Consumo

Construtoras mudam o foco e venda de imóveis de luxo cresce

Comercialização de residências de padrões mais elevados subiu 25,7% de janeiro a setembro; construtoras mudam o foco para priorizar classes altas

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 15 de dezembro de 2019 | 03:09
 
 
 
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O Brasil tem um déficit habitacional recorde de 7,78 milhões de moradias. O número sugere que existe um mercado enorme de construção de casas para a baixa renda a ser explorado. Porém, quem vive um bom momento são as construtoras que atendem quem já tem onde morar. As vendas líquidas (diferença entre as comercializações e os distratos) de residências de padrões mais elevados subiram 25,7% de janeiro a setembro deste ano ante o mesmo período de 2018. Já o mesmo indicador de unidades do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) subiu apenas 6,9% na mesma base de comparação, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). 

Os lançamentos seguem a mesma tendência, com alta de 22,9% no médio e alto padrão e de 11,7% no MCMV, de acordo com os dados da mesma instituição. Cenário que se repete em Belo Horizonte, segundo o vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Renato Ferreira Machado Michel. “Em BH, a tendência é de alta no mercado imobiliário de um modo geral, mas as empresas que atendem as classes mais altas estão se sobressaindo”, afirma. 

A maior procura por imóveis de luxo tem levado a uma mudança nos investimentos das construtoras. Na Patrimar, por exemplo, que atende tanto a classe média quanto a alta (com imóveis de R$ 150 mil a R$ 10 milhões), o faturamento está cada vez mais atrelado às vendas de unidades de luxo. Segundo o diretor comercial e de marketing da construtora, Lucas Couto, entre 2010 e 2013, 60% dos ganhos da empresa eram provenientes do atendimento à classe média. Agora, 70% são vindos das vendas de alto padrão.

A construtora lançou três empreendimentos luxuosos neste ano, e, em todos eles, a velocidade de venda foi impressionante, segundo Couto. Em um deles, 93% das unidades foram comercializadas em um mês e meio. 

A construtora Conartes também está “surfando nessa onda” positiva. Segundo o diretor da empresa, José Francisco Cançado, eles já começam a desengavetar projetos de alto padrão, guardados desde o início da crise, em 2014. “Temos dois projetos que estavam sem perspectiva de lançamento, mas que já vamos vender no próximo ano”, comemora. São 88 unidades na faixa de R$ 2,5 milhões a R$ 5 milhões cada. 

"Em 2014, vimos nossas vendas caírem praticamente pela metade. Depois de virmos com resultados desanimadores, chegamos em 2019 com possibilidade de voltar aos patamares pré-crise”, afirma. 

 

Alto padrão em BH e Nova Lima
* Luxo.
Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), em agosto, foram vendidas 19 unidades de luxo em Belo Horizonte e em Nova Lima, na região metropolitana. Já em setembro, foram 41 – um crescimento de 116%.

* Acumulado. Ainda no segmento luxo, de janeiro a setembro deste ano, foram 224 vendas nos dois municípios.

* Superluxo. Além disso, foram vendidas 17 unidades de superluxo (acima de R$ 2 milhões) em setembro, enquanto em agosto tinham sido dez, um crescimento de 70% no período. No acumulado do ano, são 57 residências milionárias.

 

BH passa por processo de “elitização”

A pouca oferta de terrenos e os altos preços dos novos empreendimentos têm transformado Belo Horizonte em uma cidade cada vez mais elitista, alertam especialistas de mercado. “A população de classe média está sendo expulsa para as cidades vizinhas porque simplesmente não conseguem comprar um imóvel na capital. Não cabe no bolso dessa classe”, afirma o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Renato Ferreira Machado Michel.

Por outro lado, a classe A começa a migrar dos condomínios de luxo afastados para as regiões mais centrais de Belo Horizonte. Essas pessoas estão dispostas a pagar o que for preciso por uma melhor localização. “O preço está proibitivo para a classe média, e a classe A já percebeu que não precisa ficar distante para ter conforto, espaço e segurança”, explica o diretor técnico da PHV Engenharia, Marcos Paulo Alves de Sousa. Essa necessidade se converte em vendas. A empresa está com um novo projeto de R$ 8 milhões cada unidade. E, antes mesmo do lançamento, já vendeu metade dos apartamentos de altíssimo luxo.

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