Locomover-se pela cidade, enquanto as atividades presenciais voltam a se tornar rotina, não está fácil para o bolso ou para a comodidade do trabalhador. Para quem se locomove de carro, pesa a alta da gasolina, cujo preço aumentou pelo menos 35% desde janeiro em BH, segundo o site de pesquisa Mercado Mineiro, ao mesmo tempo em que a elevação do etanol, que ultrapassou 70% do valor da gasolina, o torna inviável há meses. Os carros de aplicativo cancelam sucessivas viagens e deixam o consumidor na mão, enquanto os ônibus continuaram lotados durante toda a pandemia, mesmo sob risco de contágio pelo coronavírus.
Agora, quem precisa sair de casa faz malabarismos e tenta colocar na ponta do lápis o que é mais vantajoso. Levantamento do Mercado Mineiro, divulgado na última semana, mostra que a diferença de preço entre aplicativos de carro, por exemplo, chega a quase 71% para o mesmo trajeto, saindo da praça Marília de Dirceu, no Lourdes, até a Praça Sete, no Centro de BH, considerando Uber, 99 e o aplicativo da Coopertaxi.
7 de outubro, às 16h15:
-Uber: R$11,90
-99: R$8,40
-Coopertaxi: R$11,41
Diferença do menor para o maior preço: 41,67%
20 de outubro, às 16h10:
-Uber: R$9,96
-99: R$5,85
-Coopertaxi: R$10
Diferença do menor para o maior preço: 70,94%
“O consumidor não pode ser fiel a um aplicativo, tem que instalar três, quatro e comparar o preço, porque se fidelizar a uma empresa é perder dinheiro. Também vemos que o preço dos apps está chegando ao mesmo preço dos táxis”, pondera o administrador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu. Nos testes realizados pelo Mercado Mineiro, o valor de Uber e de táxi quase se igualou. Em testes realizados pela reportagem, porém, para distâncias mais longas, como da Praça Sete à sede de O TEMPO, em Contagem, a corrida de táxi chegou a ser quase R$14 mais cara.
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Apesar dos transtornos de cancelamento de corrida e aumento do valor das viagens, o advogado Rogério Santana, 40, segue dependente dos aplicativos para se locomover desde antes da pandemia. “Cheguei a olhar preço de carro e fiquei chocado, não vale mais a pena. Também olhei aluguel de carro por assinatura, mas, quando passei no posto e vi o preço da gasolina, já afastei a ideia. Como uso muito aplicativo, já tenho algumas vantagens e recebi preço fixo para o trajeto de casa para o trabalho”, diz.
Ônibus ainda causa receio, mas atrai por economia
A demanda por transporte público em BH segue 35% menor do que o habitual de antes da pandemia, segundo a BHTrans. Para alguns belo-horizontinos, locomover-se de ônibus foi a única opção durante toda a pandemia. Mas, mesmo para quem tem condições financeiras de arcar com outras modalidades de locomoção, o transporte público tem atraído mais, com a alta do combustível e a dificuldade para encontrar carros por aplicativo.
A consultora de imagem Ariane Gervásio, 35, gastava cerca de R$300 mensais para ir de casa, no Carlos Prates, até o escritório, na região da Savassi. Nos últimos dois meses, porém, passou a revezar carona de um colega e viagens de ônibus, reduzindo o gasto com transporte pela metade.
“O preço das corridas por aplicativo aumentou e eu estava esperando 30, 40 minutos por um carro. Ainda tenho medo do ônibus, já vi uma mulher no coletivo discutindo que não usaria máscara, por exemplo. Mas ter tomado a segunda dose da vacina me deixa mais tranquila”, conta. Pesquisa do Centro de Excelência BRT+, em parceria com a consultora WRI Brasil, realizada em nove capitais da América Latina, mostrou que mais de 60% das pessoas estavam muito ou extremamente preocupadas com a higiene no transporte coletivo em BH.
O designer gráfico Marcelo Batista, 41, tem recorrido ao transporte público para trabalhar, mas ainda depende de carros de aplicativo quanto está com equipamentos de trabalho. “Se volto para casa no horário de pico, das 17h às 18h, fico até 1h30 esperando o carro. Para trajetos de 20 minutos, no meu bairro, antes eu pegava carro, agora faço a pé”, completo.