A tarifa de 50% de Donald Trump para todos os produtos brasileiros ainda não entrou em vigor, mas já tem efeitos práticos. Em Minas Gerais, pelo menos cinco empresas siderúrgicas paralisaram ou paralisarão as atividades devido à redução de pedidos de importadores norte-americanos, segundo fontes do alto escalão do setor. Elas são produtoras de ferro-gusa, matéria-prima do aço produzido nos EUA.
Existem 50 usinas de ferro-gusa em Minas atualmente. Elas empregam cerca de 10 mil pessoas diretamente, além dos empregos indiretos espalhados pela cadeia de fornecedores, como a silvicultura, que produz carvão vegetal para os fornos. Em 2024, o estado produziu 3,8 milhões de toneladas de ferro, das quais exportou 68%, sendo 84% desse volume vendidos aos EUA, de acordo com o Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer). "É muito difícil redirecionar essa produção no curto prazo. Toda a cadeia pode ser prejudicada com a tarifa", diz o presidente da entidade, Fausto Varela.
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Na Fergubel, em Matozinhos, na região metropolitana de Belo Horizonte, as férias coletivas de 120 dos 144 funcionários começaram na segunda-feira (28/07). Inicialmente, elas durarão 15 dias, mas é possível que sejam prorrogadas por mais 15, segundo o CEO da empresa, André Ribeiro Chaves.
“Entre 80% e 90% da nossa produção vão para os EUA. Na semana passada, um comprador ligou e mandou suspender as entregas do outro dia. Estou com as esperanças um pouco perdidas”, diz ele. A fábrica produz em torno de 5.000 toneladas de ferro-gusa por mês, volume pequeno para encher um navio de carga para os EUA, e por isso frequentemente enviado junto com a produção de outras empresas.
A dificuldade nas tratativas com os compradores é que, se as tarifas começarem a valer no patamar prometido, de 50%, seria inviável os importadores norte-americanos absorverem os custos. Ao mesmo tempo, seria impraticável para os exportadores brasileiros arcar com esse valor.
Em Sete Lagoas, na região Central, a Sama Siderurgia desligará o alto-forno nesta quarta-feira (30/07) sem previsão de retorno, de acordo com o gerente industrial, Thiago Valente Carneiro. Dos 150 funcionários, de cem a 120 serão colocados em licença. “A Sama tradicionalmente exporta 95% da produção, e o único mercado que estava comprando hoje eram os EUA. A Europa e a Ásia compram, mas é muito pouco”, explica ele.
Um dos pedidos de um cliente norte-americano foi cancelado quando a produção já havia sido iniciada. “O valor desse contrato de 1.000 toneladas era de US$ 400 mil. Para nós, que produzimos 5.000 toneladas por mês, é um grande contrato”, detalha o gestor.
O proprietário da Multifer, também em Sete Lagoas, Willian Reis, diz que aguardará as próximas semanas para definir os movimentos da fábrica, ainda esperançoso de que a tarifa possa ser amenizada. “A expectativa é que, caindo as tarifas, o mercado volte a consumir. Mas ainda temos a preocupação das chuvas a partir de outubro, quando falta carvão”, pontua.
A empresa já havia sido uma das siderúrgicas que paralisou as atividades por um dia no início de junho em protesto contra a entrada de aço importado no Brasil. A enxurrada de aço no país, especialmente vindo da China, derrubou preços no mercado interno e, segundo as empresas, ameaça o setor nacional. A resposta do governo federal foi prorrogar a alíquota de importação de 25% sobre uma série de produtos à base de aço.
Siderúrgicos se reúnem com Pacheco e ministro em Brasília
Representantes das siderúrgicas mineiras reuniram-se com o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) em Brasília nesta terça-feira (29/7) para discutir a negociação do governo brasileiro com o norte-americano. Por ora, ela não tem avançado, ao menos não publicamente.
As lideranças empresariais também esperam se encontrar com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nesta tarde. “Esperamos algum tipo de incentivo, algo na parte tributária que possa prestigiar o segmento e viabilizar a produção e venda para outros mercados que não sejam o norte-americano”, conclui o proprietário da Multifer, Willian Reis.