As ações do Banco de Brasília (BRB) despencaram, nesta quinta-feira (4/9), um dia após o Banco Central (BC) rejeitar a negociação da instituição para compra do Banco Master. A decisão levou a um ‘alívio’ no mercado, conforme interlocutores ouvidos por O TEMPO, mas levou os papéis do BRB a serem negociados em queda de mais de 14% ao final da manhã.
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À tarde, as ações subiram um pouco, mas seguiram em declínio, de 3,25%, sendo cotadas a R$ 10,20. A reação ocorre horas após o Banco Central indeferir a compra do Banco Master pelo BRB. A operação estava avaliada em R$ 2 bilhões e chegou a receber aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em junho e autorização legislativa no Distrito Federal em agosto.
A aquisição previa que o BRB assumisse 49% das ações ordinárias, 100% das preferenciais e 58% do capital total do Banco Master, praticamente dobrando sua carteira de ativos. O movimento era tratado como estratégico pelo banco estatal para ampliar sua presença no mercado financeiro nacional, mas dependia do aval do BC como última etapa regulatória.
Apesar da negativa, tanto o BRB quanto o Master anunciaram que solicitaram acesso ao documento integral da decisão do BC para avaliar fundamentos e alternativas cabíveis. O Banco Central não divulgou os fundamentos da decisão. No mercado financeiro, interlocutores relataram alívio após a trava na negociação. “Era uma operação que desde o início gerava desconfiança ao mercado”, citou um agente de investimentos que terá a identidade preservada.
Ele argumentou que, historicamente, a operação do Banco Master, gerenciado por Daniel Vorcaro, gerou suspeitas no mercado. “Do lado do passivo, emitia CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) com taxas muito altas, que chamavam muita a atenção. A taxa de até 140% do CDI, por exemplo. E do lado dos ativos, o banco fazia investimentos de certa forma muito arriscados e alguns muito suspeitos. Então, quando veio esse anúncio, o mercado já olhava com desconfiança”, garantiu.
Um dos pontos de discordância com a operação do Master, segundo revelou o interlocutor, está ligado justamente ao empresário e dono do banco, Daniel Vorcaro. Natural de Belo Horizonte, ele possui participação em várias empresas de destaque, além de ser dono de cerca de 25% da SAF do Atlético. “É uma figura muito controversa, muitos preferem não fazer negócio com ele”, disse ao se referir a problemas de governança no Banco Master.
Para ele, a situação é complexa e a decisão do BC pode ter sido impactada pela assinatura de partidos, na Câmara dos Deputados, para tramitação de um projeto de lei que permite ao Congresso Nacional demitir presidentes e diretores do Banco Central. “Um movimento que o mercado também olhou com muita desconfiança”, acrescentou. “É uma situação bem complexa, e isso só mostra que, se o Banco Central negou, provavelmente, o buraco é até mais fundo do que o mercado já desconfia”, finalizou.