Qual foi sua trajetória até se tornar youtuber e escritor?

Sempre tive o sonho de ficar rico. Então, quando fiz 18 anos, meus pais me deram um presente – eu entendo que pouca gente tem esse privilégio – de R$ 5.000. O que eles demoraram 18 anos para juntar eu levei uma semana para perder no mercado financeiro. Daí comecei a estudar muito, a tirar certificação de mercado, a ler sobre investimentos e, aos 19 anos, eu já tinha mais certificação profissional do que um gerente “private” de banco. Depois de passar por mais de dez empregos em um único ano, comecei cuidando do dinheiro de amigos e familiares. Com o tempo, comecei a cobrar por isso. Em sete a oito anos, cheguei a cuidar de mais de 5.000 investidores. Tinha um escritório com mais de 40 profissionais trabalhando comigo. Vendi a minha parcela na sociedade. Eu tinha 26 anos, atingi minha independência financeira, meu patrimônio rendia o suficiente para eu parar de trabalhar. Só que eu tive a liberdade de fazer o que de fato amava – o que eu amo é fazer as pessoas investirem, fazer o dinheiro trabalhar pelas pessoas.

Falta cultura de investimento no Brasil?

É que a gente tem uma defasagem muito grande em termos de conhecimento. A gente não poupa dinheiro para o futuro. Aqui no Brasil, menos de 4% da população poupa para a aposentadoria, enquanto que em países mais desenvolvidos, como a Alemanha, a gente tem quase 60% da população fazendo isso. Então, eu precisei começar a ajudar as pessoas. Daí surgiu o projeto O Primo Rico, que é o canal do YouTube. E eu não comecei acertando. Com o passar do tempo, entendi o que as pessoas queriam ouvir.

E o que as pessoas querem ouvir?

É basicamente o seguinte: dá para investir com pouco dinheiro, dá para enriquecer rapidamente, e todos podem fazer isso. As pessoas querem se sentir inseridas, querem sentir que conseguem fazer isso, e não que alguém fez. Elas não querem saber como eu consegui minha independência financeira, querem fazer isso na realidade delas. Às vezes, é uma realidade de um salário mínimo. Sobra R$ 30 no mês para aplicar. Esse dinheiro não vai enriquecer ninguém, mas é um primeiro passo. Depois que a gente passou a produzir esse tipo de conteúdo, o número de inscritos saiu de zero para quase 1,6 milhão.

Quais os erros mais comuns?

As pessoas pensam que, se têm um problema financeiro, a solução é: “Ah, seu eu tivesse mais dinheiro, teria meus problemas resolvidos”. A gente esquece que mais dinheiro não resolve nossos problemas. Você vÊ jogadores de futebol que ganham muito e quebram, ganhadores de prêmios de reality show que quebram. O segredo não é o quanto você ganha, e sim o quanto você gasta. E quando a gente entende isso, pensa: “Preciso gastar menos”. Não, você você precisa é gastar bem o seu dinheiro. Não adianta cortar tudo o que nos dá prazer, isso é economia burra, eu diria. Às vezes, cortar gastos de alto impacto, como a compra de um imóvel da forma incorreta, uma viagem parcelada em 12 vezes, um carro financiado em 60 meses, pode ser a diferença entre enriquecer ou não. Um dos principais erros das pessoas é esquerer cortar todos os gastos, inclusive o que lhes dá prazer.

Falta educação financeira para os brasileiros?

Com certeza. A gente sai da escola sabendo o nome de uma ponte na China, mas não sabe o que fazer com o dinheiro. Muitas pessoas só se aventuram no mundo das profissões porque querem ter dinheiro. Só que a escola esquece de nos ensinar sobre isso. Eu, quando atingi a independência financeira, tive um estalo na minha vida pelo qual eu gostaria que todos passassem, que é a liberdade para fazer o que você ama e ser quem você é. Porque se não há dinheiro suficiente, você não pode ser você de verdade, vira escravo da sua vida. E tudo isso porque ninguém nos ensinou sobre dinheiro. Precisamos aprender por nós mesmos.

Como lidar com o emocional e as finanças?

A gente precisa ter consciência do impacto que isso traz para nossa vida. Por exemplo, se uma pessoa deixar de comer no (restaurante) italiano toda semana, poderia comer na Itália uma vez ao ano. Então, por que as pessoas não conseguem? É que elas querem antecipar os sonhos. Se você fez tem 18 anos, quer ter sua casa própria, então financia em 30 anos. Vai pagar juros. Você quer ter carro, mas não tem dinheiro e financia em 60 meses: paga juros. Trabalha o ano inteiro e quer viajar porque merece; parcela a viagem em 12 vezes, volta e tem mais 11 parcelas: paga juros. Então, você vive os sonhos na hora errada. A gente sacia uma emoção imediata. Aí chega um momento em que não se consegue gerar mais riqueza e vive com ajuda de filho, de doações. Só 1% se aposenta com a mesma qualidade de vida.(...) Quando as pessoas me chamam de pão-duro, elas acham que eu abro mão do que gosto. É exatamente o contrário, estou guardando dinheiro para poder fazer o que eu gosto no momento correto. As pessoas precisam saber dizer não.

Quem está endividado deve fazer o quê?

A primeira coisa que não se deve fazer é fugir da dívida. O que se pode fazer é cortar gastos para sobrar mais dinheiro e começar a resolver esse problema, ou ganhar mais dinheiro. “Ah, mas eu trabalho muito, como faço?”, perguntam. Eu consegui, em quatro anos, ganhar R$ 194 mil fazendo renda extra. Comecei a trabalhar como bartender, garçom, a fazer bicos. Qualquer pessoa pode vender brigadeiro, qualquer pessoa pode passear com cachorro. Agora, se tiver a cabeça de fugir do problema, você nunca vai resolvê-lo. Não existe noticia boa, você não vai sair desse problema super legal, feliz e tranquilo. É melhor desequilibrar agora, por um curto espaço de tempo, do que passar a vida inteira desequilibrado. E, obviamente, levante todas as dívidas e faça um plano de pagamentos. Faça uma planilha, pegue um caderno e anote tudo. Se não mensura, você não melhora.

Como lidar com o cartão de crédito?

O cartão de crédito pode ser o maior vilão ou o maior herói da história. Se entrar no rotativo. Uma dívida de R$ 2.600 pode virar R$ 3 milhões em cinco anos. É maluco isso. Agora, se o cartão trabalhar a seu favor, você ganha dinheiro. Porque não tem coisa melhor do que comprar agora e só pagar daqui 30 dias. Se você fizer isso de forma disciplinada, vai poder ter seu dinheiro trabalhando por você durante 30 dias. Se você sempre pagar a fatura em dia, for associado a um programa de pontos e tiver uma disciplina, vai viajar todo ano de graça. É o que eu faço, porque tenho pontos acumulados. Mas isso só vai ser possível se você for disciplinado.

O que fazer hoje para ter uma boa situação financeira?

A pessoa precisa fugir dos padrões impostos pela sociedade, aquele padrão de estudar demais para ter um bom emprego, um bom salário e tirar férias uma vez por ano. Isso não vai te dar uma boa vida. Todas as pessoas que conheço com uma boa liberdade financeira fizeram o inverso. Elas não venderam a hora delas, elas agregaram valor, empreenderam. Puderam ser premiadas pelo resultado, não pelas horas trabalhadas. Quebre o padrão da sociedade, não seja um vendedor de horas, seja um criador de valor. Não trabalhe pelo salário, trabalhe pelo lucro. Não negligencie conhecimento, porque estudar sobre dinheiro vai te dar muito mais dinheiro do que estudar sobre uma profissão, sobre algo específico. E não deixe de investir, pois quem investe bem, pensando no longo prazo, enriquece no médio prazo. Quem só pensa no curto prazo vai empobrecer no médio e não vai ter uma vida saudável. Então, o grande segredo de tudo o que falei é escala. Tudo o que você fizer tem que ter escala. E não ache que porque você tem pouco dinheiro não vai conseguir.