O dólar fechou em alta de 0,21% nesta quinta-feira (31/7), cotado a R$ 5,600, um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicar o decreto que oficializa a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros. A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) na véspera, depois do fechamento do mercado, também norteou as operações.

Na Bolsa, a repercussão foi mais acentuada. O Ibovespa caiu 0,68%, a 133.071 pontos, apesar da nova disparada da Embraer. Em decreto publicado na tarde de quarta-feira, dois dias antes do fim do prazo para negociação, o governo Donald Trump chancelou as sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros. Mas uma série de bens, a incluir alimentos, minérios, produtos de energia e aviação civil, ficará isenta.

A lista de exceções é extensa: 694 produtos ficaram de fora das tarifas, sendo 565 referentes ao setor de aviação. A sobretaxa de 50% havia sido anunciada por Donald Trump no dia 9 de julho e é a maior entre as impostas para parceiros comerciais dos norte-americanos. Ela entrará em vigor no dia 6 de agosto.

A medida visa "lidar com as políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos", diz o decreto, que cita o nome de Jair Bolsonaro (PL) e diz que ele sofre perseguição do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O texto não faz qualquer menção ao comércio bilateral entre Brasil e EUA. Não há uma única referência a superávit, déficit ou volume de trocas entre os dois países.

"Membros do governo do Brasil têm tomado medidas que interferem na economia dos EUA, infringem os direitos de liberdade de expressão dos cidadãos norte-americanos, violam os direitos humanos e minam o interesse dos Estados Unidos em proteger seus cidadãos e empresas", afirma o documento.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que há muita injustiça na medida e que o governo brasileiro vai "recorrer nas instâncias devidas, tanto nos Estados Unidos quanto nos organismos internacionais, no sentido de sensibilizar". "Isso não interessa à América do Sul, nós estamos no mesmo continente, nós estamos buscando mais integração, mais parceria."

O chefe da equipe econômica avalia que as exceções de quase 700 itens colocam o país em um "ponto de partida mais favorável" e afirma que as negociações continuam. "Essa semana é o começo de uma conversa mais racional, mais sóbria, menos apaixonada", disse.

Já o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), falando em entrevista ao programa Mais Você, da TV Globo, avalia que ainda há espaço para mais negociações com os EUA e que a taxação do Brasil é uma situação de "perde-perde". Cerca de 45% das exportações brasileiras estão excluídas da tarifa de 50%, segundo ele.

As exceções ao setor aéreo deram fôlego às ações da Embraer. Após fecharem em disparada de quase 11% na véspera, os papéis da fabricante de aeronaves subiram mais de 5% nesta sessão.
A força da companhia, no entanto, não foi suficiente para tirar o Ibovespa do vermelho. Vale pressionou o índice no negativo, em queda de 0,7% por causa da desvalorização do minério de ferro na China, e Petrobras recuou 0,5%. Ambev caiu 5% após o balanço financeiro do 2º trimestre frustrar as expectativas dos investidores.

O mercado também pesa a decisão de política monetária do Copom na véspera, quando o comitê optou por manter a taxa Selic inalterada em 15% ao ano e encerrou o ciclo de alta. O colegiado seguiu o plano traçado no encontro anterior, em junho, quando indicou a pausa a fim de examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado.

No comunicado que explica a decisão, o Copom cita a guerra comercial com os Estados Unidos logo na primeira frase: "O ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos EUA, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos".

Para Adriana Dupita, economista para mercados emergentes na Bloomberg Economics, os efeitos do tarifaço são incertos. "Se nada mais acontecer, a decisão tende a ser desinflacionária, porque afeta a atividade econômica, menos pressão de demanda, menos inflação", diz.

"O BC terá oportunidade de dar mais detalhes sobre como enxerga o impacto das tarifas em setembro, quando publica seu relatório de política monetária, e quando, provavelmente, já terá informações sobre a retaliação, caso haja, por parte do Brasil."

O mercado também digeriu a decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). A autoridade manteve os juros inalterados na faixa de 4,25% e 4,5%, apesar da crescente pressão de Trump pelo afrouxamento da política monetária.
A decisão foi justificada com base no mandato duplo do Fed. O banco central visa atingir o pleno emprego e a convergência da inflação à meta de 2%, e "as incertezas quanto às perspectivas econômicas permanecem elevadas", diz o comitê.

Jerome Powell, presidente do Fed, indicou que não há pressa em reduzir os juros -algo que, em tese, é favorável à moeda norte-americana. Powell também deu poucas informações sobre quando os juros poderão cair novamente.

A disputa pela formação da Ptax de fim de mês também influenciou o câmbio. Calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).