Em 2018, 378 pessoas solicitaram reconhecimento de situação de refúgio em Minas, mas apenas 50 deles foram empregados no Estado. Com o objetivo de aumentar a inserção dessa população no mercado de trabalho e auxiliar empresas nesse processo de integração, a plataforma Empresas com Refugiados foi lançada ontem em Belo Horizonte.
Fruto de parceria entre a Agência da ONU para Refugiados (Acnur) e a iniciativa Rede Brasil do Pacto Global, o serviço já ajudou cerca de 1.700 migrantes a se inserirem no mercado de trabalho brasileiro, reunindo 19 empresas parceiras.
O projeto foi inaugurado em São Paulo em maio de 2019 e chega a Minas Gerais ter sido anunciado no Paraná e no Amazonas. De acordo com o oficial da Acnur Paulo Sérgio de Almeida, o papel da iniciativa privada é fundamental para integrar essa população no país.
“Nossa grande expectativa é que o setor privado conheça essas pessoas. São profissionais com alto grau de formação, 34% tem nível superior, a maioria tem experiência profissional e é perfeitamente apta a trabalhar, inclusive legalmente”, explica Almeida.
Apesar dos números tímidos em Minas, o governo estadual quer reforçar sua política de acolhimento dessa população ainda no segundo semestre deste ano.
O subsecretário de Trabalho e Emprego do governo do Estado, Raphael Vasconcelos Amaral Rodrigues, explica que a reinserção dessas pessoas passa por vários setores do poder público e é desafiadora.
“Estamos mobilizando empresas, usando a estrutura do Sistema Nacional de Emprego (Sine) e conscientizando o setor privado”, diz Rodrigues.
O subsecretário ressalta que não há competição entre refugiados e o mercado interno no Estado, visto que muitas das vagas indicadas para essa população não são preenchidas por mineiros.
Mão dupla
“A maior gratificação é ver no rosto das pessoas que empregamos a felicidade por estarem trabalhando, de terem um pouco mais de integridade”, afirma Rejane Simões Cardoso, chefe do time de recrutamento da Accenture, multinacional especializada em tecnologia da informação e consultoria de gestão.
Desde 2017, a empresa tem 46 refugiados trabalhando em sua cadeia produtiva, 23 deles em Belo Horizonte. Ela afirma que, além do caráter humanitário, as contratações supriram necessidades da Accenture em seu projeto de expansão naquele ano, principalmente com vagas preenchidas por falantes nativos de espanhol.
Para empresário, diversidade é "investimento"
Desde 2011, João Marques Fonseca, sócio-fundador da Emdoc, consultora especializada na realocação de brasileiros no exterior, contratou mais de 600 refugiados e imigrantes para compor o corpo de funcionários dele.
O empresário afirma não se comover com “assistencialismo”, mas com “novas oportunidades de vida”. Segundo Fonseca, diversidade é investimento.
Ele conta que várias vezes conseguiu fechar negócios no exterior por causa da prática que tem de contratar refugiados e imigrantes. “Hoje, até para vender uma camiseta é preciso ter responsabilidade social. É um ‘ganha-ganha’, que dá lucro e funciona para a empresa”, afirma o fundador da Emdoc.
Além disso, Fonseca ressalta que contratar essa população pode ser uma oportunidade para o empresário, que além de atuar em causas humanitárias, absorve pessoas qualificadas. “Há muitos com formação avançada. Eles vem para o Brasil e não vamos aproveitá-los?”, questiona Fonseca.
Origens
São 11,2 mil pessoas reconhecidas como refugiadas no Brasil. A maior parte dessa população é síria, com 36% do total de abrigados, seguida pelos congoleses, que são 15%, e angolanos, com 9% do total.
Só em 2018, mil refugiados foram reconhecidos no país, e, no fim do ano, havia 80 mil solicitações pendentes de refúgio, com a maioria de solicitantes venezuelanos. Em Minas, 500 refugiados daquele país foram abrigados em 17 cidades do Estado.