Analistas do mercado financeiro acreditam que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai reduzir a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, de 12,75% para 12,25% ao ano. A decisão sai no fim da tarde desta quarta-feira (1º/11).
A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) entende que o processo de flexibilização monetária, sinalizado pelo Copom, tem plenas condições de ocorrer, pois não houve modificações substanciais no balanço de riscos em relação à última reunião.
No entanto, o superintendente da Assessoria Econômica da ABBC, Everton Gonçalves, alerta que a situação da economia norte-americana pode levar o processo de queda dos juros no Brasil a sofrer uma desaceleração.
“O movimento de alta nas taxas longas nos EUA, por conta das preocupações com o elevado déficit público conjugado à perspectiva de um maior período com os juros básicos elevados, deve sustentar o dólar em patamar elevado no mercado de câmbio internacional. Consequentemente, há uma deterioração na aversão ao risco que gera pressão nos preços dos ativos de países emergentes que, em última instância, poderá comprometer a velocidade do processo de desinflação e, por sua vez, impor limites para a redução da taxa básica de juros”, justifica Gonçalves.
Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos, também aposta numa redução de 0,5 ponto percentual na taxa Selic.
“É pouco plausível que o veredito do Copom apresente novidades ou surpreenda o mercado. A autoridade monetária deverá reduzir a taxa Selic a 12,25% ao ano e nutrir a cautela presente nas comunicações mais recentes, enfatizando a incerteza externa, sobretudo a trajetória do juro norte-americano e o conflito geopolítico no Oriente Médio, e o ceticismo fiscal”, explica.
E na visão do analista da Acqua Vero Investimentos, o Banco Central poderia fortalecer o alerta sobre a importância do governo brasileiro conseguir alcançar o equilíbrio das contas públicas, “especialmente considerando a deterioração observada desde a última sexta-feira, em função dos comentários do presidente (Lula) deletérios à credibilidade do recém-aprovado arcabouço fiscal. Contudo, ambas as preocupações (juro EUA e fiscal doméstico) já estavam presentes nos ofícios relativos à reunião de setembro – ainda que tenham se intensificado – e, portanto, o BC pode ganhar tempo até dezembro, quando mais informações estarão disponíveis, ao manter a postura similar à anterior”, conclui van Moorsel.
O planejador financeiro Renan Suehasu, especialista em mercado de capitais e sócio da A7 Capital, também enxerga uma margem para a redução da Selic.
“Na minha visão, teremos um corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, como vem ocorrendo nas últimas reuniões do Copom. No comunicado, é esperado que o BC mantenha o discurso de uma ‘decisão compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025’. Pontos de atenção estarão direcionados para o cenário global, que segue monitorando uma possível persistência das pressões inflacionárias, além das tensões no Oriente Médio que podem acarretar na alta do petróleo”, avalia.
Segundo Suehasu, as declarações do presidente Lula sobre a meta fiscal só deverão ter impacto mais para frente. “Tivemos falas de Lula na semana passada sobre o fiscal que causam preocupações ao mercado e também ao BC. Mas o lado fiscal gera impactos mais a longo prazo, ou seja, movimenta as partes mais longas da curva de juros. O mercado, segundo o Focus (27/10), projeta que a Selic deve estacionar próximo dos 8,5% - 9%. Acredito que os impactos dessa fala podem elevar essas projeções para 9,5%, por exemplo, mas no curto prazo, a decisão do Copom para essa próxima reunião não deve mudar”.
Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, é mais uma analista que aposta na queda da taxa de juros. Mas segundo ela, os investidores devem ter cautela mesmo se a Selic cair.
“O mercado prevê corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião, levando a taxa Selic a 12,25%. Ainda assim a renda fixa continua interessante num cenário de tantas incertezas no mercado local e internacional, cada dia mais pressionado por questões geopolíticas como as guerras, todos esses fatores devem continuar pressionando os ativos de maior risco, deixando a renda fixa uma alternativa interessante como proteção”, avalia.
Lucca Ramos, sócio da One Investimentos, também tem a expectativa de um corte de 0,5 p.p. na taxa de juros, mas segundo ele, o mais importante será o posicionamento do Banco Central em relação aos próximos passos da economia brasileira.
“Nas últimas atas, eles deixaram bem claro que a gente teria cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual para as próximas reuniões, no plural. O que a gente tem que ficar bastante atento é se de fato eles vão colocar isso no plural na decisão de amanhã ou se vão colocar no singular”, explica.
Segundo Ramos, o banco pode sinalizar uma desaceleração na redução dos juros para os próximos meses. “Poderíamos reduzir esse pace de corte para o ano que vem, para janeiro, ou eventualmente até parar de cortar enquanto a situação nos Estados Unidos ainda não ficar mais clara”.
Para Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, as declarações de Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a dificuldade em alcançar a meta fiscal também podem afetar as decisões futuras do Banco Central.
“O mercado tem trabalhado com uma expectativa de corte na Selic de 0,5 p.p., esse é o padrão praticamente unânime. Alguns até cogitam a possibilidade de 0,75 p.p., mas neste momento, principalmente depois das falas do presidente Lula e do Haddad, com certeza a questão fiscal voltou a entrar no radar. Certamente isso deve estar no comunicado do Banco Central, que eles estão monitorando como é que está essa política de déficit zero, com as metas do governo para 2024. Se de fato houver risco de que a meta seja revisada para pior e que o governo não cumpra o déficit zero no ano de 2024, é possível que a gente comece a ver o Banco Central adotando uma postura um pouco mais conservadora”, argumenta Lourenço.
Se confirmada a redução nesta quarta-feira, os juros chegarão ao menor nível desde junho de 2022, quando estavam no mesmo patamar de 12,25%. Será a terceira redução seguida promovida pelo Copom.