Retomada

Em dia de alívio, dólar cai para R$ 5,097 e Bolsa sobe 2%

O otimismo devido aos estímulos dos EUA e da Europa no mercado e a alta do petróleo levaram à recuperação

Por Folhapress
Publicado em 19 de março de 2020 | 22:13
 
 
 
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O mercado financeiro viveu um dia de alívio nesta quinta-feira (19). Depois de atingir novo recorde nominal de R$ 5,20 na véspera, o dólar cedeu 1,99%, a R$ 5,0970.

O turismo caiu para R$ 5,3300 na venda. Em algumas casas de câmbio, chega a ser vendido a R$ 5,40.

Já a Bolsa brasileira subiu 2,15%, a 68.331 pontos depois de despencar 10,35% na quarta e acionar o sexto circuit breaker do mês. O movimento de recuperação é fruto do otimismo de investidores com estímulos dos governos americano e europeu e da alta do petróleo.

Nesta quinta, o Fed, banco central americano, estendeu o programa de empréstimo de dólares via contratos de swap de divisas ao Brasil. O Banco Central do Brasil tem até US$ 60 bilhões disponíveis por, até, seis meses.

A medida, que se estende a outros bancos centrais, visa dar liquidez ao mercado financeiro em um momento de stress com a crise do coronavírus.

Na mesma linha, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou noite de quarta (18) um programa de compras emergenciais de 750 bilhões de euros de títulos de dívida até o fim de 2020. A medida também incluirá dívidas da Grécia, que até estavam excluídas das compras de títulos pelo BCE devido à sua baixa classificação de crédito.

Na Inglaterra, o banco central local cortou juros de 0,25% para 0,1% ao ano para amenizar os efeitos econômicos do coronavírus. Esse é o segundo corte emergencial da autoridade em duas semanas. Antes da crise, a taxa estava a 0,75%, patamar estabelecido em setembro de 2018.

O banco também anunciou que vai aumentar programa de recompra de títulos de dívida do governo e de empresas para 645 bilhões de libras.

Outro alívio a investidores veio do presidente americano, Donald Trump, afirmou, em entrevista à imprensa, que apoia que o Estado americano compre fatias de companhias afetadas, por meio de ações.​

"Ajudaremos a indústria aérea. Ajudaremos a indústria de navios de cruzeiro. Provavelmente vamos ajudar a indústria hoteleira", disse o presidente.

Investimentos do governo americano em empresas públicas são raros, exceto no caso de resgates para salvar companhias e empregos em dificuldades.

O presidente também anunciou que pesquisadores dos Estados Unidos estudam o tratamento da Covid-19 com hidroxicloroquina, usada para tratar a malária, "com resultados preliminares muito encorajadores" e com losartana, remédio para pressão arterial.

Na terça, uma equipe francesa disse que os resultados iniciais de um teste de hidroxicloroquina com 24 pacientes mostrou que 25% dos que receberam o remédio ainda portavam o coronavírus depois de seis dias. Entre os que receberam o placebo, a taxa foi de 90%.

Especialistas dizem que pode demorar um ano ou mais para se preparar uma vacina preventiva, por isso tratamentos eficientes são necessários com urgência.

Trump também contribuiu para a recuperação do mercado ao anunciar que vai intervir na disputa de preços entre Arábia Saudita e Rússia "no momento apropriado". Além disso, o Departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou que serão comprados 30 milhões de barris de petróleo para a Reserva Estratégica de Petróleo do país.

Os anúncios fizeram a cotação do petróleo WTI, referência nos EUA, ter a maior alta diária da história, subindo 23,8%, a US$ 25,22. O barril de Brent teve alta de 14,4%, a US$ 28,47 depois de ir a mínima de 17 anos na terça.

O movimento fez as ações da Petrobras dispararem. As ações preferenciais (mais negociadas) da estatal subiram 11,24%, a R$ 12,21. As ordinárias (com direito a voto) tiveram alta de 15%, a R$ 12,71.

As principais Bolsas globais também tiveram um dia de recuperação. O índice Stoxx 50, que reúne as principais empresas da Europa, subiu 2,86%. Dow Jones teve alta de 0,95%, S&P 500, 0,47% e Nasdaq, 2,30%.

As maiores altas no mercado americano foram da Netflix, com ganhos de 7% e da Zoom, plataforma de videoconferências, que se valorizou 4,26%,

Na véspera, as Bolsas americanas apagaram os ganhos acumulados desde a posse do presidente Donald Trump em 2017 e, ​na semana passada, entraram no que os especialistas chamam de "bear market" (mercado do urso, numa tradução livre). Entre analistas financeiros, a figura do urso é uma alusão ao movimento do mercado que derruba o preço dos ativos. Uma Bolsa entra em bear market quando cai 20% abaixo do seu recorde recente.

O movimento de baixa reflete a expectativa de retração na economia devido a medidas para conter o coronavírus. Segundo projeção do JP Morgan, a economia dos EUA pode encolher 4% neste trimestre e 14% no próximo e no ano pode sofrer queda de 1,5%.

Para o Brasil, JPMorgan e Goldman Sachs preveem contração em todo o 2020. O JPMorgan projeta queda de 1,0% no PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, ante expectativa anterior de crescimento de 1,6%, com uma "profunda recessão" no primeiro semestre.

O banco espera retração de 3,5% da economia no primeiro trimestre deste ano ante os três meses anteriores (com ajuste sazonal), devido sobretudo ao golpe contra o PIB global e a temores do Covid-19 no país.

Já no segundo trimestre o JPMorgan calcula um tombo de 10%. Para a instituição, as medidas para conter o surto, junto com o aperto nas condições financeiras e uma recessão globais, terão um "papel crucial".

"Julgamos que o segundo trimestre poderia ser ainda pior, mas as medidas fiscais anunciadas por autoridades devem suavizar os efeitos", disse o banco em relatório.

O Goldman Sachs também cortou sua projeção para a economia em 2020, de expansão de 1,5% para contração de 0,9%.

"A combinação de demanda externa por bens e serviços em declínio, piora dos termos de troca, aperto significativo das condições financeiras domésticas e impacto econômico das medidas em rápida escalada para lidar com o surto de Covid-19 , dentro das fronteiras nacionais, nos levaram a revisar ainda mais para baixo nossas perspectivas para as economias da América Latina", disse o Goldman também em relatório.

O UBS baixou a 0,5% sua expectativa para o PIB brasileiro neste ano, depois de uma taxa já revisada para baixo de 1,3% (contra 2,1% antes).

Devido a medidas de contenção da Covid-19, o banco vê um cenário de contração de 0,1% no primeiro trimestre em relação ao último de 2019 e de 1,6% no segundo trimestre.

Na terça, o Santander Brasil reduziu sua projeção de 2% para 1% em 2020. A instituição espera queda nos dois primeiros trimestres, mas trabalha com uma recuperação no segundo semestre, em um cenário em que haveria retomada da atividade a partir do controle da propagação do vírus.

Com a retomada mais lenta, o banco revisou também a expectativa de crescimento de 2021, de 2,5% para 2%.

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