De um lado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou o início do tarifaço a partir desta sexta-feira (1º/8). De outro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as negociações com o governo norte-americano devem continuar evoluindo. No meio disso tudo, a Embraer, que será enormemente afetada caso a taxa de 50% seja implementada, aguarda um desfecho com ansiedade e apreensão, e corre o risco de ver sua operação no mercado dos EUA inviabilizada.
“A Embraer vê com preocupação o risco dos Estados Unidos elevarem suas tarifas para 50% a partir de 1º de agosto, pois isso poderia impactar significativamente as receitas e investimentos futuros da empresa, bem como nossos clientes e fornecedores nos EUA”, diz a companhia em nota enviada a O TEMPO.
A aflição é justificada, já que 30% da receita da empresa vem das exportações aos Estados Unidos. A expectativa da Embraer é que a tarifa de 50% anunciada por Trump seja reduzida significativamente. A companhia, que antes tinha isenção total nos EUA, já sofre com a elevação da taxa para 10%.
Está nos planos do governo brasileiro propor aos EUA que exclua a Embraer do tarifaço. Enquanto conta os minutos no relógio e indefinições surgem a todo momento, a companhia dialoga com autoridades nacionais e norte-americanas para tentar reverter a taxação. O presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, já afirmou, inclusive, que os efeitos da sobretaxa seriam tão negativos como foram os impactos da Covid-19.
Por parte do governo brasileiro, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, é um dos nomes à frente das negociações. Segundo Costa Filho, a Embraer opera atualmente com 1.700 aviões no mercado norte-americano.
O tarifaço, caso implementado nesta sexta (1º/8), deixaria cada avião comercial vendido aos Estados Unidos cerca de R$ 50 milhões mais caro, o que poderia inviabilizar as operações da empresa com o país. “Isso inviabiliza as operações da Embraer com os Estados Unidos”, disse o ministro durante a semana.
“A Embraer está ativamente engajada com as autoridades buscando restaurar a alíquota zero para o setor aeronáutico e continuamos confiantes de que os governos brasileiro e dos EUA chegarão a um acordo satisfatório para ambos os países, retomando a isenção de tarifas para o setor aeronáutico”, diz a nota da empresa, que divulgará, no dia 5 de agosto, os resultados financeiros do segundo trimestre.
De acordo com o economista e professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ricardo Hammoud, as tarifas anunciadas por Donald Trump vão afetar profundamente a Embraer. No curto prazo, as ações da companhia caíram e empresas aéreas norte-americanas com pedido à Embraer já cogitam não pagar a taxa. A Skywest, por exemplo, tem 74 aviões encomendados até 2032. O presidente da empresa, Chip Childs, já afirmou que não pretende pagar a tarifa.
Perda de receita e ‘impacto brutal’
Além da redução nos investimentos e da perda de receita e de lucro, o aumento dos custos vai tornar as aeronaves da Embraer pouco competitivas no mercado internacional e norte-americano, pondera Hammoud: “No médio prazo, se essas tarifas forem mantidas, a Embraer vai perder mercado nos Estados Unidos e outras empresas irão tomar seu lugar. A empresa vai ter que fazer uma redução nos investimentos e vários planos de expansão e de novos investimentos no Brasil vão ficar pendentes e podem até ser revistos para baixo”.
A longo prazo, o economista Ricardo Hammoud ressalta que a tarifa de 50% imposta por Trump terá “um impacto brutal na Embraer”. Caso perca o mercado dos EUA, o principal mercado de jatos do mundo, a companhia terá de rever o planejamento para os próximos anos, e isso inclui a busca por novos destinos comerciais, clientes e modelos de aeronaves.
“É capaz que as ações da Embraer continuem caindo e ela tenha que fazer um ajuste bastante severo no número de funcionários, no tamanho da empresa e nos investimentos, mas é claro que isso é no pior cenário possível, no qual as tarifas não são revistas e a Embraer não consegue encontrar novos mercados que consigam substituir o norte-americano”, conclui o professor da FGV.