A Cemig se prepara para reduzir sua participação na Light de praticamente metade (49,9%) para menos de um terço (30%). Atualmente, a mineira detém 102 milhões das 204 milhões de ações da carioca, mas pretende vender 11,11 milhões (10,9%) dos seus papéis.
Com base na cotação de ontem (R$ 18,46), a Cemig arrecadaria R$ 205 milhões. O montante seria suficiente para pagar 14% da dívida com vencimento para 2019, que é de R$ 1,48 bilhão. Ao todo, a mineira deve R$ 12,7 bilhões.
A venda faz parte de uma operação maior anunciada pela Light que, além das 11,11 milhões de ações da Cemig, pretende vender novas 100 milhões de ações. Se todo o lote for vendido, a Light arrecadará cerca de R$ 2 bilhões. O valor dá para pagar a dívida de R$ 1,88 bilhão que vencerá neste ano, mas, ao todo, a companhia tem débitos de R$ 8,2 bilhões.
O diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer, explica que, apesar de perder participação, a Cemig terá uma fatia de uma empresa com mais valor de mercado do que o atual.
“Se hoje a Cemig tem metade de uma empresa com 204 milhões de ações, depois da venda terá um terço de uma empresa com 304 milhões”, avalia Storfer, que também é CEO da consultoria América Energia.
Para o especialista, outra vantagem para a Cemig é a ampliação do caixa. “É uma possibilidade para diminuir o endividamento”, ressalta Storfer.
Procurada, a Cemig disse que não pode comentar o assunto. Mas em comunicado ao mercado publicado no dia 1º de julho, destacou que não tem intenção de usar seu direito de preferência como acionista na oferta das 100 milhões de ações que a Light fará.
“Já faz muito tempo que a Cemig vem dizendo em alto e bom som que quer se desfazer da Light. No entanto, se o objetivo é se capitalizar, esse plano é meio tímido. A não ser que a ideia seja se manter por mais um tempo na companhia carioca, para vender depois, quando a ação se valorizar mais”, avalia o analista de mercado Alexandre Furtado.
O procedimento de coleta de intenções de investimento (bookbuilding) será encerrado no dia 8 de julho. A fixação do preço por ação será realizada no dia 11.
A negociação no segmento do Novo Mercado da B3 será feita no dia 15 de julho, com encerramento no dia 16
Oferta pode render até R$ 2,5 bilhões
A venda de ações da Light pode render até R$ 2,5 bilhões. O montante considera a oferta primária de 11,11 milhões de papéis da Cemig; a oferta secundária com 100 milhões de novas ações da Light, e outras 22,22 milhões, de um lote adicional de 20% que ainda poderá ser incluído na operação até o encerramento da coleta de preços.
De acordo com a própria empresa, os recursos líquidos provenientes da oferta primária serão destinados para fortalecimento e otimização da estrutura de capital da Light, reduzindo seu nível de endividamento e melhorando sua posição de caixa. Se a estimativa se confirmar, a Light conseguiria quitar 30% da dívida total de R$ 8,2 bilhões.
Na avaliação do analista de mercado Alexandre Furtado, um possível comprador seria o grupo italiano Enel, uma multinacional dos ramos de energia e gás, com atuação em mais de 34 países.
“Esse grupo seria um possível interessado porque comprou a Ampla, que é a concorrente da Light no Rio de Janeiro. Portanto, a aquisição faria sentido para fortalecer a atuação num mercado onde já está presente”, analisa Furtado. A Light atende cerca de 4,5 milhões de clientes em 31 municípios do Rio de Janeiro.