo de melhora na qualidade de vida da população.
“Podemos considerar que é bastante positivo a população ter acesso a esse tipo de serviço, porque indica que a população brasileira não está utilizando a renda apenas para subsistência, mas também para algum tipo de lazer, né?”, analisa.
Segundo Casaca, o acesso à internet vai além do entretenimento:
“Quando a gente pensa na internet, a gente pensa não apenas para lazer, mas como um instrumento de comunicação, de trabalho, muitas vezes".
Média salarial de quem não tem streaming é de R$ 1.390
A renda per capita também se apresentou de diferentes entre os perfis de consumo dos brasileiros. O rendimento médio nos domicílios com acesso a serviços de streaming foi de R$ 2.950,00. Já entre os que também possuem canais de TV por assinatura, o valor médio sobe para R$ 3.903,00. Em contrapartida, os lares sem acesso ao streaming registraram renda média de R$ 1.390,00 - valor inferior a um salário mínimo, que é de R$ 1.525,00.
Na avaliação do especialista, o consumo de streaming também pode ser visto como reflexo do avanço digital e da inserção da população nos serviços online. “A gente pode considerar que o aumento no acesso à TV por streaming é, sem dúvida, um indicador de que a qualidade de vida da população tem melhorado. Se não houvesse recursos para investir nesse tipo de serviço, isso indicaria uma situação pior”, avalia Casaca.
Ele ressalta ainda que, atualmente, muitos dos serviços oferecidos pelo governo dependem do acesso a internet da população. “A gente pode citar aqui o gov.br, documentos digitais que utilizamos para veículos, imóveis, além de questões como a movimentação financeira via Pix, inscrição em concursos e o próprio trabalho remoto. O acesso à internet é fundamental para isso”, observa o economista. “Hoje, o acesso à internet, com certeza, é uma necessidade básica da população brasileira”.
Questionado se a diferença de renda entre os lares com e sem streaming pode ser interpretada como um marcador de exclusão digital, Casaca pondera: “O que eu consideraria um marcador de exclusão digital, sem dúvida nenhuma, é a falta de acesso à internet de banda larga fixa ou móvel. Isso, sim, é um indicativo claro de exclusão”. Vale lembrar que muitas vezes a internet de banda larga não alcança bairros periféricos de grandes cidades ou pequenos municípios.
*Estagiária sob supervisão