A combinação de carga tributária alta, preço de matéria-prima elevado e pesados encargos trabalhistas faz a construção civil brasileira ficar mais cara do que em outros países. Enquanto o metro quadrado de um imóvel luxuoso em Miami (EUA) custa cerca de R$ 8.000, em Ipanema, no Rio de Janeiro, o valor pode chegar a R$ 50 mil, segundo o presidente da MRV Engenharia, Rubens Menin. Em Lourdes, bairro nobre de Belo Horizonte, o preço do m² fica entre R$ 10 mil e R$ 12 mil, segundo o mercado.


Na noite de domingo Menin fez uma série de posts no Twitter reclamando do custo da construção no Brasil. "Se fizermos o índice Big Mac dos insumos da construção no mundo veremos que o real é a moeda mais valorizada, acompanhada maior carga tributária", postou. O índice Big Mac compara o preço do sanduíche em diversos países para sinalizar a situação do câmbio.


De acordo com Menin, o preço do aço e do cimento no Brasil é de 50% a 200% maior do que nos Estados Unidos, China e México. Ele escreveu que a construtora está relançando um empreendimento de luxo nos Estados Unidos no qual o metro quadrado custará a partir de R$ 7.500. O preço é metade do cobrado antes da crise de 2008, mas, ainda se os valores fossem mantidos, o imóvel seria mais barato do que no Brasil.


O vice-presidente da área de materiais, tecnologia e meio-ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-MG), Geraldo Jardim Linhares Júnior, diz que cada país tem a sua peculiaridade, mas confirma que os custos no Brasil são muito altos. Ele cita os custos trabalhistas. Somando encargos previstos em lei e benefícios garantidos nas convenções coletivas, os custos representam 180% do salário. "Se eu pago R$ 1.000 para um operário, ele custa R$ 2.800", afirma. Para obras populares, a mão de obra representa 50% do valor total do imóvel. Em construções de luxo, esse peso cai para 30%.


Terreno. Além do peso do chamado "custo Brasil", a escassez de áreas disponíveis e a nova lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte, que reduziu a área que pode ser construída em cada terreno, ajudam a elevar o preço final dos imóveis. "A produtividade é menor e o terreno está cada vez mais caro", diz o vice-presidente do Sinduscon-MG, Geraldo Linhares.


O professor da faculdade FGV/IBS, Paulo Pôrto, lembra ainda que as condições econômicas dos últimos anos também contribuiram para a alta dos preços dos imóveis. "Existe um aquecimento natural do mercado, provocado pelo aumento de renda, e também porque o país ficou atrativo para o investidor estrangeiro", explica. De acordo com ele, a tendência de aumento de preços ainda vai durar cerca de dois anos.

Preços dos imóveis de luxo

R$ 8.000
é o valor
médio cobrado pelo m² em Miami, nos Estados Unidos, depois da crise imobiliária

R$ 25 mil
custa
o m² de um imóvel de frente para o mar em Salvador, Recife ou Fortaleza

R$ 12 mil
é quanto
pode custar um metro quadrado em Lourdes, área nobre de BH

R$ 50 mil
é o preço
do m² mais valorizado do Brasil, localizado em Ipanema, no Rio de Janeiro