Embora, a princípio, o setor de etanol no Brasil não deva ser alarmantemente afetado pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, permanece o temor do segmento em relação ao futuro. Como o produto tem sido usado como ‘moeda de troca’ do governo norte-americano nas tratativas com outros países, não se descarte a hipótese de que a mesma situação ocorra por aqui. Atualmente, os estadunidenses pagam uma taxa de 18% para exportar o etanol para o Brasil, e uma redução nesse percentual poderia causar sérios danos ao cenário nacional. Essa é a avaliação de Mário Campos, presidente da Associação da Indústria da Bioenergia e do Açúcar de Minas Gerais (SIAMIG Bioenergia).
O etanol foi um dos produtos que não entraram na lista de exceções do tarifaço de Trump, sendo taxado a 50%, além dos 2,5% que já eram pagos anteriormente. No entanto, conforme Campos afirma, isso não deve afetar tanto o setor. Ele lembra que, no ano passado, o Brasil produziu 37 bilhões de litros do produto e exportou para os Estados Unidos 300 milhões de litros. Por outro lado, os norte-americanos produziram 60 bilhões de litros e venderam 100 milhões de litros para o Brasil.
“A adoção dessa tarifa não prejudica o Brasil na questão do etanol, pois o impacto é mínimo diante dos números relacionados à exportação. Por outro lado, os Estados Unidos têm uma produção excedente e precisam mandar para fora, já que não têm como consumir tudo. Hoje, pagam 18% de tarifa para exportar para o Brasil, mas querem reduzir esse percentual. Isso, sim, seria muito prejudicial para o país. Haveria mercado consumidor aqui, mas teríamos queda abrupta dos preços e uma perda enorme de valor para o setor”, diz ele.
Campos lembra que os Estados Unidos têm colocado o etanol em acordos feitos com outros países, como Reino Unido, Vietnã, Japão e Indonésia, e isso também poderia acontecer em relação ao Brasil. “Eles querem que o mercado brasileiro reduza a tarifa para importar para cá, mas isso seria muito ruim”, diz Campos.
Cenário atual
O presidente da SIAMIG Bioenergia destaca que, atualmente, Brasil e Estados Unidos são responsáveis por 80% da produção mundial de etanol. No entanto, o produto brasileiro tem uma menor pegada de carbono, e é por isso que os norte-americanos o exportam, mesmo tendo uma produção excedente. O etanol brasileiro, conforme destaca Campos, é utilizado sobretudo na Califórnia, devido às suas políticas ambientais mais rigorosas. Ao contrário do produto estadunidense, feito a partir do milho, o do Brasil é feito a partir da cana-de-açúcar. Isso o torna mais sustentável porque a absorção de CO2 no período de crescimento compensa as emissões.
“O Brasil está com o mercado interno equilibrado, fez a sua lição de casa na substituição da gasolina pelo etanol, o que não aconteceu da mesma maneira nos Estados Unidos", diz ele.
Nesta sexta-feira (1º de agosto), inclusive, entrou em vigor, no Brasil, a medida que determina concentração de 30% de etanol na mistura de gasolina, mas isso não significa que o país precisa de mais produto ou que não seria impactado por um volume maior de importação na possibilidade de diminuição de tarifa. “Não precisamos de etanol importado. O setor já estava preparado para atender a essa mudança para os 30%”, diz ele.
Campos defende que, como dois grandes produtores mundiais, Brasil e Estados Unidos deveriam unir forças, em vez de disputarem entre si.
“Os dois países deveriam ser parceiros para criar mercados ao redor do mundo, seja por meio da mistura de etanol na gasolina, seja na inserção do etanol como importante insumo na produção de outros biocombustíveis”, finaliza ele.