A Associação Brasileira da Indúndustria Química (Abiquim) manifestou nesta sexta-feira (1/8) preocupação com o decreto publicado no dia 30 de julho pelo governo dos EUA, que estabelece uma tarifa de 50% sobre vários produtos brasileiros exportados para o país, a partir de 6 de agosto de 2025. “O impacto será expressivo sobre as exportações brasileiras de produtos químicos, comprometendo cadeias produtivas, empregos e investimentos no Brasil e nos EUA”, afirma André Passos Cordeiro, presidente-executivo da entidade.
Segundo ele, o setor químico brasileiro tem uma relação histórica e estratégica com os Estados Unidos, com forte integração produtiva e investimentos cruzados. Mais de 20 empresas químicas instaladas no Brasil são de capital norte-americano, operando em diversos segmentos, informa. Ainda de acordo com a entidade, em termos de balança comercial, os EUA mantêm um sólido e recorrente superávit setorial frente ao Brasil, com saldo anual próximo de US$ 8 bilhões. Em 2024, a alíquota efetiva aplicada pelo Brasil aos produtos químicos de uso industrial dos EUA foi de 7,7%, considerando a média ponderada pelo valor importado.
Em contrapartida, as exportações brasileiras de produtos químicos para os EUA somaram US$ 2,4 bilhões em 2024, com 82% desse valor abrangendo petroquímicos básicos, intermediários orgânicos e resinas termoplásticas. De 50 principais itens, apenas cinco não serão afetados pela nova tarifa. São eles:
Produtos Químicos Inorgânicos
- Silícios
- Alumina calcinada
- Óxidos, hidróxidos e peróxidos de outros metais
Produtos Químicos Orgânicos
- Misturas de hidrocarbonetos aromáticos
- Derivados clorados saturados dos hidrocarbonetos acíclicos
Estes cinco produtos representaram US$ 697 milhões exportados pelo Brasil aos EUA em 2024 e permanecerão isentos da tarifa adicional. A Abiquim informa que o restante do valor exportado — aproximadamente US$ 1,7 bilhão — será atingido pela alíquota extra de 40%, elevando a carga total para 50% a partir de 6 de agosto. Além das exportações diretas, há preocupação com os efeitos indiretos da medida.
"Diversas indústrias brasileiras que produzem insumos e matérias-primas para setores exportadores — como móveis, têxteis, artefatos de couro e borracha — já estão reportando cancelamentos de pedidos por parte de compradores norte-americanos."A Abiquim apoia a atuação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e de outras autoridades brasileiras na busca por uma solução rápida e efetiva por meio dos canais diplomáticos e comerciais com os EUA. É essencial reforçar a governança do sistema multilateral de comércio e evitar retrocessos que fragilizem relações estratégicas entre os países”, acrescenta André Passos Cordeiro.
No âmbito setorial, a Abiquim e o American Chemistry Council (ACC) apresentaram uma declaração conjunta aos governos do Brasil e dos EUA solicitando ações para evitar danos à integração produtiva e à resiliência das cadeias de suprimento químicas, com foco em medidas de facilitação de comércio e cooperação regulatória.
Como medidas emergenciais, "a Abiquim defende a aplicação de direito provisório de defesa antidumping e o reforço dos recursos humanos e tecnológicos para resposta rápida a desvios de comércio, a devolução imediata de saldos credores de ICMS, a ampliação do Reintegra para 7% e sua extensão a empresas de todos os portes, além da criação de novas linhas de financiamento à exportação. A Abiquim seguirá atuando junto às autoridades brasileiras e internacionais para buscar formas de mitigar os impactos sobre o setor, promovendo um ambiente de diálogo construtivo e cooperação bilateral", defende a entidade, em nota enviada para a imprensa.
“Nossa expectativa é de que as negociações avancem com base em critérios técnicos e econômicos, distantes de motivações geopolíticas ou medidas arbitrárias, respeitando a lógica da integração produtiva entre Brasil e Estados Unidos”, finaliza o presidente da entidade.