Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificaram que o tarifaço de Donald Trump, apesar de causar um efeito sistêmico à economia brasileira, vai gerar oportunidades de negócios bilionários ao país. Em novo estudo, publicado nesta terça-feira (7/8), os estudiosos da instituição calcularam que o país pode abrir uma corrente de US$ 4,5 bilhões com o envio de produtos a novos mercados como alternativa aos Estados Unidos.
O cálculo foi feito levando em consideração a taxa de 50% aplicada ao Brasil e cita as alíquotas direcionadas pela Casa Branca a outros países. O estudo também incluiu a retaliação de da China aos EUA. O levantamento foi realizado pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea) do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG.
Um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, João Pedro Revoredo explicou que o valor de possíveis novos negócios foi obtido a partir da possibilidade de produtos não enviados aos Estados Unidos serem destinados, por exemplo, ao mercado chinês. Outra possibilidade é o Brasil preencher uma lacuna no fluxo comercial entre Pequim e Washington devido às tarifas, fortalecendo negócios com o país asiático. O principal exemplo seriam as exportações de sementes oleaginosas de sementes oleaginosas, que poderiam gerar uma receita de US$ 1.578 bilhão.
“Mas cabe ressaltar que essa possibilidade para o Brasil não é suficiente para superar o prejuízo que a gente vai sofrer por conta dos Estados Unidos”, disse Revoredo. O estudo calculou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode sofrer uma perda entre R$ 12 bilhões a R$ 31 bilhões, em até dois anos, com a redução das exportações aos Estados Unidos. Ademais, cerca de 57 mil empregos poderiam ser perdidos no país.
Anteriormente, antes de Trump anunciar a isenção a quase 700 produtos, o cálculo apontava para 110 mil postos de trabalho sob ameaça. “A economia brasileira sofre com essa medida dos Estados Unidos, mas o cenário já é melhor do que era em julho, por exemplo. Eu acho que isso é uma das grandes lições que a gente tira neste momento. Tanto a lista de isenções, quanto a retaliação chinesa e os outros países se movimentando, esse conjunto ajuda o Brasil”, acrescentou Revoredo.
Impacto sistêmico
De acordo com a pesquisa, as tarifas impostas pelos Estados Unidos geram problemas não só aos mercados exportadores diretamente afetados, mas impactam negativamente a diversos indicadores macroeconômicos do país. O levantamento estima que o consumo das famílias pode ter uma retração de 0,26%, enquanto as exportações brasileiras podem cair 2,83% apenas nas negociações com os EUA, e de 1,19% considerando todos os envios feitos do mercado brasileiro ao exterior.
Há risco de redução nos níveis de investimentos no país, em função, segundo os pesquisadores, de um ambiente de menor confiança e expectativas baixas em torno do crescimento econômico. “Os Estados Unidos são uma potência mundial e todo mundo quer ser parceiro econômico e comercial. Mas colocar barreiras ao comércio, isso a literatura econômica fala com muita tranquilidade, que não faz bem para ninguém. Se os Estados Unidos quiserem manter essa posição, de fazer uma política comercial mais restritiva, de barreiras, o caminho natural do Brasil será procurar outros parceiros”, complementou João Pedro Revoredo.