Novos negócios para exportação de café aos Estados Unidos estão paralisados em meio à incerteza sobre a tarifa de 50% aos produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump, que entrará em vigor na próxima sexta-feira (1º de agosto). Com a taxa anunciada pela Casa Branca, o setor cafeeiro no Brasil teme a perda de parte do mercado norte-americano, principal destino para o produto. 

A constatação é do superintendente comercial da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), Luiz Fernando dos Reis. No Brasil, foram 8 milhões de sacas comercializadas com os Estados Unidos em 2024, segundo balanço da cooperativa. 

Luiz Fernando dos Reis cita que há uma preocupação com perda de parte do mercado, visto que outros países produtores de café, como a Colômbia e Vietnã, terão tarifas de 25% e 20% - inferiores à alíquota do Brasil. Nessa terça-feira, o secretário de Comércio da Casa Branca, Howard Lutnick, disse que há chance de o café ter alíquota zerada, por se tratar de um recurso natural e não produzido no EUA. 

No entanto, não há ainda uma definição sobre o assunto. “Estamos mais preocupados por conta da relevância e do volume de negócios com os Estados Unidos. Nós não tivemos ainda nenhum problema com os embarques que nós estamos fazendo. Ninguém pediu para cancelar ou prorrogar embarques programados. Os contratos estão sendo cumpridos, mas os novos negócios não estão acontecendo, porque todo mundo está esperando o desenrolar dos fatos”, destaca Reis. 

O superintendente da Cooxupé, a maior cooperativa do mundo no setor, cita que o café arábica cultivado na Colômbia, que concorre ao produto do tipo arábica brasileiro, é tão fino quanto o do Brasil, com diferenças no aromas e sabor. No caso do Vietnã, a produção negociada com os estadunidenses envolve os produtos do tipo robusta/canephora.

Nos dois países, tendo em vista a tarifa de 50% do Brasil, haverá vantagens financeiras em relação à cafeicultura brasileira. Luiz Fernando lembra que os grãos do Brasil são utilizados para formação de blends, com toques mais adocicados, que acabam consolidando o produto nas características habituais de consumo dos norte-americanos. 

“Os blends formam o café que o consumidor americano está acostumado. Pode haver alguma migração de alguma outra origem? Pode haver. Mas essas outras origens, apesar de produzirem também bastante café, não produzem igual ao Brasil, são muito menores e não têm condições de abastecer na totalidade a demanda dos Estados Unidos”, detalha. 

Dificuldade em abrir novos mercados 

Em uma possível redução nos embarques de sacas aos Estados Unidos, Luiz Fernando Reis, da Cooxupé, salienta que mercados emergentes, como na Ásia e Oriente Médio, são alternativas ao café brasileiro, tendo em vista que o consumo na Europa e na América do Norte já está consolidado. Na China, entre 2008 e 2024, o consumo de café saltou de cerca de 340 mil sacas por ano para mais 6,2 milhões no ano passado. 

Do total de sacas consumidas pelos chineses, pouco mais de 2,5 milhões saíram do mercado brasileiro, conforme o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Em Minas, segundo o governo, as negociações de café com o mercado da China resulta em mais de US$ 250 milhões.

“A China já tem o maior número de cafeterias do mundo, então é um modelo diferente de se tomar café. Eles comercializam bebidas à base de café, não é só o café. Isso tem atraído um público jovem e isso é excelente para o futuro. Porém, não são blocos consolidados e não é tão fácil assim você virar uma produção que iria para um destino em um percentual tão alto e mandar para o outro”, lembrou o superintendente da Cooxupé.

A diretora executiva da Câmara Internacional de Negócios e Câmara Chinesa de Comércio do Brasil, Mariana Bahia, acredita que a médio prazo a China pode absorver uma fatia maior da oferta de café do mercado brasileiro. "A curto prazo, dificilmente os produtos brasileiros teriam um novo direcionamento à China, uma vez que a pauta exportadora com o país é diferente da que temos com os EUA. Já a médio prazo, pode ser uma oportunidade para produtos em ascensão no mercado asiático. Um exemplo é o café especial brasileiro, que hoje possui uma grande entrada no mercado norte-americano e tem sido cada vez mais consumido na China. Em um futuro próximo, o mercado chinês pode ser um grande comprador deste produto em contraponto ao mercado americano", pondera.

Preço aumenta 

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Departamento de Economia, Administração e Sociologia (Cepea) da USP mostram que, desde o anúncio de Trump da tarifa de 50% a produtos brasileiros, o preço do café no mercado internacional subiu quase 7%. A saca do arábica subiu de R$ 1.685,52 para R$ 1.801,23. “O setor cafeeiro nacional segue marcado por incertezas”, diz o Cepea, em boletim publicado nesta quarta-feira. 

Pesquisadores da USP citam que a entrada em vigor da tarifa tende a impactar não apenas a competitividade do café nacional, mas também os preços ao consumidor norte-americano e a formulação dos blends tradicionais, que utilizam os grãos brasileiros como base sensorial e de equilíbrio.

"O Brasil, por sua vez, pode ser forçado a redirecionar parte de sua produção a outros mercados, exigindo agilidade logística e estratégia comercial para mitigar os prejuízos à cadeia produtiva nacional”, alerta o Cepea. Com a tarifa de 50%, Luiz Fernando Reis, da Cooxupé, ressalta que os custos adicionais de importação ficarão a cargo das empresas norte-americanas, podendo gerar pressão aos preços no Brasil aos novos negócios.

“A nossa responsabilidade é com o frete até o Porto de Santos. O frete marítimo, até chegar lá, é tudo por conta do importador. Adicionar o alto custo com a tarifa de 50% vai bater no bolso do consumidor norte-americano", arremata.