Moradia

Demanda por aluguel perto da PUC e da UFMG cresce, e interessados fazem fila

Outros bairros, mais distantes, começam a ganhar terreno em função da escassez

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 02 de maio de 2022 | 13:04
 
 
 
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Após dois anos de aulas remotas acompanhadas por estudantes de outras  cidades mineiras e Estados, os campi da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da PUC Minas voltaram a se encher, com o retorno das aulas presenciais, em caráter obrigatório. O fluxo de aluguéis de começo de semestre letivo é tradicionalmente alto, mas corretoras atestam que neste ano está mais intenso, após o período de baixa demanda da pandemia, com déficit de apartamentos nos bairros próximos às universidades, e dezenas de pessoas na fila de espera. 

Victória Rocha, 25, saiu do Ceará para cursar o mestrado em veterinária na  UFMG. Com uma bolsa de estudos de R$ 1.500, ela se mudou com o namorado, um doutorando com direito a uma bolsa de R$ 2.200, sem benefícios adicionais. Encontrar um apartamento que coubesse no orçamento e não exigisse que eles ainda gastassem com transporte público foi demorado. 

“O que conseguimos foi o mais razoável, porque os outros estavam caros demais: R$ 1.300 só o aluguel, fora condomínio e IPTU, muitos sem nem armário. O preço compensou os ônibus que não precisamos pegar, porque aqui em BH não tem meia tarifa para estudante universitário, como em Fortaleza. Se o processo de seleção do mestrado não tivesse sido remoto, não sei se teria feito”, conta Victória Rocha.

Corretor e professor do curso técnico em transações imobiliárias do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado de Minas Gerais 
(Sindimóveis-MG), Leandro Chaves relata que imobiliárias estão com até 60 pessoas na fila para conseguir um imóvel próximo às maiores universidades da capital. Com a dificuldade para encontrar apartamentos nas regiões ideais, outros bairros estão ganhando terreno, segundo ele.

“As pessoas têm aberto mais o leque. Quando se fala da PUC, não é mais só o Coração Eucarístico, mas João Pinheiro e Minas Brasil, por exemplo, que não são bairros com perfil de estudante, geralmente”, revela o corretor. 

Em um percurso pelos bairros Dona Clara, Ouro Preto e Engenho Nogueira, próximos à UFMG, a reportagem encontrou diversas placas de “Vende-se”, mas raras de “Aluga-se”. 

Procura por quartos se intensifica

Outro movimento que se intensificou neste semestre letivo foi o de aluguel de quartos diretamente com moradores, segundo o diretor do Sindimóveis, Ricardo Reis. “Os imóveis acabaram muito rápido, e algumas pessoas passaram a optar por quartos. Mas o aluguel de apartamentos não teve valorização acima do praticado antes da pandemia, e sim voltou a esse patamar, depois de uma baixa na época das aulas remotas”, afirma. Segundo Reis, 70% dos contratos de aluguel relacionados a estudantes da UFMG em sua imobiliária foram rescindidos nos dois primeiros anos da pandemia.

Preço de aluguel perto da UFMG subiu até R$ 400, diz imobiliária

Luis Bessa, sócio da imobiliária Vitrini, especializada em imóveis para a comunidade estudantil da UFMG, afirma ter havido aumento de 37% nos  preços em relação ao período anterior à pandemia: “O aluguel do apartamento básico, de 50 m² e dois quartos, custa de R$ 1.100 a R$ 
1.300, em média, e antes era R$ 850, R$ 900. Mas esse movimento de alta demanda é esperado neste período”.

Após sair de Barbacena e cogitar mudar-se para uma república, o estudante de engenharia metalúrgica e de materiais Otávio Rodrigues  conseguiu alugar o último apartamento disponível em uma imobiliária. 

“Eu estava em um grupo de vagas em repúblicas no Facebook, mas estavam muito cheias e apareciam mais vagas femininas do que masculinas. Por fim, pegamos o único apartamento que conseguimos por um preço razoável”, diz. O pai de Otávio, o policial aposentado Sérgio Rodrigues, 51, conta que começou a procura poucas semanas antes de as aulas na UFMG serem retomadas: “Ficamos na incerteza se teria aula presencial mesmo". 

Corretores de olho no segundo semestre

Tendo em vista o segundo semestre letivo, corretores de imóveis recomendam àqueles que precisem se mudar para perto das universidades que já entrem nas listas de espera e preparem a documentação para o contrato de aluguel. 

“Do jeito que o mercado está, quatro meses é o que a pessoa vai levar para encontrar um lugar do jeito que quer. E já esteja com toda a  documentação, como contracheque e documentos do fiador, porque, com as filas do tamanho que estão, as imobiliárias não vão segurar imóvel. A primeira pessoa que entregar os documentos terá prioridade na análise”, orienta o corretor e professor do Sindimóveis Leandro Chaves. 

O diretor do Sindimóveis, Ricardo Reis, frisa que o fechamento de contratos ficou mais ágil com adoção de processos como as assinaturas digitais durante a quarentena: “Minha empresa não trabalhava com isso antes. O processo era complicado, o fiador vinha do interior, tinha 
que reconhecer firma”.

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