Mesmo quando a pandemia passar, nada será como antes. Um em cada quatro negócios de comércio e serviços de Belo Horizonte não devem mais abrir as portas. 
“Estamos falando de uma previsão de 25% a 30% de empresas que não devem conseguir retomar as atividades, o que representa 10% da empregabilidade. E se comércio e serviços geram 1,5 milhão de empregos, estamos falando de 150 mil pessoas desempregadas na cidade”, estima o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva.

O Sindicato dos Lojistas de Belo Horizonte (Sindilojas-BH) calcula que das 35 mil lojas associadas da capital, pelo menos 5.000 não devem mais abrir as portas. “Com base nos números que temos até agora, acreditamos que cerca de 15% dos estabelecimentos não reabrirão, isso representa 20 mil empregos ameaçados”, afirma o presidente da entidade Nadim Donato.

Colocando os bares e restaurantes nessa conta, as previsões são ainda piores. “Até agora, 25% dos estabelecimentos já fecharam, mas acreditamos que, depois da pandemia, cerca de 35% a 40% podem não conseguir reabrir”, explica o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues.

Em números absolutos, já são 5.500 unidades que encerram os negócios definitivamente e mais de 35 mil pessoas demitidas na região metropolitana de Belo Horizonte. “Se os bares e restaurantes não tiverem autorização para voltar a funcionar, esse número de demissões no setor pode chegar a 60 mil ainda no mês de junho”, estima o presidente da Abrasel nacional, Paulo Solmucci.

Maria Célia Gomes, 56, já faz parte dessa estatística. Ela foi dispensada com outros cinco colegas do restaurante onde trabalhou por mais de dez anos. “É tudo muito triste. Na verdade, são famílias que ficaram sem a renda. Eu fico muito preocupada com minhas colegas, que têm filhos pequenos, torcendo para que tudo possa abrir logo, para que todos serem recontratados”, lamenta.

O dono do restaurante, que comprou o negócio há cinco anos, já decidiu que não reabrirá mais. Ainda no mês de março, quando veio o decreto da Prefeitura de Belo Horizonte, determinando o fechamento, Marcelo de Lima Rodrigues, 52, colocou tudo na ponta do lápis e concluiu que, mesmo quando os bares e restaurantes puderem voltar, os pequenos estabelecimentos enfrentariam dificuldades para respeitar as medidas de segurança.

“Levamos tudo em consideração e vimos que o custo operacional tornaria o negócio inviável pós-pandemia. A decisão matemática era fácil. Difícil mesmo foi a decisão que envolvia as pessoas que estavam conosco desde o começo, porque quando a gente demite alguém, é como demitir a família inteira, que não vai poder contar com aquela renda”, lamenta Rodrigues. Ele fechou o Confluência, na Prudente de Morais, na região Centro-Sul, mas manteve o Paulista Grill, no Sion. “A intransigência do dono do imóvel, que não reduziu o valor do aluguel, foi preponderante para a decisão de fechar. No Paulista, eu consegui um desconto”, explica o empresário, que tem mantido apenas o delivery.

Falências crescem 30%

Para muitos, manter o negócio aberto já não é mais uma opção. Segundo estudo da Boa Vista SCPC, de abril para maio, os pedidos de falência aumentaram 30%. Nesse mesmo período, os pedidos de recuperação judicial cresceram 68,5%.


A aceleração das dificuldades em manter o negócio aberto é recente, o que reforça a relação com os estragos financeiros que a pandemia tem provocado. O estudo considera dados mensais colhidos em fóruns, varas de falências e “Diários Oficiais” e da Justiça dos Estados. 

 

Comércio quer projetos para retomada

Na última sexta-feira, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) decidiu suspender o processo de retomada do comércio na capital. A decisão foi baseada no aumento das transmissões da Covid-19. De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, a preocupação maior é com as vidas, mas já é possível planejar a retomada de outros setores com segurança.

“A realidade é que setores como shoppings, vestuário, bares e restaurantes terão impacto muito forte. A gente vê outros Estados reabrindo esses setores, com protocolos e acreditamos que temos condições de fazer isso acontecer. Temos que sentar, testar propostas, fazer projetos, pois estamos preocupados que a consequência econômica possa ser pior do que a da saúde”, ressalta. Ele afirma ainda que, neste momento, a articulação do poder público é fundamental, para fazer com que linhas de crédito cheguem aos micro e pequenos empresários.