Em um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em Minas Gerais no aplicativo de mensagem Telegram, membros recusam o resultado das eleições do segundo turno, apoiam os protestos dos caminhoneiros ao redor do país e pedem intervenção militar no resultado das urnas. O resultado das eleições foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no domingo (30) e consagrou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Derrotado, Bolsonaro não fez nenhuma declaração pública desde o anúncio do resultado.
Bolsonaristas criaram um grupo de mobilização por Estado, em que clamam por uma “paralisação geral”. Alguns usuários incentivam que os participantes contribuam com alimentos e outros itens básicos para ajudar os caminhoneiros. “Descubra onde estão se mobilizando na sua cidade e leve mantimentos”, diz uma mensagem. Ao mesmo tempo, falam em ir para a porta de quarteis pedir que o Exército intervenha contra o resultado das urnas. “Vamos à resistência civil, então!! Todos juntos, a hora é agora!!!!”, diz outra mensagem.
Uma arte compartilhada para anunciar outro grupo de Telegram em um grupo bolsonarista de WhatsApp em Uberlândia, ilustrada por soldados em marcha com uma marca d'água da bandeira do Brasil sobre eles, pede: “Intervenção militar já. Iremos todos para a [sic] ruas!!!”.
Algumas das lideranças dos caminhoneiros afirmam que não houve convocação oficial para protestos da categoria. O presidente do Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros, José Natan, diz que o fim do movimento depende de um posicionamento de Bolsonaro. “Assim que o presidente se manifestar sobre a derrota, acredito que isso vai passar. tudo depende do posicionamento do presidente da República. Ele deve falar alguma coisa. Perder faz parte do jogo, não é motivo para criar uma situação de revolta”, afirma o caminhoneiro, que mora em Belo Horizonte.
O diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), o caminhoneiro autônomo de Ijuí-RS Carlos Alberto Litti Dahmer, destaca que a ação dos profissionais paralisados é antidemocrática. "Vivenciamos uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos de não aceitação do resultado das urnas. Precisamos respeitar o que o povo decidiu nas urnas: a vitória de Luís Inácio Lula da Silva”, pontua.
Apoiadores de Bolsonaro no grupo de mobilização, entretanto, ignoram inclusive o próprio presidente. “Obrigada aos caminhoneiros. Vamos apoiá-los!!! Independente [sic] do que Bolsonaro falar. Pra cima, Brasil!”, diz uma mensagem. Em entrevista logo após seu último debate com Lula, que saiu vitorioso das eleições, Bolsonaro afirmou que respeitaria o resultado. “Não há a menor dúvida. Quem tiver mais voto leva. É isso que é democracia”, declarou, há quatro dias.
Artigo 142 não é aplicável ao cenário, diz advogado
Alguns dos apoiadores e manifestantes favoráveis a Bolsonaro destacam que o ato é uma forma de apoiar o presidente e candidato derrotado para que ele acione as Forças Armadas a pretexto de “restaurar a ordem”. O argumento da categoria faz referência ao artigo 142 da Constituição Federal. Para o doutor em Direito Constitucional Fernando Jayme, o pedido da categoria não deverá ser atendido, já que não existem justificativas, uma vez que o país não está em situação de anormalidade. "O artigo é válido para situações de extrema excepcionalidade, quando há uma ameaça, por exemplo, à República, à democracia e às instituições, o que definitivamente não aconteceu em momento algum", explicou.
Jayme pontua que as manifestações são legítimas e que o inconformismo com o resultado das urnas, já reconhecido pelas instituições, não podem argumentar esse pedido. "O resultado das urnas é incontestável. O inconformismo não leva a lugar algum", completou.