Em 2015, no segundo trimestre, o Brasil tinha 21,94 milhões de pessoas trabalhando por conta própria, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2019, são 24,14 milhões.
Nesses últimos quatro anos, o Brasil ganhou 2,2 milhões de autônomos. E, ao mesmo tempo, perdeu 2,9 milhões de beneficiários de planos de saúde. O cruzamento desses dados, que mostra o impacto da saúde no orçamento familiar, é apenas um dos reflexos que as mudanças econômicas estão impondo ao comportamento do consumidor.
O cenário de mais gente sem vínculo empregatício e salário fixo no final do mês trouxe para o setor de seguros um desafio: lançar novos produtos ou buscar novas maneiras de vender o que já existia.
O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Marcio Coriolano, avalia que, diante das profundas reformas estruturais e do avanço acelerado da economia digital, emerge um novo consumidor.
“Ele surge com novas preferências e um inédito protagonismo nas escolhas de consumo. Todos os mercados se adaptam a esse novo momento, que implica mudança de mentalidade, de modelos e de práticas dos negócios. Não é diferente para o seguro, segmento para o qual tecnologia e inovação tornaram-se essenciais para ampliar a participação do setor”, avalia Coriolano.
No caso da saúde, os novos tempos obrigaram o mercado a arranjar um jeito de ocupar uma lacuna de quem já não perdeu o emprego formal, está sem plano empresarial e não tem condições de pagar individualmente. As novidades ou releituras estão vindo com força no ramo de seguro de vida.
A Mapfre, por exemplo, lançou neste ano um seguro que cobre custos com internação. A mensalidade varia de R$ 15,90 a R$ 38,90 e a indenização pode chegar a R$ 1.000 por dia, dependendo do plano. A gerente de novos negócios Vida, Jaqueline Reis, explica que o grande público são os motoristas de aplicativos.
“Não substitui um plano de saúde, aliás, até complementa. Em caso de internação, o segurado recebe uma indenização, mas não é um reembolso das despesas hospitalares. A pessoa pode usar livremente, como pagar medicamentos ou pode usar para pagar as próprias contas de casa, enquanto o profissional precisar ficar afastado, sem gerar renda”, explica Jaqueline.
A apólice do Diária de Internação Hospitalar (DIH) também inclui indenização por morte ou acidente.
A 99 fez uma parceria com a Amar Assist, que distribui esse seguro da Mapfre. “A adesão não é imposta ao motorista, mas é apresentada como um diferencial para fidelização. O produto é customizado, o que permite gerar proteção a um preço acessível para uma camada da população que é pouco bancarizada e não recebe uma oferta tradicional, como os profissionais liberais”, afirma o diretor comercial da Mapfre, Alex Dias.
Nicho
Com menos emprego formal, o empreendedorismo cresce e puxa os seguros. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), essa cobertura cresceu 4,5% de janeiro a agosto deste ano. As pequenas e médias empresas têm grande participação, por isso, a American Life lançou um produto para esse nicho.
Na prática, é parecido com o residencial, mas inclui outros serviços como reparos de emergência.
“Imagina a pessoa que investiu seu capital para abrir uma sorveteria e um equipamento estraga? Sem seguro, ela vai ficar com a dívida antiga, a nova e ainda não vai poder gerar renda enquanto não consertar”, explica o diretor comercial da seguradora, Francisco de Assis.
Planos de saúde
Mais de 70% da população do país não têm plano de saúde. E, entre os 47 milhões de brasileiros com algum tipo de cobertura, 80% têm planos empresariais, de acordo com a Agência Nacional e Saúde Suplementar (ANS). Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 61% das empresas que não oferecem o plano alegam o alto custo como motivo: ele responde por 13,1% da folha de pagamento.
No ano passado, o aumento médio foi de 10,1%, mais do que o dobro da inflação (3,75%).
Para encontrar soluções de barateamento, a CNI criou um grupo de discussão que já conta com 68 grandes empresas. “Precisamos contratar um sistema estruturado, de boa qualidade e de custo compatível com a promoção da saúde e a prevenção, controle e tratamento de doenças”, destaca o presidente Robson Andrade.
Nesse caminho, a integração da cobertura com programas de prevenção já tem alcançados bons resultados. Com o objetivo de conscientizar os beneficiários sobre o melhor uso e promover mais qualidade de vida, a Saúde Concierge oferece um serviço complementar ao plano para classificar o estado clínico das pessoas e propor ações de monitoramento em tempo real.
“Quem nos contrata é a empresa, mas com o foco no colaborador. Nosso plano de ações é voltado para garantir que aquela pessoa usufrua dos serviços que precisa e esteja amparado por nossa equipe profissional de saúde multidisciplinar e todos os benefícios da tecnologia para um acompanhamento remoto e em tempo real”, afirma a diretora executiva da Saúde Concierge, Tatiana Giatti.
Segundo ela, a implementação a classificação da complexidade dos casos, aliada às ações, proporcionou uma redução de 30% em sinistros de saúde entre os clientes. Em menos de um ano, o número de vidas cobertas saltou de 5.000 para 7.000.