Prejuízo

Coronavírus já impacta 70% das empresas do setor eletroeletrônico do Brasil

Indústria enfrenta problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos chineses; para setor de brinquedos brasileiro, momento é de oportunidade

Por Rafaela Mansur
Publicado em 09 de março de 2020 | 20:00
 
 
 
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Sete em cada dez empresas da indústria elétrica e eletrônica brasileira já enfrentam problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos chineses, devido ao surto de coronavírus. Os dados são da terceira sondagem realizada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), divulgada ontem, sobre o impacto da doença no setor, e indicam piora da situação – na última pesquisa, de 20 de fevereiro, 57% das empresas entrevistadas apontavam dificuldades. O desabastecimento ocorre, principalmente, em fabricantes de produtos de tecnologia da informação, como celulares e computadores.

Segundo a Abinee, 6% das empresas pesquisadas já operam com paralisação parcial de fábricas, e outras 14% programaram a medida para os próximos dias. Além disso, subiu de 17% para 21% o índice de indústrias que não devem atingir a produção prevista para o primeiro trimestre. Entre essas, o volume deve ficar, em média, 31% abaixo do projetado para o período.

O levantamento indica, ainda, que, caso a situação se prolongue por mais um mês e meio, há riscos na entrega do produto final para os clientes de 54% das empresas. “A situação revela nosso alto índice de vulnerabilidade em relação à importação de componentes. O país tem uma oportunidade de fazer reformas estruturais, como a tributária, que tornarão a produção nacional competitiva internacionalmente”, diz o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato. Segundo a entidade, do total de insumos do setor, cerca de 60% são importados, a maioria da China.

Impacto positivo. Enquanto alguns setores sofrem com a epidemia de coronavírus na China, outros veem nesse momento uma oportunidade. É o caso da indústria brasileira de brinquedos: atualmente, as fábricas nacionais são responsáveis por 52% dos produtos comercializados no país, e os chineses possuem 48% do mercado. Para o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Costa, diante da situação atual, o Brasil pode assumir 65% das vendas neste ano, gerando 10 mil empregos.

“A cada dia está ficando mais evidente que os chineses não conseguirão entregar os brinquedos da Semana da Criança a tempo. O ambiente industrial não se recupera da noite para o dia, e os sinais indicam que a indústria nacional pode ser beneficiada. A ociosidade das nossas fábricas está em torno de 55%, e, se houver pedidos, estamos prontos para atender e entregar”, afirma.

Para o setor calçadista de Nova Serrana, na região Centro-Oeste de Minas, o interesse por parte dos importadores já é visivelmente maior, segundo o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Ronaldo Lacerda. “Na Feira de Calçados de Nova Serrana, que acontece na próxima semana, a vinda deles está maior. Os negócios dos compradores de calçados continuam, eles têm de buscar outras alternativas, e Nova Serrana fabrica calçados de boa qualidade e com bom preço”, pontua.

Ele ressalta, contudo, um ponto negativo: a dificuldade no recebimento de matérias-primas oriundas da China. “Isso pode prejudicar a produção e ocasionar aumento de preços”.

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