Dia das mulheres

Igualdade de gênero em chefias das empresas levará 257 anos

Hoje, mulheres ocupam apenas 26% dos cargos de gerência e só 13% estão em postos de chefia

Por Queila Ariadne e Tatiana Lagôa
Publicado em 08 de março de 2020 | 09:00
 
 
 
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Na Segunda Guerra Mundial, as mulheres dirigiram tanques, ambulâncias e assumiram o comando dos negócios deixados pelos maridos convocados. A época marcou o avanço feminino no mercado de trabalho. Hoje, 75 anos depois do fim do conflito, apenas um quarto dos cargos de alto comando das empresas brasileiras são ocupados por elas. Agora, a maior luta é pela igualdade. E de acordo com a pesquisa do Fórum Econômico Mundial (WEF), vencer essa batalha ainda pode demorar 257 anos.

Quanto maior é a hierarquia, menor a participação das mulheres. No Brasil, segundo a pesquisa “Panorama Mulher”, feita pela Talense em parceria com o Insper, em cargos de diretoria, elas são 26%. Mas, quando o posto é presidência, a participação delas cai pela metade.

Essa dificuldade de acesso aos escalões mais altos faz com que o país esteja na 92ª posição em uma lista do WEF que mede a igualdade de gênero em 153 países. “Temos uma meta mundial, que fazer com que as mulheres ocupem metade dos cargos de liderança até 2030. Mas, levando em conta a baixa velocidade em que essa mudança tem acontecido na última década, o esperado é que a igualdade aconteça daqui a mais de 200 anos”, afirma a consultora da ONU Mulheres Brasil, Maristella Iannuzzi.

Um levantamento feito pela reportagem de nas maiores empresas de capital aberto do Brasil mostrou que entre as dez primeiras, dos 166 cargos de alta cúpula, incluindo presidentes, vices e diretores executivos, apenas 20 são ocupados por mulheres, ou seja, 12%. Dos nove postos de comando da Petrobras, por exemplo, elas estão em dois. Das nove posições do alto escalão da Vale, apenas uma é feminina. E entre as 50 maiores empresas do país, sabe quantas delas têm uma mulher na presidência? Nenhuma.

Para se ter uma ideia, um estudo do Instituto Ethos mostrou que, de 2001 a 2010, a liderança feminina nos quadros executivos das empresas com sede no Brasil havia passado de 6% para 13,7%. Em 2015, último levantamento feito por eles, essa participação recuou para 13,6%. A mesma tendência é percebida em pesquisas mais atuais.

“Da mesma forma que o levantamento do Ethos, o nosso também mostra uma estagnação desse movimento de avanço profissional feminino. Em 2018, 15% das empresas tinham mulheres na presidência. Em 2019, passou a ser 13%”, afirma o coordenador da pesquisa Panorama Mulher, o economista Fernando Ribeiro Leite. 

E quanto mais profissional é a empresa, maior a desigualdade. Em grupos familiares, as mulheres tendem a ter um pouco mais de espaço do que naqueles de capital aberto.

Na contramão das estatísticas, Tatiana Mattos, 41, fez carreira na clínica Origen, especializada em fertilização. Ela entrou como estagiária de biologia, em 2006. Fez vários cursos, se formou em enfermagem e, hoje, abaixo dos dois donos do negócio, quem manda é ela, que assumiu o cargo de diretora administrativa há sete anos. “Eu sempre busquei conhecer todos os processos e tive a chance de crescer, pois aqui na clínica existe valorização”, conta. Das 45 pessoas da equipe coordenada por Tatiana, 90˜% são mulheres.

2,5 vezes é quanto aumenta a presença feminina nas lideranças quando a presidente é uma mulher 

Pouco esforço

O Brasil tem cerca de 20 milhões de empresas. Dessas, apenas 309 assinaram os chamados “Princípios de Empoderamento das Mulheres”, criado pela Organização das Nações Unidas em 2010 para equilibrar as relações profissionais entre homens e mulheres. No mundo, 2.400 se tornaram signatárias.

São sete princípios assinados por empresas como uma promessa de garantir igualdade de direitos”, explica a consultora da ONU Mulheres Brasil, Maristella Iannuzzi. Ela acredita que o desafio para o avanço da ação é a reprodução de uma cultura machista no mercado de trabalho. “Em um passado recente, as mulheres tinham que pedir autorização para trabalhar. Até aqui, seguimos um caminho difícil”, lembra.

Para a diretora-presidente da ArcelorMittal Sistemas, Kelly Christian Camelo Teixeira, 43, a trilha entre os bancos de uma escola pública e o atual cargo de chefia também foi árduo. Órfã de mãe aos 4 anos, criada pela avó e duas tias, ela teve que trabalhar e estudar muito para chegar onde chegou. O segredo, ela mesma conta: “Eu fui criada por mulheres fortes que me ensinaram desde cedo que tudo era possível”, afirma a diretora da empresa que se tornou signatária dos princípios da ONU na semana passada.

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