Mineração

Jequitinhonha vai responder por 85% do lítio produzido no Brasil

Planta na cidade de Itinga deve gerar 440 mil toneladas até 2022, e principal destino será a China

Por Rafaela Mansur
Publicado em 11 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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A produção de concentrado de lítio da Sigma Mineração, no Vale do Jequitinhonha, que deve chegar a 440 mil toneladas por ano, vai corresponder a cerca de 85% do mercado nacional. A China será o principal consumidor da planta, que começará a ser construída no primeiro trimestre do próximo ano, em Itinga, já com planos de verticalização: o objetivo é produzir, no futuro, carbonato ou hidróxido de lítio, a primeira fase da fabricação de baterias.

A estimativa de investimento é de R$ 500 milhões no projeto. Na primeira etapa, após a inauguração, em meados de 2021, serão produzidas 220 mil toneladas de concentrado de lítio por ano, o equivalente a 70% da produção nacional, segundo o diretor de sustentabilidade da Sigma, Itamar Resende. “Logo que concluirmos a primeira fase, com o processo já estabilizado e o mercado sendo atendido, havendo espaço para expansão, vamos imediatamente trabalhar para 440 mil toneladas por ano. Calculamos que em um ano, no máximo, vamos iniciar a segunda fase”, afirmou, em entrevista concedida durante a Exposibram, no Expominas, na capital mineira. “Dessa forma, a empresa se posiciona como uma das principais fornecedoras de concentrado de lítio do mercado mundial”, disse Resende.

A Sigma já obteve as licenças prévia e de instalação e, atualmente, está executando a parte de engenharia detalhada e buscando financiamento. A companhia firmou um acordo com a japonesa Mitsui, que vai ficar com um terço da produção anual e aportou US$ 30 milhões, que permitem o início da implantação do projeto. “Para complementar, estamos trabalhando em outras frentes de financiamento, estimamos US$ 90 milhões na primeira fase”, disse Resende.

Trabalho

Cerca de 500 empregos diretos devem ser gerados na etapa inicial, e, na segunda, mais 250, aproximadamente. Segundo o diretor, a mão de obra local será priorizada. Estimativas de mercado apontam que os recursos aplicados na planta devem alcançar R$ 1 bilhão, considerando os aportes previstos de terceirizadas. “Uma empresa como a nossa sempre atrai um grande número de atividades indiretas. Estimamos que, a cada funcionário direto, teremos pelo menos sete indiretos. Isso significa uma mudança muito grande no Jequitinhonha”, diz.

Segundo ele, a verticalização da produção é um objetivo da Sigma. “O grande sonho não só da nossa empresa, mas de todos os produtores de concentrado de lítio no Brasil, é chegar pelo menos na primeira fase do processo da fabricação da bateria, que é a produção do carbonato ou hidróxido de lítio, mas o próximo passo é ter uma mina bem-feita, capaz de produzir quantidade e qualidade com longevidade e competitividade”, afirma. Ele diz que as reservas que a Sigma possui atualmente, em Itinga e Araçuaí, são suficientes para cerca de 20 anos, mas novas reservas serão pesquisadas.

O mercado chinês, abastecido especialmente pela Austrália, será o principal destino da produção, devido aos incentivos dados aos veículos elétricos. Segundo Resende, a China tem 176 produtores do modelo.

Refino e distribuição não compensam o custo, diz Castello

O plano de desinvestimento da Petrobras realizou até agora um total de US$ 15,3 bilhões, de acordo com o presidente da empresa, Roberto Castello Branco. O executivo também participou nesta terça-feira (10) da Exposibram, em Belo Horizonte. Os recursos, segundo Castello Branco, serão alocados para ativos que têm a estatal com dona natural, onde os retornos são mais elevados, e pagamento de dívida, hoje em US$ 101 bilhões.

“O que representa três vezes o fluxo de caixa anual”, frisou o presidente da empresa. “Estamos ficando na produção de petróleo e gás em áreas profundas, onde a Petrobras é líder global de tecnologia e capital humano, e estamos desinvestindo em campos maduros, águas rasas, terrestres, ativos de logística e no chamado ‘down stream’, parte do refino e distribuição de combustível e gás natural, cujos retornos não são compatíveis com nosso custo de capital”, disse Castello Branco.

O executivo disse que as mudanças na empresa criarão três indústrias no país. “De refino, atualmente uma empresa só controla 98% da capacidade de refino no Brasil. Vamos ter vários produtores, entre eles, de forma relevante, a Petrobras”, complementou Castello Branco.

A outra indústria a ser criada, conforme o presidente da estatal, é a de petróleo em águas rasas e planos terrestres. A terceira, de transporte e distribuição de gás natural. Sem citar prazos para privatizações, Castello Branco disse que, em 2022, a Petrobras será uma empresa melhor, “menos endividada”. (Com agência)

‘Ferro é de milhões de toneladas, novos mercados são de quilos’

O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) lançou, durante a Exposibram, um guia de boas práticas de gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeitos. Segundo o diretor de meio ambiente do instituto, Rinaldo Mancin, o rompimento do barramento da Vale, em Brumadinho, na região metropolitana, mudou a forma como as mineradoras trabalham.

“Há um movimento global de um novo padrão de segurança. Sem dúvida, vamos ter um ambiente mais seguro”, diz.

Segundo ele, apesar da tragédia, o setor está reagindo. Nesta terça-feira, houve um painel sobre tendências da mineração, com participação da Sigma. “Estamos acostumados com milhões de toneladas de minério de ferro. Esses novos mercados são de quilos, um valor muito pequeno, mas é uma belíssima oportunidade para Minas”, afirmou, sobre o lítio no Jequitinhonha.

Concorrência

Mercado. Além da Sigma, a AMG Mineração tem o Projeto Lítio, no complexo industrial da mina de Volta Grande, na Zona da Mata, e uma fábrica em São João del Rei.

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