O Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais caiu 0,7% no segundo trimestre deste ano, em comparação com os primeiros três meses, para R$ 155,8 bilhões, puxado principalmente pela queda da indústria extrativa mineral. O resultado tem relação direta com o rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana, em janeiro, que reduziu significativamente a produção da Vale. Em comparação com o mesmo período de 2018, houve redução de 0,5% do PIB, segundo dados apresentados ontem pela Fundação João Pinheiro (FJP).
No segundo trimestre, a indústria de extração mineral caiu 22,2% em relação ao trimestre anterior, quando o setor já havia registrado queda de 20,6%. Quando comparada com o mesmo período do ano passado, a redução foi de 42,6%.
“Somente esse fato explica quase a totalidade da variação negativa do PIB. Os serviços também tiveram resultado negativo de 0,4%, devido, principalmente, ao setor de transportes. Parte importante do nosso transporte de cargas está relacionada com o escoamento da produção mineral”, afirma o coordenador de contas regionais da FJP, Raimundo de Sousa.
De acordo com relatório da própria Vale, os sistemas Sul e Sudeste da mineradora produziram, juntos, 22,1 milhões de toneladas de minério de ferro no segundo trimestre deste ano, 27,9 milhões de toneladas a menos do que no mesmo período de 2018. Os números foram resultado da paralisação de operações como a da mina de Alegria, em Mariana, na região Central do Estado, e do complexo de Vargem Grande, em Nova Lima, na região metropolitana, por 91 dias.
A agropecuária apresentou variação de 5,9% no segundo trimestre. Os setores de construção civil e comércio também cresceram.
Negativo. O resultado do primeiro trimestre foi revisado e caiu 0,2% em relação aos últimos três meses de 2018. Apesar das duas quedas consecutivas do PIB, não é possível afirmar que haja recessão técnica no Estado, uma vez que os números ainda podem sofrer ajustes. No primeiro semestre, não houve variação do PIB em relação ao mesmo período de 2018.
O professor de economia do Ibmec Felipe Leroy diz que a dependência do minério é preocupante, mas ressalta a dificuldade da diversificação da matriz econômica no curto prazo.
“O Estado não tem fôlego pra fazer política pública para diversificar nossa economia. O minério é muito representativo, e um desastre dessa proporção afeta a produção e a penetração internacional; a arrecadação do governo e a capacidade de emprego e renda caem, e o PIB nada mais é do que a produção final”, explica.
Cenário para o resto do ano ainda está incerto
A previsão de crescimento da construção civil, em oposição à queda dos serviços, dificulta uma previsão para o PIB no segundo semestre, segundo o coordenador de contas regionais da Fundação João Pinheiro (FJP), Raimundo de Sousa.
“Temos dois conjuntos de informação contraditórios. Talvez o que possa ter mais importância, do ponto de vista do impacto no mercado de trabalho, é que a construção civil já ensaia de maneira mais sustentável uma recuperação. Isso pode gerar estímulos importantes para a economia recuperar sua trajetória de retomada do crescimento”, diz.
“O problema é que, por outro lado, parte dos serviços, como alimentação fora de casa, educação e saúde do setor privado, não tem mostrado uma tendência mais forte de retomada de crescimento desde o segundo semestre de 2017. As famílias ainda estão endividadas, e há uma incerteza muito grande sobre a manutenção do emprego”, afirma Sousa.
Brasil. No país, o PIB cresceu 0,4% no segundo trimestre em comparação com o primeiro. A previsão de crescimento da economia é de 0,85% no ano.