A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou ontem, em nota, que está buscando, junto com a Vale, antecipar o fim da obra da nova captação de água no rio Paraopeba.
A Copasa retirava de lá parte da água que abastece a região metropolitana, mas teve que parar após o rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho, o que sobrecarregou o rio das Velhas.
Anteontem, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) declarou situação de escassez hídrica da bacia do Velhas e determinou restrições para retirada de água ao longo de 43 municípios mineiros.
A data estabelecida pela Justiça para a entrega do novo sistema de captação é setembro de 2020. A companhia não revelou para quando seria antecipada, mas declarou que as vazões do rio das Velhas estão “dentro do esperado”.
A Copasa informou ainda que, se necessário, a produção será complementada com a transferências de água de outros sistemas. Conforme a empresa, apesar da medida do Igam, ainda não há restrição ao abastecimento público.
De acordo com a Vale, as obras do novo ponto de captação de água no rio Paraopeba começam em outubro. O sistema será construído a cerca de 12 km da atual estrutura da Copasa, que está parada, e terá a mesma vazão, de 5.000 litros por segundo (L/s).
A água será transportada por meio de tubulação até a Estação de Tratamento de Água (ETA) de Rio Manso.
Preocupação
Ao contrário do que afirma a Copasa, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, diz que este é um dos momentos mais críticos da história.
“Quando chegava esse período, em outros anos, a Copasa afrouxava a demanda do Velhas. Atualmente, não temos essa margem, como um efeito colateral de Brumadinho”, disse Polignano.
Ele lembra que o rio é responsável por 70% do abastecimento da capital e por 41% do da região metropolitana.
Algumas cidades já se organizam. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sete Lagoas, na região Central, que capta água no rio das Velhas, está lançando uma campanha pelo consumo consciente.
Em Caeté, na região metropolitana, a prefeitura também fará ação semelhante. Segundo o município, o risco de desabastecimento vai depender da evolução das condições climáticas.
Falta água em bairros de BH
Apesar de a Copasa ter afirmado ontem que é cedo para dizer se haverá desabastecimento, rodízio ou racionamento, a própria companhia informou que o abastecimento de água foi interrompido em mais de 60 bairros da capital, em caráter emergencial.
O motivo seria o “alto consumo nos últimos dias de intenso calor”. A previsão era que o fornecimento fosse restabelecido à noite.
A Copasa afirmou que “está trabalhando para evitar o desabastecimento”, mas ressaltou a importância da colaboração da população, com medidas como tomar banhos rápidos e lavar o carro com balde de água em vez de mangueira.
Em Minas, 14 municípios atendidos pela Copasa estão em racionamento de água atualmente, como Belo Oriente, na região do Rio Doce, e Divisa Alegre, no Norte.
Entrevista com Marcus Vinícius Polignano, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas
O rio das Velhas está no limite de captação?
Este é um dos momentos mais críticos que o Velhas está vivendo, o rio está sendo sacrificado. Isso é efeito colateral do rompimento da barragem em Brumadinho, porque estamos retirando a carga máxima de água do rio das Velhas num período de estiagem.
O rio está passando aqui com vazão de 9 m³/s, e estamos tirando quase 7 m³/s, ou seja, está faltando água para o rio, e isso está fazendo com que ele chegue a Santo Hipólito com vazão mínima. O decreto coloca restrição na outorga e na captação de Santo Hipólito para cá, e isso inclui a região metropolitana.
Que impactos as restrições geram?
Há atividades de agricultores e empreendimentos de agronegócio que vão ser impactados diretamente, a restrição vale automaticamente para eles. Nós criamos um grupo para ver que medidas podemos tomar para evitar que haja uma restrição maior no caso do abastecimento humano.
Há problemas na qualidade da água?
Está faltando água no rio por uma série de deficiências de políticas públicas. Como nós não estamos protegendo as áreas de produção de água, estamos ocupando tudo, cada vez mais estamos ficando sem água. E a falta de água piora a qualidade.
Nós estamos com água verde, com cianobactérias, em grande parte do rio. Queremos, inclusive, alertar a população ribeirinha para não usar essa água esverdeada para tomar banho nem para dessedentação de animal.
Qual o papel da população nesse cenário?
A população deve colaborar reduzindo o consumo de água nas suas atividades diárias e industriais. Toda a previsão meteorológica que temos é que as chuvas vão chegar com força só no fim de outubro, e, até lá, temos uma travessia crítica para fazer.
E precisamos repensar toda a política pública em cima da bacia, evitar novos barramentos, ter segurança e garantir áreas de produção de água. Em Sabará, o rio das Velhas já foi navegável e só era possível atravessar de barco. Hoje, dá para atravessar a pé.