O mercado de bicicletas no Brasil teve queda de 35% nas vendas em 2022, após uma disparada em 2020 e 2021, mas ainda sustenta os índices do período pré-pandemia de Covid-19. No ano passado, foram comercializadas 3,8 milhões de bikes, número parecido com o de 2019, quando os brasileiros compraram cerca de 4 milhões de unidades.
Em 2020 e 2021, período em que a crise sanitária foi mais grave no país, as vendas de bicicletas chegaram a 6 milhões de unidades por ano. Mas depois de tanta procura, o mercado se estabilizou.
“A gente está comparando o ano de 2022, obviamente, com um momento de demanda muito aquecida, que foi 2021 e o segundo semestre de 2020, período na última década com maior procura e venda de bicicletas”, explica Daniel Guth, diretor executivo da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike).
Nos últimos anos, a busca pelas bikes foi tão grande que as lojas tiveram dificuldade em suprir toda a demanda. Mas em 2022, as condições da economia como a inflação e os juros altos reduziram o poder de compra das famílias e a venda de bicicletas, na avaliação do diretor da Aliança Bike.
No ano passado, os preços das bicicletas subiram 7,47% segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Este reajuste foi um dos responsáveis pela queda nas vendas.
Atualmente, as bicicletas dos modelos chamados “de entrada” custam de R$ 800 a R$ 2 mil. As “intermediárias” têm preços de R$ 2 mil a R$ 7 mil. Há ainda uma faixa de bicicletas de destaque de R$ 7 mil a R$ 15 mil e as consideradas “top de linha” custam acima de R$ 15 mil. As mais caras têm muitos componentes importados e geralmente são usadas para provas de velocidade.
“Bicicletas acima de R$ 10 mil representam 5% do nosso mercado. Se você fizer uma busca por preços, vai encontrar modelos de até R$ 150 mil. Mas são poucas unidades vendidas por ano. O grande volume ainda é das bicicletas de até R$ 2 mil e o segmento que tem mais crescido é o de intermediárias, exatamente por causa de uma mudança do perfil de ciclistas nos últimos anos. O ciclista mais tradicional, o trabalhador, acabou migrando para o mercado de motocicletas. Enquanto isso aumentou o número de ciclistas urbanos, mais da classe média, que acabam tendo um poder aquisitivo maior”, afirma Guth.
De fato, é possível encontrar bicicletas que custam mais de R$ 100 mil à venda no país. Na Bike Point, um modelo Pinarello Dogma sai por R$ 149.999. O interessado tem a opção de dividir sem juros no cartão de crédito, em 12 parcelas de R$ 12.499,92, ou com juros em 24 vezes de R$ 7.060,97.
Na descrição, a loja justifica que “sete dos últimos 11 Tours de France foram conquistados em um Dogma, e a última geração está agora pronta para continuar esse legado de sucesso”. A bicicleta é chamada de “uma obra-prima da engenharia que oferece avanços em manuseio, conforto e aerodinâmica, tudo em um pacote que pode subir, descer e correr com igual talento”.
Em Belo Horizonte, também é possível comprar bicicletas neste nível de preço. Na loja 79 Bikes, no bairro Estoril, Zona Oeste da cidade, um modelo Specialized Turbo Levo S-works sai por R$ 145 mil. Mas esta bike tem motor e é feita para pedalar em trilhas e nas montanhas.
Bicicletas elétricas
Pelo quinto ano consecutivo, o mercado de bicicletas elétricas bateu recorde no volume de vendas em 2022. A movimentação financeira gerada pelo segmento chegou a R$ 304,9 milhões, com crescimento de 5,4% em relação ao ano anterior. Os dados são da Aliança Bike.
Em números absolutos de bicicletas elétricas, o Brasil também registrou recorde. Foram 44.833 unidades produzidas e importadas em 2022. O dado representa um aumento de 9,64% em relação a 2021, que era o mais alto registrado até então. Mas apesar do crescimento, esse mercado ainda é muito pequeno no país.
“De todas as bicicletas vendidas no Brasil, as bikes elétricas representam apenas 1,5%. Na Colômbia, por exemplo, esse mercado representa 8% do total. Tem país na Europa que esse índice corresponde a 50%, ou seja, a cada duas bicicletas vendidas, uma é elétrica. No caso do Brasil, apesar desse mercado estar em crescimento, ele cresce muito abaixo do que a gente gostaria”, pondera o diretor da Aliança Bike.
Entre os principais motivos que impedem o mercado de bicicletas elétricas de prosperar ainda mais no país, Daniel Guth destaca a alta carga tributária, que encarece muito o preço do produto final, e a falta de infraestrutura.
“Eu acho que as cidades brasileiras ainda têm uma oferta muito baixa de infraestrutura para circulação em segurança, isso impacta especialmente no mercado de classe média, que hoje tem a capacidade de aquisição de uma bike elétrica. Mas o principal fator é o acesso. Só para você ter ideia, 85% do custo da bicicleta elétrica é imposto. Só o IPI é 35%. É mais alto do que o de whisky, bala para revólver, fogos de artifício, enfim, de produtos que podem fazer mal à saúde. É inacreditável”, critica.
Desde 2018, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços analisa uma demanda do setor, pedindo para igualar o IPI das bikes elétricas com os das bicicletas comuns, que é de 10%. Mas ainda não há uma definição.
Outra dificuldade do mercado de bicicletas elétricas é a falta de crédito para facilitar a compra. Muitas vezes, o interessado acaba optando em levar uma moto, pois consegue financiamento de forma muito mais fácil.
Em relação aos preços, há várias opções a partir de R$ 3 mil. Mas o diretor do Aliança Bike recomenda ao ciclista gastar um pouco mais para levar um produto que terá uma durabilidade bem maior.
“O tíquete médio de uma bike elétrica de qualidade é próximo de R$ 10 mil. Tem bicicleta de R$ 3 mil, R$ 4 mil, mas a experiência será bem diferente, pois elas têm uma autonomia de 25 quilômetros, são bem mais pesadas, os componentes não são tão bons, vão demandar mais manutenção. Se você quer uma bicicleta elétrica, junte um pouco de dinheiro e gaste pelo menos uns R$ 7 mil”, explica.
As bicicletas elétricas na faixa de preço de R$ 10 mil rodam cerca de 80 quilômetros com o motor acionado. Todos os modelos são fáceis de carregar e dependem apenas de uma tomada simples, ao contrário dos carros elétricos, que necessitam de uma infraestrutura especial para o carregamento.
Bicicleta mais cara do mundo custa R$ 5 milhões
A Mountain Bike 24k Gold Extreme, também conhecida como Edição Beverly Hills, é a bicicleta mais cara do mundo e custa US$ 1 milhão, o equivalente a R$ 5 milhões. O principal diferencial dela é o acabamento: a bike é toda coberta de ouro 24 quilates e tem o emblema da marca (THSG, as iniciais de The House of Solid Gold) desenhado a partir de 600 diamantes negros.
A bike tem ainda um selim (banco) feito de couro de jacaré. Até a garrafinha de água é luxuosa, feita com diamantes negros e safiras douradas.
Mas é claro que a bike também tem acessórios especiais, como o câmbio Shimano XTR de 10 velocidades e freios a disco Avid. Como base de comparação, a Mountain Bike 24k Gold Extreme tem o mesmo preço da McLaren 765LT, um dos carros mais velozes vendidos no Brasil, que atinge 330 km/h.
A segunda colocada na lista de bicicletas mais caras do mundo é a Trek Madone Butterfly. Este nome foi escolhido porque a bike tem asas de borboletas reais na decoração do quadro e do aro. Ela custa US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões).
A terceira do ranking é a 24K Gold Racing Bike, que assim como a bicicleta mais cara, também é revestida a ouro e tem diamantes e pedras preciosas na composição. Ela custa US$ 400 mil (R$ 2 milhões).