O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (22) manter a taxa básica de juros (Selic) de 13,75%. Esta é a quinta manutenção seguida da Selic e a segunda reunião do ano para decidir o índice. A decisão foi tomada em meio aos ataques do governo federal aos altos juros.
O índice serve como base para todos os empréstimos bancários no país e, com juros em alta, menos empresas investem em novos projetos temendo o endividamento. Parlamentares, centrais sindicais e entidades diversas do país fazem coro à crítica de que a manutenção da taxa enfraquece a economia.
Ao contrário de expectativas do governo Lula e do mercado, em seu comunicado oficial, o Banco Central não sinalizou que deve abaixar as taxas no futuro. O BC enfatizou que pode até voltar a subir a Selic se julgar necessário. "Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação", destaca o comunicado.
Segundo Helio Augusto Berni, professor de economia do Ibmec, a decisão só reforçou a ideia que o BC está tentando transmitir para a economia de que tem como um de suas principais funções ser o guardião do poder de compra da moeda. “E, pra isso, ele tem que fazer acontecer o sistema de metas da inflação. Neste momento, a gente precisa ainda de uma taxa de juros mais alta para conter o aumento de preços no Brasil”, explica.
Para o economista, uma possível redução da Selic poderia até gerar um incentivo para que empresas invistam mais no país e consumidores voltem a comprar, mas o custo seria o retorno de altas taxas de inflação — que iriam corroer o poder de compra do brasileiro.
Berni lembra ainda que há outros fatores que influenciam na manutenção das taxas. Um deles é o risco Brasil. “Estamos num momento de governo novo, que ainda não deixou clara a sua política fiscal e o teto de gastos. Há um medo no mercado que o endividamento público suba muito”, detalha.
O outro fator, segundo o economista, são as altas taxas de juros praticadas nos Estados Unidos e Europa, que enfrentam uma inflação histórica. Nesta quarta-feira (22), o FED, banco central dos EUA, anunciou um aumento de 0,25 ponto percentual em sua taxa de juros.
Segundo o economista, o BC ainda precisa manter a Selic em 13,75% para equilibrar o diferencial de juros e não perder capitais para essas praças, o que poderia afetar a taxa de câmbio brasileira.
Entidades de Minas enxergam com preocupação manutenção da Selic em 13,75%
Segundo uma pesquisa divulgada em fevereiro pela MoneYou e a Infinity Asset Management, o Brasil é o país com a maior taxa de juros reais - descontada a inflação.
Leia o comunicado do Banco Central na íntegra:
Desde a reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom), o ambiente externo se deteriorou. Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente.
Na mesma linha, as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* elevaram-se para 5,8% em 2023 e para 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,2% em 2023 e 5,3% em 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, cuja projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,8%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023, 3,3% para o terceiro trimestre de 2024 e 3,0% para 2024. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
Por um lado, a recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Comitê avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.