A contratação ou manutenção dos maiores de 60 nas empresas traz vantagens não só para esses trabalhadores, mas para a equipe, na perspectiva da coordenadora de Educação Inclusiva do Senac, Juliana Gaudêncio. Se os mais jovens acrescentam dinamismo e destreza com a tecnologia, os profissionais mais velhos carregam mais experiência e preparo emocional, pontua ela.
“Empresas ainda pensam que a pessoa mais velha não tem nada a agregar, mas não levam em consideração a experiência que ela pode trazer e o engajamento e a criatividade que a interação entre as gerações provoca. Quando falamos em um público inclusivo, não é para cumprir cota, mas por acreditar em diferentes profissionais, olhar para a competência de alguém, e não para a idade dele”, pontua. Até agosto de 2021, as 225 matrículas de pessoas com mais de 60 anos para cursos gratuitos diversos já superou as de todo 2020, mas ainda não alcançaram o patamar de 2019, quando chegaram a 451.
A inclusão de idosos nos projetos do Senac começou com os cursos de informática básica, mas, hoje, estende-se a áreas diversas, e não há formação de turmas exclusivas para esse público, que se mescla aos demais. Na perspectiva da presidente do Conselho Municipal do Idoso de Belo Horizonte e coordenadora da Rede Cidadã, Fernanda Matos, a pandemia pode ter acelerado o conhecimento digital dos maiores de 60 – além disso, os jovens de hoje já estarão habituados às tecnologias quando envelhecerem.
“Um grande preconceito nas empresas é sobre a informática. Mas a pandemia trouxe a necessidade de idosos aprenderem a atuar com o digital para manter contatos, e eles ficaram muito mais ativos com a tecnologia”, destaca. “As funções podem ser renegociadas com as empresas. Um porteiro que trabalhava no turno da noite, por exemplo, pode não ter o mesmo desempenho quando envelhecer, mas, em vez de descartá-lo perto da aposentadoria, por que não o escalar em outra função?”, propõe.
Foi o que ocorreu com Iraci Pinto da Silva, 77, que não tem planos para parar de trabalhar. Ele era motorista da Loja Elétrica, empresa em que é funcionário há 46 anos, mas, após a pandemia, foi realocado para o almoxarifado. Está aposentado desde 1993, mas faz questão de manter a rotina laboral.
“Prefiro trabalhar, manter o convívio com os colegas que fiz ao longo desses anos todos. Se eu me afastar, vou sentir falta disso”, relata Iraci, que chegou a ficar afastado por algumas semanas durante a pandemia por ser grupo de risco.