CRESCIMENTO

Com mercado favorável ao trabalho híbrido, coworkings ampliam oferta em BH

Plataforma que conecta espaços compartilhados para profissionais estima aumento de 30% nesses estabelecimentos desde 2019

Por Simon Nascimento
Publicado em 25 de setembro de 2022 | 11:00
 
 
 
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Se para diversos segmentos da economia o período de restrições ao funcionamento na pandemia se tornou grande dor de cabeça, levando ao fechamento de milhares de empresas, um setor em específico acabou se fortalecendo em meio às restrições sanitárias em Belo Horizonte. Coworkings, que antes do surgimento da Covid-19 tinham presença tímida, estão expandindo o número de instalações na capital com o maior uso pela população a partir da adoção de formas de trabalho remota ou híbrida. 

Não há dados que indiquem maior abertura de espaços compartilhados para profissionais na metrópole em órgãos como o Sebrae e Jucemg. Entretanto, um levantamento feito pelo BeerOrCoffee, marketplace que conecta coworkings às empresas em todo o Brasil, contabilizou um aumento de 30% no número de espaços compartilhados que se cadastraram na plataforma desde 2019 somente em BH. Já nas reservas para uso dos coworkings, o crescimento foi de 103%, considerando o primeiro trimestre e o segundo trimestre deste ano. 

Ao todo, o marketplace observou um crescimento de 67% no total de usuários ativos na plataforma na capital, indicando o maior uso pela população. Em 2019, em censo feito pelo site Coworking Brasil, BH figurava entre a terceira capital do país com mais estabelecimentos do tipo: 64, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. E engana-se quem pensa que nestes espaços trabalham apenas profissionais autônomos, pequenas empresas e negócios mais ligados ao mundo corporativo. 

Em BH, os estabelecimentos já recebem consultórios clínicos, pequenas indústrias, produtores audiovisuais e até cursos. Um exemplo da variedade de nichos está no Okay Coworking, no bairro Castelo, na região da Pampulha. Flaviana Araújo abriu o espaço em 2016 e até 2019 manteve o negócio realizando eventos de networking entre empresas para atrair empresários. “Quando veio a pandemia as pessoas precisaram deixar seus espaços de trabalho, muitos vieram para região de bairro e quiseram conhecer, entender a proposta do coworking”, contou Araújo. 

Para ela, inclusive, a crise sanitária foi um divisor de águas. “No auge da pandemia a gente estava com o coworking lotado”, lembrou a gestora. Atualmente, ela tem tido ocupação satisfatória no Okay com a instalação de multinacionais e empresas diversas que transferiram o endereço profissional para a sede do coworking. Até mesmo a cozinha tem sido utilizada para gravações. Com uma demanda crescente, ela vai inaugurar, até o final do ano, um anexo para ampliar o número de salas, construir um estúdio para gravação de podcasts e um auditório com aparatos tecnológicos. 

“O empresário só precisa trazer a equipe dele. Os equipamentos, mobiliário, decoração, limpeza, cozinha compartilhada... tudo é disponibilizado por nós e com um trabalho muito bem desenvolvido com equipe de TI para sempre ter internet de qualidade”, frisou Flaviana que também oferece apoio administrativo a quem ocupa os espaços. Os preços para trabalhar nos espaços começam em R$ 55 e podem chegar a R $700 para reservas diárias e mensais em salas de trabalho. 

O gerente de marketing do BeerOrCoffee, Breno Barcellos, atestou que o crescimento do setor está sendo observado com a adesão de grandes empresas. Alguns exemplos de organizações que permitem aos trabalhadores cumprir as jornadas de trabalho em casa, no escritório e em coworkings estão iFood, Stellantis, XP Investimentos e Dock. Barcellos ressalta, que além da redução de custos para manutenção de estrutura física, empresários que já adotam os coworkings como opção aos funcionários afirmam que há benefícios na retenção de talentos e expansão das atividades. 

“O uso do coworking auxilia na criação de identidade e cultura empresarial. A partir do momento que a empresa adota o modelo remoto ou híbrido, é difícil uma pessoa se sentir geograficamente isolada. Só no Brasil são mais de 1.500 opções de escritório, com mais chance de trabalhar com alguém”, afirma Barcellos. “A flexibilidade passou a ser algo muito mais exigido por colaboradores que priorizam mais a flexibilidade do trabalho do que, por exemplo, ganhar um salário maior”, atestou o gestor de marketing. 

Novos empreendimentos em bairros 

Ao contrário do que se imagina, a presença dos coworkings não tem ficado restrita aos grandes centros comerciais e o crescimento do setor comprova a movimentação para se consolidar nos bairros. O engenheiro de produção Jorge Eduardo aproveitou o boom do mercado para investir na instalação do Conectar, espaço compartilhado localizado no bairro Santa Terezinha, também na região da Pampulha. 

Há um mês funcionando, ele já fechou contratos de ocupação anual de 50% das salas com empresas. Dentre elas, há até uma indústria de produção de prótese dentária. “Eu comecei a observar a dificuldade do pequeno empresário que quer empreender. Comecei a ver que é muito difícil começar uma estrutura física do zero, demanda muita grana”, destacou Jorge. Até o final do ano, ele planeja ter todas as salas reservadas, dentre elas consultórios e espaço para pilates, 

“Aqui é estresse zero. Completamente desvinculado daquela área comercial industrializada puxada, bater meta. Não tem isso. É muito bom ter profissionais de várias áreas, ver que o networking funciona e só tem a melhorar”, atesta. 

Uso diverso 

Outro exemplo de uso distinto observado em coworkings de BH do tradicional mercado corporativo é um projeto encabeçado pelo ator Guilherme Leicam. Com passagens pela TV Globo, ele estruturou no bairro Castelo, no Okay, o ‘Estúdio de Atores’. O objetivo é preparar profissionais, independente da relação ou interesse pela dramaturgia, para a produção midiática. 

O escritório foi centralizado no espaço compartilhado e há uma parceria com o Centro Universitário Una para uso de algumas dependências para as aulas. Leicam contou que a facilidade de ter uma estrutura administrativa, semelhante a de uma empresa convencional, é um facilitador. “Me conecto com outras empresas, há um sentimento de coletividade, todo mundo se ajudando. Eu já tive escritório pagando luz, ar condicionado, recepcionista. É um gasto muito grande”, contabilizou. 

P7 em operação 

Inaugurado em abril, o P7 Criativo, um hub destinado à economia criativa, já está abrigando empresas. Presidente do P7, Gustavo Macena afirma que cerca de 60 organizações já estão no prédio onde antes funcionava o Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) na Praça Sete. Melhorias estruturais e de softwares ainda seguem sendo realizadas. “O P7 tem seus quatro andares de coworking, mas tem centros de cultura, laboratórios e temos um andar para eventos”, afirmou Macena. 

Uma das empresas em fase de instalação no P7 Criativo é a Escola 42, voltada ao desenvolvimento de profissionais na área de softwares. “Estamos negociando ainda a contratação de outras grandes empresas porque essas são âncoras para puxar empresas menores e serem provedoras de solução e interação nesse ambiente”, acrescentou. Detalhes da estrutura podem ser acessados no site do hub

 

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