O café não está na lista de quase 700 produtos brasileiros isentos do tarifaço de Trump, portanto será sobretaxado a partir da próxima quarta-feira (6/7). Os EUA são o principal destino internacional da produção do Brasil e, só de Minas Gerais, compraram o equivalente a US$ 1,5 bilhão no último ano, de acordo com o governo mineiro. Agora, com a expectativa de encolhimento das vendas para os norte-americanos, o café nacional ficará mais barato para os brasileiros?

Em um primeiro momento, pode ser que sim, avalia o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), Antônio de Salvo. “Em um primeiro momento, pode haver derramamento de produtos no mercado”, pontua. O café moído acumula uma inflação de quase 78% em 12 meses, segundo dados de junho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Mas o possível alívio é passageiro, acrescenta o representante do agro: “em um segundo momento, ninguém mais cultivará o produto. Ele não ficará mais barato. Imagina se você perder o emprego: vai trabalhar pela metade do preço ou trocar de profissão?”, diz. Ele analisa que a diminuição do mercado externo pode levar produtores a abandonar a cultura.

Entenda mais. Por que café e carne ficaram de fora da lista de exceções do tarifaço de Trump?

De Salvo avalia que a China, ainda que tenha ampliado o consumo de café nas últimas décadas, não tem demanda o bastante para absorver a exportação brasileira no patamar dos EUA. “Seria preciso uma mudança de hábito”, pontua. Já a carne, também sobretaxada pelos norte-americanos, pode ganhar mais espaço no mercado chinês. “Na medida em que o mundo asiático passa a ter mais poder aquisitivo, passa a se alimentar de carne vermelha, principalmente do Brasil. Não nos faltará mercado, mas definitivamente não queremos abalar um grande comprador como os EUA”.

O presidente da Faemg diz manter a esperança de que os EUA revejam a lista de isenção e incluam nela o café — quase um terço da bebida no país é importado do Brasil. “Falta separar o negócio da política. A política pode continuar como os governos quiserem”, enfatiza.

Já tivemos isenção do suco de laranja, agora precisamos de atenção especial ao café e às frutas. Não gostaríamos que nenhum dos nossos produtos perdessem mercado, e ainda acredito em uma saída conciliatória”, conclui.